Os últimos segundos até o reencontro pareciam intermináveis. Cada pessoa que apontava na porta do ônibus elevava a expectativa de Ana de Almeida Pereira Silva, de 65 anos, que aguardava com muita ansiedade pelo desembarque da irmã Maria da Penha Pereira, de 56. A última vez que elas se viram foi há 42 anos, quando a irmã, ainda adolescente, mudou-se com os pais para a capital Vitória. Ana tinha acabado ter a primeira filha do casamento e ainda estava de resguardo. Depois disso, elas enfrentaram uma longa procura, com muitos desencontros, até o abraço apertado na rodoviária de São Mateus, nesta quinta-feira (18), que esperou mais de quatro décadas para ser dado.

“Pedi a Deus para apagar as lembranças da minha memória, mas agora o sofrimento acabou”, comemora Maria da Penha. “É o meu presente de aniversário”, disse Ana Pereira, que completa 57 anos, conforme disse, no dia 22. E para matar muito as saudades, Ana preparou um farto almoço para receber a irmã na casa dela, no Bairro Ayrton Senna. Maria da Penha mora em Vitória. No cardápio, além do bom e saboroso arroz e feijão, também havia lasanha, pudim, bolo de cenoura com chocolate e cachorro-quente para o lanche da tarde.

O único temor de Ana era que Maria da Penha não conseguisse comer toda aquela comida. E a irmã mais nova, que veio com a filha Luana, disse que come feito um passarinho, mas que iria experimentar todas aquelas delícias com muito gosto. De acordo com Ana, Maria da Penha deveria retornar ainda nesta quinta para Vitória. Mas como agora o contato está feito e os laços ficaram mais próximos e fortes, um novo reencontro em data ainda mais festiva pode acontecer muito em breve, conforme elas mesmas desejam.

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Ana Pereira e Maria Penha: um abraço que demorou mais de quatro décadas para ser dado.

A SEPARAÇÃO

A separação das irmãs aconteceu quando os pais resolveram sair da localidade de Vinhático, zona rural de Montanha, e mudar para a Grande Vitória. Enquanto Ana Pereira, casada e com uma filha recém-nascida, permaneceu no norte do Estado, Maria da Penha, junto com outros irmãos, foi morar em Cariacica. Passaram pelo Bairro Nova Rosa da Penha, conhecido como Itanhenga, e depois para a Cidade de Serra. Hoje Maria da Penha mora no centro de Vitória, próximo ao Tancredão e à rodoviária.

Enquanto os anos foram se passando, Ana Pereira afirma que tentou contato por várias vezes, chegou a viajar para Vitória em busca da irmã, mas não a localizou. Por sua vez, Maria da Penha também tentava localizar a irmã, viajando ao norte do Estado, nas cidades de Montanha e Pedro Canário. Ela conta que chegou ir até Teófilo Otoni, onde residia um tio, mas em vão. Depois de um certo tempo, cerca de 25 anos de busca, ambas cessaram a procura.

Ana Pereira preparou um farto almoço para receber a irmã Maria da Penha na casa dela, no Bairro Ayrton Senna.

Tão próximas, mas muito distantes

O pensamento é da filha de Ana Pereira, Solange Pereira Silva, que nunca havia olhado para a tia. Foi o marido de Solange quem realizou uma pesquisa na rede mundial de computadores e conseguiu localizar o endereço e até um número de telefone de Maria da Penha. De posse dessas informações, e com o coração renovado em esperanças, Ana Pereira viajou para Vitória para mais uma tentativa de localizar a irmã. Porém ela não conseguiu contato pelo telefone, que já não pertencia mais à irmã, mas procurou e localizou a casa onde residia.

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Ela detalha que, ao chegar à residência, foi surpreendida por uma vizinha da irmã, que logo a reconheceu como familiar da amiga. Emocionada, Ana Pereira logo percebeu que estava no lugar certo. Infelizmente, a irmã estava trabalhando e elas tiveram que adiar por mais alguns dias o reencontro.

Na casa, Ana conversou com a filha de Maria da Penha, Luana, que também a reconheceu como sendo familiar. “A vizinha perguntou para Luana quem eu era e Luana respondeu: é a irmã da minha mãe”, comentou Ana, percebendo que a semelhança dela com a irmã era latente. Trocaram contatos telefônicos e começaram a conversar, agendando a vinda de Maria da Penha a São Mateus para esta quinta-feira.

As primas Luana (sentada), filha de Maria da Penha, e Solange, filha de Ana Pereira, estão em comunicação desde o contato que tiveram recentemente em Vitória. No encontro em São Mateus, Solange presenteou Luana com uma toalha bordada à mão, feita por ela.

 

“Fui muito corajosa, sempre gostei de trabalhar”, comenta Maria da Penha

Depois de mais de quatro décadas separadas, as irmãs queriam saber o que a outra fez neste período. Ana Pereira, que estava casada e com uma filha à época da separação das duas, mudou-se para São Mateus, primeiro para um sítio na Região dos Quilômetros, depois, para a Cidade, onde construiu uma casa junto com o marido. Ela teve quatro filhos, sendo três mulheres. Coincidentemente, Maria da Penha também teve quatro filhos, entre os quais três mulheres. Ela mora em Vitória e trabalha como cuidadora em escola particular.

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“Fui muito corajosa, sempre gostei de trabalhar”, comenta Maria da Penha, afirmando que já morou em vários endereços da capital. Ela relata que ficou muito feliz quando ficou sabendo que a irmã a havia procurado. “Meu sonho ela revê-la”. Maria da Penha afirma ainda que perdeu também o contato com os pais muito cedo e que queria ver a mãe. Depois soube que ela faleceu, e, em seguida, o pai também morreu. Ana Pereira lembra que o último desejo da mãe era rever a filha Maria da Penha, o que não foi possível.

Maria da Penha e Ana Pereira colocaram o papo em dia.

LUANA

Filha de Maria da Penha, Luana disse que sempre quis conhecer os parentes da mãe, mas que ela nunca comentava sobre o assunto. “No primeiro instante, fiquei assustada. Agora estou feliz porque sempre quis conhecer”. Maria da Penha afirma que não gostava de comentar sobre o assunto porque trazia grande tristeza, já que, apesar da esperança, não sabia se um dia reveria a irmã. “Era para sofrer menos. Pedia a Deus para não lembrar, mas agora o sofrimento acabou”.

São Mateus-ES

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