GUSTAVO URIBE E JULIA CHAIB
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Um dia após demitir Abraham Weintraub do Ministério da Educação num gesto ao STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) enviou, por meio de integrantes da ala jurídica do governo, recado à corte de que quer distensionar a relação com o Judiciário.

Nesta sexta (19), os ministros Jorge de Oliveira (Secretaria-Geral), André Mendonça (Justiça) e José Levi do Amaral (Advocacia Geral da União) viajaram a São Paulo para um encontro com o ministro Alexandre de Moraes.

Moraes é relator do inquérito das fake news no STF e conduz o caso das investigações do atos antidemocráticos contra a corte. O ministro irritou o presidente Jair Bolsonaro ao quebrar sigilos de apoiadores e aliados políticos.

Oficialmente, a reunião serviu para que os ministros discutissem processos relacionados à terra indígena Raposa Serra do Sol, prejuízos ao setor sucroalcooleiro, a possibilidade de o TCU (Tribunal de Contas da União) declarar indisponibilidade de bens e ação sobre controle de armas e munições por parte do Exército.

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O principal objetivo do encontro, porém, foi buscar uma aproximação com Moraes.

Segundo relato à reportagem, os integrantes do governo disseram que Bolsonaro está disposto a iniciar um nova fase na relação com o Judiciário.

Moraes é o relator do inquérito que investiga o disparo de fake news contra o governo e que atinge aliados de Bolsonaro. Nesta semana, o STF decidiu que a investigação é constitucional e autorizou o prosseguimento do inquérito por 10 a 1.

O julgamento levou preocupação ao Planalto por mostrar que o Supremo está coeso e decidido a barrar o que considera ataques à corte.

Além deste, Moraes também é relator de outro inquérito, que apura a organização de atos antidemocráticos e que também envolve apoiadores de Bolsonaro.

A reunião entre os ministros ocorre na semana em que o presidente fez um dos gestos mais contundentes na tentativa de pacificar sua relação com a corte ao tirar Weintraub do MEC, cujo anúncio ocorreu nesta quinta (18).

Em reunião no dia 22, o ex-ministro da Educação chamou de “vagabundos” e defendeu a prisão de ministros do Supremo.

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No último domingo (14), ele participou de ato a favor do governo Bolsonaro um dia após manifestantes terem atirado fogos de artifício contra o Supremo simulando o bombardeio.

Na ocasião, Weintraub voltou a falar em “vagabundos”, mas não especificou a quem se referia.

A participação do ministro no protesto reforçou os pedidos de integrantes do STF pela demissão do aliado de Bolsonaro.

Temendo o avanço de investigações contra o Executivo, o presidente cedeu e exonerou o aliado.

Na avaliação de integrantes do Supremo, o demissão demorou a ocorrer, mas foi um gesto para distensionar o ambiente com a corte.

Mesmo assim, ministros ressaltam que não vão tolerar ataques desmedidos ao Supremo.

A posição considerada ambígua de Bolsonaro, que ora acena em gesto de paz ao STF ora reclama da corte, tem irritado os integrantes do tribunal.

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