O beque central virou doutor e, já como advogado, foi testemunha privilegiada, de olhar arguto, dos principais fatos da história recente de São Mateus. Nascido em 1938, José Antônio de Souza Mathias está chegando aos 81 anos –o aniversário dele é em 15 de novembro– com ímpeto daquele jovem que quase foi zagueiro do Rio Branco, quando recebeu o ultimato do tio Agenor de Souza Lé, em Vitória: “jogador de futebol, ou estudante de Direito?”.

Filho de Manoel Ferreira Mathias e Mayriland de Souza Lé Mathias, Zé Mathias é neto de José Antônio de Souza Lé. Abolicionista, o major Lé integrava o Exército Imperial e era amigo de Dom Pedro II. Com a terceira esposa, o major Lé teve três filhos –Mayriland, Agenor e Lavínia Maciel– e criou outros dois, Waldemar Correia Henriques Lé, conhecido com Walzinho, e Pedro Lé. Sobre a tia Lavínia, Zé Mathias abre parênteses para explica que era chamada de Dindinha Lavínia, nascida de um caso de amor do major Lé com a líder quilombola Maria do Rosário dos Pretos. Com a mãe assassinada numa emboscada, a menina foi morar com a família do major Lé. “Foi criada como irmã de mamãe”, diz Zé Mathias, deixando claro que o avô “conhecia os escravos fugitivos daqui”.

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O tio Agenor foi para Vitória, onde atuou como educador, inclusive como secretário estadual de Educação. Antes, porém, criou na Cidade um grupo escoteiro que mais tarde receberia o nome dele: o 7° GE Agenor de Souza Lé, talvez o mais antigo do Estado do Espírito Santo.

Mas voltemos às aventuras de Zé Mathias, que lembra que São Mateus levou um bom tempo numa paradeira danada, em meados do século passado. O motivo ele explica: “Quando ganhavam dinheiro, os ricos compravam casa em Vitória e iam morar lá. São Mateus exportava ricos, por isso não evoluía”. E é por isso, reforça, que muitos logradouros públicos da capital têm nome de mateenses.

De acordo com ele, com a alternância no poder de dois grupos políticos rivais, as coisas não avançavam. “São Mateus não tinha nem luz elétrica. A iluminação era com gerador, que ligava às 19h e à meia-noite apagava. O motor ficava lá no Porto”. Entretanto chegou o prefeito Wilson Gomes, que conforme ressalta, deu um impulso muito grande no Município. “Tinha uma grande fazenda de cacau e tirava dinheiro dele, particular, para emprestar à Prefeitura”. Zé Mathias lembra que, na administração de Wilson, ruas foram abertas ou alargadas na área central da Cidade, onde também teve início o calçamento das vias públicas.

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Casado com Rachid Daher Mathias, com quem tem os filhos Cedric e Alexandre, Zé Mathias revela que é católico-espírita. Ele recorda que atuou para trazer a Caixa Econômica para São Mateus e, com outros parceiros, para a construção do Centro Recreativo Ouro Negro e da atual Escola Municipal Professor João Pinto Bandeira, além dos investimentos privados em concessionária e hotel, entre outros.

Zé Mathias narra que abandonou uma carreira na Medicina, abortada antes de começar, no Rio de Janeiro. Entretanto trabalhou farmácia de Otto Neves, lá no Porto, na época em que o único médico na Cidade era Raimundo Guilherme Sobrinho. “Eu fazia suturas, ajudava nos pequenos cortes, curava doenças venéreas, que era o que mais tinha na época”, comenta, com um sorriso na face.

“A gente era pobre: mamãe professora e papai motorista do Estado, que atrasava salários até três meses naquela época. Tínhamos dois pães, um pra mim e Marisa, e outro para papai e mamãe. A gente fazia horta no quintal, papai comprava ovo barato, na roça. Fui criado comendo aipim, maxixe” – revela Zé Mathias.

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A vida dele mudou a partir da prática, ainda como estudante de Direito, no escritório do doutor Arnóbio Alves de Holanda. Antes de concluir a faculdade, já tinha um fuscão. O octogenário Zé Mathias tem muitas outras histórias interessantes pra contar…

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