Após quase 30 anos sem entrar numa sala de aula, o trabalhador rural Altiane Blandino dos Santos, mais conhecido como Pipi, de 49 anos, é a prova de que nunca é tarde para recomeçar. Descendente de quilombolas, seu Altiane acaba de concluir o segundo ano do EJA (Educação de Jovens e Adultos), no Colégio José Carlos Castro, em Braço do Rio, Conceição da Barra.
Ele mora na comunidade quilombola São Domingos, e precisou abandonar os estudos cedo por conta do trabalho pesado na roça. “Parei na segunda série porque meu pai precisava de ajuda na roça. Fui crescendo, o trabalho cada vez mais pesado, tive cinco filhos e com isso nunca tive como estudar”, explica.
Mas há dois anos a história do seu Altiane mudou. Após o incentivo da própria família, ele decidiu voltar à sala de aula. “Eu achava que já tinha passado da idade, e que os outros alunos iam rir de mim, mas no EJA encontrei gente até mais velha do que eu. Hoje vejo que eu deveria ter voltado há mais tempo porque é muito gratificante adquirir conhecimento. Hoje vejo o mundo com outros olhos”- diz.
Para ir a escola, seu Altiane tem a companhia de uma das filhas, que estuda na mesma escola. Os dois utilizam o ônibus escolar da prefeitura de Conceição da Barra, porque moram há 15 quilômetros de distância do colégio, mas nem a distância desanima o estudante animado. “Tenho cinco filhos e hoje incentivo todos a estudar. O mais velho, de 18 anos, abandonou a escola também, mas já prometeu que ano que vem vai voltar, e vou cobrar” – afirma.
APRESENTAÇÃO
Para encerrar o ano letivo, seu Altiane fez uma apresentação sobre as músicas dos anos 1960, acompanhado da colega de sala Juliana. Segundo ele, a apresentação foi a mais aplaudida da sala, uma prova de como ele é querido entre os colegas. Ainda falta três anos para ele encerrar os estudos do EJA, mas o tempo não importa para seu Altiane. “Já perdi tempo demais, três anos não é nada para mim”, diz bem-humorado.
Veja fotos da apresentação do seu Altiane:
