No Dia Internacional da Mulher, a mateense Kátia Durval, moradora do bairro Vila Nova, compartilhou a sua história de transformação de vida e evolução. Questionada sobre o que comemora neste dia, não titubeou: “As nossas evoluções”.
Com 46 anos de idade, Kátia afirma que as mulheres são guerreiras, batalhadoras e sabem superar as dificuldades. Pode falar com propriedade, pois vive “uma luta diária”, além de ter acompanhado os desafios enfrentados pela mãe e outras mulheres.
A mãe de Kátia era empregada doméstica e, com os filhos já crescidos, conseguiu um emprego de auxiliar de laboratório no Hospital Estadual Roberto Silvares. O pai, trabalhador rural, passou a trabalhar de almoxarife na Viação Águia Branca. No entanto logo faleceu, quando Kátia tinha apenas 14 anos.
As obrigações começaram a surgir na vida de Kátia pouco tempo depois. Aos 16 anos começou a trabalhar como empregada doméstica, babá, e trabalhadora rural nas colheitas de café. Também trabalhou no comércio de São Mateus e atualmente é técnica em segurança. “Não foi fácil. Eu estudei muito, fiz Prouni e só consegui entrar na faculdade aos 35 anos de idade. Me formei em pedagogia aos 39”.
Kátia relata que sempre foi uma luta diária conciliar o trabalho, a vida pessoal, sonhos e obrigações. Ela se casou e teve uma filha, Keila Durval, aos 24 anos. Com a separação pouco tempo depois do nascimento da filha, teve que arcar com as responsabilidades, principalmente afetivas, sozinha. “A minha filha estudava no colégio Nova Esperança o dia todo, para eu poder trabalhar e trazer o sustento para casa. Na época das férias escolares, contava com a ajuda de conhecidos para ficarem com ela. Foi luta, mas eu consegui”.
Hoje Keila “está encaminhada”. Aos 22 anos segue os passos da mãe em busca de uma vida melhor. Segundo Kátia, a filha está terminando um curso técnico oferecido pelo governo do Estado. Ao mesmo tempo estuda Marketing Digital em uma faculdade.
Kátia quer estudar a Cultura Negra em São Mateus
Kátia também não parou os estudos após concluir o curso superior em 2017. De lá para cá fez uma pós-graduação e está findando outro curso superior. “Estou terminando o curso de História e tentando minha linha de mestrado em relação à cultura negra em São Mateus, para apresentar no Ceunes”.
Nesse aspecto, Kátia ressalta a força da mulher e da cultura negra do município que muitas vezes são esquecidas. “Tem vários personagens aqui que necessitam ser divulgados, em especial para as pessoas que estão chegando agora em São Mateus. É preciso colocar a nossa cultura em evidência e às vezes isso é esquecido”.
Kátia ressalta a importância da valorização desses personagens que, assim como ela, enfrentaram e enfrentam lutas diárias em busca de melhoria de vida pessoal e coletiva. “Aqui [em São Mateus] a grande maioria é negra, mas o racismo é muito enraizado. Infelizmente a gente ainda enfrenta preconceito, principalmente a mulher negra. Às vezes no próprio trabalho com assédio sexual, assédio moral, entre outras coisas. Mas se a gente continuar lutando e tentando, tenho certeza de que a gente vai, a cada dia que passar, superar essas dificuldades”.