Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa, Suriname e Brasil: estes países, em maior ou menor extensão, dividem a Floresta Amazônica. A Pan-Amazônica, como é chamada a região, conta com 7,8 milhões de quilômetros quadrados, onde vivem 33 milhões de habitantes, incluindo 1,5 milhão de indígenas, de 385 povos diferentes. Os nove países, além de compartilhar recursos florestais, minerais, hídricos e a sabedoria dos povos originários, também condividem os problemas crônicos da floresta: exploração ilegal dos recursos naturais, desmatamento selvagem, trabalho escravo e eliminação sumária dos povos indígenas.

Marcado para outubro desde ano e convocado pelo Papa Francisco, o Sínodo para a Amazônia busca encontrar respostas para essas questões e dar origem, assim, a uma Igreja com rosto amazônico: “O objeto principal desta convocação é identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente dos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um futuro sereno e, constantemente, ameaçados de extinção. Também, visa preservar a Floresta Amazônica, pulmão de capital importância para o nosso Planeta” – explicou o pontífice.

Normalmente, a preparação de um Sínodo começa nas dioceses, onde cada bispo, junto com as suas comunidades, realiza consultas sobre o tema. É recolhido o material, feito uma síntese e tudo é encaminhado com seus resultados e sugestões –por meio da respectiva Conferência Episcopal– para a Secretaria Geral dos Bispos, em Roma. Papa Francisco contou, desta vez, com uma ajuda especial: a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), instituição que realizou para este fim “escutas nas comunidades, nas periferias e na Amazônia profunda”, relata o documento preparatório do Sínodo.

“Nós nos empenhamos bastante em mais de 200 eventos da Pan-Amazônica, entre assembleias territoriais, rodas de conversas e fóruns”, revela a Irmã Maria Irene Lopes dos Santos, secretária-executiva da Repam. “Isso nos deu a oportunidade de ir às periferias, de estar muito junto com o povo, que quer ser amado e reconhecido em sua dignidade”. Já o documento final da Conferência Episcopal Latino-Americana, feito em Aparecida (SP), em 2007, abordava a importância de “criar nas Américas a consciência sobre a importância da Amazônia para toda a humanidade” e estabelecer, também, “entre as igrejas locais da Bacia Amazônica, uma pastoral de conjunto, que privilegie as camadas mais pobres e sirva ao bem comum”.

“Um teste decisivo, um banco de prova para a Igreja e a sociedade –afirma Irmã Irene– representa a celebração do próximo Sínodo sobre a Amazônia, em Roma. Para proteger a Amazônia e seus povos, é fundamental enfrentar o atual modelo de desenvolvimento, imposto pelo poder público e pelos interesses de empresas privadas”. A defesa da cultura e do meio-ambiente da região são bandeiras que já renderam mártires para a Igreja, como o padre Ezequiel Ramin, missionário comboniano, assassinado em 1985, em Cacoal (Rondônia), com 32 anos de idade, e a irmã Dorothy Stang, assassinada em 2005.

O Sínodo visa dar visibilidade internacional à Amazônia a partir da ótica do cuidado socioambiental e da valorização dos povos que vivem na região, na linha do magistério do Papa Francisco, que combate a ‘cultura do descarte’.

(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano e administrador da Paróquia Santo Antônio, em São Mateus-ES.)

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