Meio desanimado com o baixo movimento no box dele no Mercado Municipal, Manoel dos Santos recorda histórias que colecionou ao longo de 76 anos de vida. Aposentado, “desde os tempos de Lula”, Manoel da Laranja, como é mais conhecido, faz questão de dizer que sempre foi um lutador, e honesto: “Já poquei muita lenha pra sobreviver. Nunca peguei nada de ninguém. Meus fregueses de lenha eram Antônio Barcelos, Badu (Manoel Caetano dos Santos), Ozório Barcelos, seu Bio Barcelos e dona Isabel Bigossi. Vendi muita lenha pra esse pessoal”.

Nascido em 15 de agosto de 1943, num sítio no Km 18 da BR-381, Manoel é filho de Domingos Bernardo de Almeida e de Henriqueta dos Santos. Teve seis irmãos, como ele relata com ponderação: “Só os que contei, e fora os que morreram cedo”. Da primeira mulher, foi pai de três filhos, dois já falecidos. Com a segunda esposa, mais quatro.

Manoel da Laranja é reconhecido facilmente pelos frequentadores do Mercado Municipal. E fez muito sucesso também nos tempos de glória do Estádio Sernamby, onde estava sempre presente nos jogos da Associação Atlética São Mateus. “Vendi muita laranja lá. Levava um caixote de laranjas para os jogadores e subia para a arquibancada para vender para os torcedores. Todas descascadinhas” – lembra. A máquina descascadora que lhe garantia o sustento ele vendeu para Chiquinho do Bolo, diz logo.

Leia também:   Daniel obtém vitória por unanimidade do TJES contra lei municipal de iniciativa da Câmara que aumentou seu salário

Antes de fazer sucesso no Sernamby, Manoel da Laranja vendia a fruta descascada próximo da Escola Amâncio Pereira, onde atendia uma clientela formada principalmente por estudantes, na hora do recreio. “Eu guardava os apetrechos no Seu Wilson Monteiro, no ponto de ônibus que ia para o Nativo”, detalha. E as laranjas? Ah!, ele comprava de seu Valdir, que não recorda mais o sobrenome, mas sabe que anda acamado.

Em pouco mais de sete décadas de vida, Manoel viu as transformações passadas por São Mateus, desde que mudou para a Cidade, por causa de um desentendimento lá na roça. “Meu pai ficou aborrecido comigo. Vim para a casa de meu tio Domingos Venâncio, lá na Aroeira. Ali mesmo me reformei, casei e fiquei” – diz.

Das calçadas da área central da Cidade, foi acolhido no Mercado Municipal. “Foi doutor Pedro [dos Santos Alves, o prefeito] quem me tirou da calçada, rapaz”, recorda, agradecido. E lembra que de lá para cá passaram os prefeitos Rui Baromeu, Lauriano Zancanela e Amadeu Boroto, ambos com dois mandatos, “e agora Daniel Santana”.

Leia também:   Força Tática recupera carros roubados e detém dois em São Mateus

Essa transformação de quase 30 anos fez com que deixasse de vender laranjas para comercializar farinha, “da Bahia”, beiju, pimenta em conserva, óleo de dendê, mel e até vassouras. Mas ele está longe de satisfeito com o volume de vendas. “Fala para o pessoal que isso aqui vai acabar. Ninguém compra nada. Você passa o dia todo sem vender nada” – desabafa. “Cadê os compradores”, questiona, convocando a população mateense a valorizar mais o Mercado Municipal. Ele lembra bem a evolução daquele espaço comercial, construído por Wilson Gomes, ampliado por Gualter Loureiro e depois reestruturado e revitalizado por Lauriano Zancanela, em parceria com o Governo do Estado.

Mercado Municipal Wilson Gomes -Foto: Gilmar Henriques/TC Digital

Do comércio na área central, Manoel lembra ainda que fazia as compras nos estabelecimentos de Milton Almeida (Miltinho) e de Lauro Pinha (“que depois fez o Anchieta”), próximo dos Correios, no centro da Cidade. Ah!, o que faltava buscava no Jirlim, de Manoel Barcelos Filho (Manequinho), ou do pai dele, Seu Duduca Caetano.

Enquanto recorda desses tempos, Manoel da Laranja revela que chegou até a estudar depois de velho. “Mas aprendi nada não”, pondera, objetivamente. Frequentador da Igreja do Evangelho Quadrangular, localizada no Bairro Bom Sucesso, ele anda meio desgostoso com umas perturbações recentes no local de trabalho.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here