Por
Claudio Caterinque
Repórter
O Município voltou a enfrentar problemas no abastecimento de água potável na Cidade desde o final de setembro, quando o Serviço Autônomo de Água e Esgoto passou a detectar teor de salinização acima dos padrões permitidos pela Organização Mundial da Saúde para o consumo humano, que é de 250ppm –partes por milhão– de cloreto de sódio.
Com isso, o mateense voltou a conviver com o drama de buscar água nas biquinhas da Cidade. Algumas, implantadas durante severa crise hídrica em meados de 2015 e 2016, já foram até desativadas. Outras permanecem ativas para saciar a sede de quem não consegue receber água potável em casa, ou que quando chega está salgada.
Na tarde desta quarta-feira, na biquinha mais famosa de São Mateus, na Avenida Cricaré, a auxiliar de serviços gerais Beatriz Miotto Miranda, de 46 anos, fazia o que já está se tornando rotina para ela: buscar água na biquinha.
Acompanhado de filho, neto e nora, Beatriz abastecia dois galões de 20 litros e vários outros recipientes menores com água para beber e cozinhar que, segundo ela, deve durar menos de uma semana.
Ela lembrou que há vários anos tinha esquecido o que era buscar água na biquinha. Porém, nos últimos dias, conta que a água tem chegado salgada nas torneiras de casa e, por isso, tem que usar a água da biquinha.
MOVIMENTO NAS BIQUINHAS AUMENTOU
Ao lado da biquinha na Avenida Cricaré, um grupo de senhores comentavam que o movimento no local começou a aumentar novamente nos últimos dias, com pessoas enchendo galões e outros recipientes com água. De acordo com um deles, a água do Saae consegue chegar às casas mais baixas. Porém na parte mais alta do Bairro Porto, alguns pontos ficaram até três dias sem receber água em casa.
CAIXAS E BALDES
Do outro lado da Cidade, no Bairro Park Washington, a dona de casa Luci Martinelli conta que a situação na residência dela “está horrível”. Conforme relatou, a água que chega na casa dela não tem pressão suficiente para abastecer as caixas d’água, no alto. Dessa forma, ela enche uma caixa que fica no nível do solo e também alguns baldes para usar no dia a dia dentro da residência.
BOMBA IMPROVISADA
Em outra casa, uma moradora improvisou uma caixa d’água no solo e instalou uma bomba para abastecer outra caixa em cima da residência. Desta forma, consegue manobrar a falta de pressão de água que chega na casa dela.
ATRASO NA OBRA
Um morador da Avenida Cricaré, que pediu para o nome não ser divulgado, disse que precisou adiar os planos de uma obra que pretende construir em casa por conta da falta de água.
Segundo ele, a alternativa foi guardar os materiais de construção e as ferramentas até que a situação se normalize.
Em casa, sem água, também afirmou que recorre à biquinha para garantir o líquido, saciar a sede da família e cozinhar.
OUTRAS BIQUINHAS
Alguns moradores de São Mateus comentam que outras fontes de água na cidade estão sendo a alternativa para quem quer garantir o líquido para beber e cozinhar. Na tarde desta quarta-feira, a Reportagem não identificou movimento na Biquinha da Lilita, que fica localizada numa reserva de matinha entre os bairros Carapina e Jaqueline e que foi muito acessada em anos anteriores.
Porém, há informações que mateenses estão buscando água também numa bica na entrada do Bairro Bom Sucesso e no Ribeirão, além de outros locais espalhados pela cidade.
Caminhões-pipa ligados há mais de 100 horas, sem parar
São Mateus – “Este caminhão está ligado tem quatro dias, sem parar”. O relato é de um motorista de caminhão-pipa que está trabalhando no abastecimento da estação de tratamento do Saae localizada no Bairro Boa Vista.
À Rede TC de Comunicações, o diretor interino do Saae, Antônio Carlos Luiz de Souza, o Tunico, já havia adiantado na terça-feira que a captação no Rio Cricaré estava suspensa desde o dia 30 de setembro e que a estação de tratamento estava sendo alimentada com água de poços artesianos perfurados na Avenida Cricaré e com caminhões-pipa.
Quem passa pela Avenida João XXIII, defronte ao Saae, percebe uma das faixas da via interrompida para tráfego de veículos. É onde os caminhões estacionam aguardando a vez para descarregar o líquido precioso. Na parede da autarquia, foram furados alguns buracos e improvisadas tubulações que recebem a água dos caminhões-pipa e a leva até os tanques da estação.
Segundo um motorista, cada caminhão demora em torno de uma hora e meia para abastecer com água num córrego próximo ao Condomínio Villages, no Bairro Litorâneo, e descarregar na sede do Saae. Para a Reportagem, o motorista comentou que o caminhão que dirigia transporta 10.000 litros de água por vez, trabalhando 24 horas por dia.
O diretor do Saae já havia informado que ao todo estão sendo utilizados 18 caminhão-pipa neste serviço. Na sede da autarquia, são descarregados até cinco caminhões por vez, conforme informaram trabalhadores no local
SAAE
A Reportagem telefonou nesta quarta-feira para o diretor interino do Saae, Tunico, e também para o telefone fixo da autarquia. No entanto, as ligações não foram atendidas.
Foto do destaque: Claudio Caterinque/TC Digital