Para a satisfação do antecessor, Zanoni Demettino Castro foi escolhido para ser o sucessor de Dom Aldo Gerna, que desejava um bispo negro no comando da Diocese de São Mateus –e também da Igreja Católica em todo o mundo. O baiano Zanoni chegou ao Vale do Cricaré, no fim de 2007, com a experiência de atuação paroquial e como vigário-geral e administrador da então vacante Diocese de Vitória da Conquista, além de professor de Teologia Dogmática e de Doutrina Social da Igreja. Naquele momento, já estava também consolidado como liderança entre os presbíteros do Regional Nordeste III da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Em entrevista por telefone à Rede TC, durante encontro regional de bispos em Salvador (BA), o atual arcebispo de Feira de Santana e referencial da Pastoral Afrobrasileira na CNBB destacou que a Diocese de São Mateus chega aos 60 anos como uma “Igreja viva, com protagonismo do cristão leigo”. Ele identifica uma fisionomia própria, consolidada pela formatação de uma rede de comunidades atuantes e em diálogo com a sociedade do norte capixaba. Seu principal legado, assumido inclusive pelo sucessor Dom Paulo Bosi Dal’bó, foram as Santas Missões Populares, “para dar uma mexida, envolvendo todas as forças vivas, os ministros da Igreja”.
A ENTREVISTA
Rede TC de Comunicações – O que diferencia a Igreja Particular de São Mateus?
Dom Zanoni Demettino Castro – Toda Igreja é peculiar e tem sua fisionomia própria. A Igreja de São Mateus é marcada pela sua vitalidade, por sua rede de comunidades. É uma Igreja viva com protagonismo do cristão leigo. É uma Igreja sustentável, que se libertou de taxas, de cobranças, que se mantém com o dízimo. É uma Igreja presente em toda a realidade, em todo o território. É uma Igreja que tem uma presença significativa no diálogo com a sociedade, com o mundo. Expressa muito o espírito do Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellín, como Igreja-Povo de Deus e com esse protagonismo.
Rede TC – O que o senhor destaca no período em que esteve à frente da Diocese de São Mateus?
Dom Zanoni – Eu me empenhei seriamente com a realização do projeto ambicioso das Santas Missões Populares, para dar uma mexida, envolvendo todas as forças vivas, os ministros da Igreja.
Rede TC – Que legado o senhor levou do norte do Espírito Santo para a nova missão na Arquidiocese de Feira de Santana?
Dom Zanoni – Aprendi muito com a Igreja no Espírito Santo, principalmente com a Igreja em São Mateus, essa Igreja-Povo, não só culto, não apenas hierarquia, mas, como falei, uma Igreja-Povo de Deus, com protagonismo de leigos, a serviço da caridade.
Rede TC – Dom Zanoni, o senhor tem atuação destacada nas questões sociais, principalmente na causa do povo negro, que é maioria no Brasil e também no norte do Espírito Santo. O que falta para avançar na igualdade, inclusive na questão racial?
Dom Zanoni – A missão da Igreja é sobretudo evangelizar. Evangelizar é dar notícia boa, a mensagem de Jesus, caminho, verdade e vida às pessoas. Pra dar mensagem boa é preciso ter presente a vida das pessoas, a concretude da sua existência. Ter em nossa memória, em nossa compreensão, em nossa visão, os sofrimentos, as alegrias, as esperanças do povo. Evangelizar é ter presente a realidade do povo negro, do povo sofrido, da gente pobre. O caminho da Igreja passa pelo serviço, pela preocupação com os outros. É esta a causa de Jesus, que passou a vida fazendo o bem.
O BISPO
Prestes a completar duas décadas de sacerdócio, Zanoni Demettino Castro foi nomeado pelo Papa Bento XVI para ser o terceiro bispo de São Mateus, aos 45 de idade. Sagrado bispo no dia 24 de novembro de 2007, na cidade natal de Vitória da Conquista (BA), assumiu a Diocese de São Mateus em 15 de dezembro do mesmo, com o lema Eis-me, envia-me, numa tarde de festa e muitas expectativas em torno do bispo negro na Catedral.
Após sete anos à frente da Diocese de São Mateus, no dia 3 de dezembro de 2014 dom Zanoni foi nomeado arcebispo-coadjutor de Feira de Santana (BA), onde tomou posse no dia 6 de fevereiro de 2015. Filho de Gildo Barbosa de Castro e Valdelice Demettino Castro, Zanoni nasceu em 23 de janeiro de 1962.
