TETÃ RIBEIRO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Narrado por uma protagonista sem nome, que se esconde atrás dos arbustos no quintal de sua casa para espiar dentro dela, “Morra, Amor” é o romance de estreia da escritora argentina Ariana Harwicz, 42, e seu primeiro livro traduzido para o português.

Lançado em 2012 como “Matate, Amor”, o romance conta a história de uma mulher estrangeira que mora no interior da França com o marido, francês, e um bebê. Para ela, o casamento, a solidão e a maternidade são ingredientes de uma bomba-relógio emocional.

Ela deseja acabar com toda essa vida que a aprisiona e a bota à beira de um ataque de nervos, mas ao mesmo tempo continua fazendo seu papel de esposa e mãe. Pensa em matar pai e filho e se ressente de todas as tarefas domésticas que cumpre, da amamentação, das interações com o marido –que aceita seu comportamento cada vez mais estranho.

Dona de uma libido também selvagem, a personagem trai o marido sem muita preocupação em esconder o fato. Comporta-se mal em encontros de família e sonha ter a coragem de seu vizinho, pai de sete filhos, que meteu uma bala de espingarda na cabeça em uma noite de Natal.

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Como a personagem, a escritora também mora no interior da França com seu marido francês, mas tem dois filhos ao invés de um. Quão autobiográfico seria o texto? “A biografia de um autor é a sua obra e não o contrário, a obra é a verdade da vida e não a vida a da obra. ‘Morra, Amor’ é todo verdade, não porque seja autobiográfico, mas por razões literárias”, diz ela à Folha de S.Paulo.

A versão em inglês do livro foi indicada ao Man Booker International em 2018. E já foi adaptado para o teatro na Argentina, na Espanha e em Israel. “Venho do cinema e da dramaturgia e acredito que a forma do livro funcione também como uma obra de teatro, por isso acho que a adaptação tenha sido fácil, o livro já apontava a obra. Trabalhei na adaptação na Argentina, fiz parte do processo criativo”, diz a autora.

Ela conta que recebeu uma ligação de uma produtora que quer adaptar ‘Morra, Amor’ para o teatro no Brasil. “Será um projeto bonito e selvagem”, afirmou.

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Harwicz acredita que o casamento e a maternidade, da maneira como são pensados nesta época e na sociedade de consumo, podem levar homens e mulheres à loucura. “Os selos, a monogamia, a maternidade, os imperativos sociais enlouquecem. Tudo que nos obriga a renunciar à própria verdade acaba levando à loucura.”

Sem grandes digressões, a prosa de Harwicz é feita de frases curtas, que vão direto ao ponto. Sua protagonista conta de maneira urgente e cortante os pensamentos que passam pela sua cabeça e os atos cada vez mais violentos que começa a cometer.

“A personagem está cheia de contradições, e quer e não quer viver essa vida. Sem essa luta, não haveria drama. A maternidade é um tabu porque é insuportável admitir que é possível não amar um filho, é possível inclusive desejar-lhe o mal”, diz.

Ela conta que o estilo rápido da narrativa não foi planejado, e aconteceu naturalmente no processo de escrita do romance. “O tom de uma escrita, a gramática que ela arma e que fabrica a música de um livro é intencional e não intencional, na medida em que não foi arbitrária, mas também não foi programada. Quando o escrevi, não estava consciente de sua velocidade. As transgressões forçaram a sua forma.”

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“Morra, Amor” faz parte de uma trilogia involuntária sobre a paixão erótica e a maternidade, junto com os dois livros que Harwicz escreveu em seguida, “La Débil Mental” (a débil mental) e “Precoz” (precoce).

Segundo Silvio Testa, diretor editorial da Instante, casa de “Morra, Amor”, os títulos devem ser lançados em português nos dois próximos anos –o primeiro em 2020 e o segundo, em 2021.

São Mateus-ES

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