Considerado um dos maiores especialistas em armas militares da América do Sul, Carlos Fernando Parreira Júnior demonstrou interesse pela espada encontrada no Rio Cricaré no dia 17 deste mês. Ele é sócio proprietário da empresa Iberia Espadas Militares, localizada em São Vicente, São Paulo, que existe há 137 anos com tradição de oito gerações de fabricantes de armas militares. Carlos Parreira também é expert na restauração de espadas do Império Português. De acordo com ele, “estamos diante de uma coisa muito boa”.
Ainda na sexta-feira, após entrevistar o historiador Eliezer Nardoto, atual guardião do artefato, a Reportagem localizou Carlos Parreira e enviou fotos da espada para o especialista. Ele passou todo o final de semana analisando as imagens e deu o seguinte parecer: “Trata-se de uma espada, mesmo que sendo curta, tem gume duplo, águia bicéfala, guarda-mão maravilho. Conheço as espadas das forças da América do Sul e nenhuma tem a águia nesse formato. Então, parece que estamos diante de coisa muito boa”.
Carlos Parreira se prontificou a vir a São Mateus para analisar profundamente o artefato, necessitando apenas de ter as despesas com transporte e hospedagem custeadas. “Águia bicéfala lembra bem a época espanhola, Toledo, e um monte de significados. A madeira me intriga um pouco, por ter resistido a tanto tempo, mas pode ser, em condições ideais, ela pode se manter durante mil anos, principalmente debaixo d’água. Só os nobres usavam espadas dessa qualidade. Eu já restaurei muitas espadas, nenhuma neste formato” – enfatizou.
ÉPOCA E ORIGEM DA ESPADA
O especialista disse que não pode fazer qualquer afirmação por fotografia e que precisa estudar o artefato de forma científica, inclusive encaminhando algum fragmento para São Paulo para determinar a origem e a época em que a espada foi fabricada.
“Muitos nobres portugueses usavam espadas de Toledo e inclusive minha família trabalha lá nessa época. Nós somos oito gerações de armeiros. Mesmo que éramos portugueses, trabalhávamos em Toledo também. Havia um relacionamento entre Portugal e Espanha com os armeiros, não era considerado nenhuma traição. Os técnicos saíam de um país para o outro, até porque eram primos na época e em determinado momento, em 1650, era um país só, um império só, então tinham um bom relacionamento técnico” – explicou.
HIPÓTESES DO ARMEIRO
Ainda conforme Carlos Parreira, há duas hipóteses para uma espada desse formato. “Um nobre português, talvez em batalha, teria perdido essa espada. É o que mais está me parecendo. Outra coisa seria um militar nobre, porque só os nobres usavam espadas com estilo diferente daquelas espadas simples, de guarda mão em cruz ou em formato de concha. Então, um militar que teria uma espada diferenciada, de família, com alto valor simbólico, pelo que estou olhando, lembrando nobrezas espanholas e portuguesas. Estou pegando amor pela coisa, parece uma coisa muito boa e preciso vê-la”.
O armeiro disse que é o maior interessado em desvendar o mistério da espada. Para ele, pode ser um dos mais importantes achados arqueológico, histórico e cultural do período imperial no Brasil. “Na América do Sul não tem nada parecido. Ela está num lugar arqueológico no contexto de uma batalha. Tem muito a ver com o que vocês estão falando”.
FABRICANTE DE PEÇAS PARA A DRAMATURGIA
A Empresa Iberia Espadas Militares é a principal fabricante de peças para a dramaturgia brasileira. Recentemente, fabricou várias armas, entre espadas e espingardas do período colonial, para uma novela das oito da Rede Globo em que retratava período da Inconfidência Mineira. Também fabricou peças para filmes e seriados. A empresa ainda é referência em fabricação de peças de decoração, com finos acabamentos banhados a ouro e prata, além de produzir armas para as Forças Armadas do Brasil e outras polícias para serem utilizadas em cerimônias militares.
São Mateus-ES e São Vicente-SP
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