Diferentes sociedades humanas, no passado e no presente, utilizam as árvores em seu benefício, seja na construção de abrigos, obtenção de lenha, fabricação de armas, ferramentas e utensílios ou usufruindo de benefícios diretos, como seus frutos para a alimentação e o aproveitamento da sombra por elas proporcionada.

Para nós, brasileiros, a relação é ainda mais forte, pois uma árvore dá o nome ao nosso país – o pau-brasil (Paubrasilia echinata), explorado quase à extinção durante o período colonial, demonstrando o valor econômico que uma única espécie pode representar para toda uma nação. Outras espécies arbóreas também participaram de ciclos virtuosos da economia brasileira, como o cacau (Theobroma cacao), a seringueira ou árvore-da-borracha (Hevea brasiliensis). As árvores, porém, prestam muitos outros serviços às sociedades humanas, alguns dos quais passam desapercebidos, embora tão essenciais, e até mesmo vitais, como a manutenção do equilíbrio e da vida no planeta Terra. Elas desempenham funções na qualidade da água dos mananciais, manutenção da temperatura dos ambientes, da umidade do ar, das chuvas. Além de todos esses serviços, que podemos chamar de serviços ambientais, produzirem frutos, sementes, madeira, resinas que são responsáveis por importante parte da economia nacional. Outros importantes insumos são aqueles utilizados na confecção de produtos de higiene e beleza e na produção de medicamentos a partir de espécies arbóreas que geram muitos empregos e rende bilhões às indústrias em todo o mundo.

As árvores estão diretamente ligadas a dinâmica da água em todo Planeta. Suas raízes absorvem diariamente uma gigantesca quantidade desse mineral tão precioso para a vida, lançando-o na atmosfera pela transpiração. A Amazônia, com sua riqueza em árvores, é essencial para o equilíbrio climático em quase toda a América do Sul, mas também interfere positivamente em todo o planeta. Parte da umidade do ar das regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil, são originárias das áreas florestadas da Amazônia, levada pelos ventos, como rios voadores formados por massas de ar carregadas de vapor de água, muitas vezes acompanhados por nuvens, para essas regiões. A Amazônia participa da regulação do clima no Brasil, no Paraguai, no Uruguai e até na Argentina.

As árvores são também importantes para a manutenção de paisagens naturais, devido ao essencial papel no controle da erosão do solo e por constituírem barreiras naturais contra a ação de enxurradas. Isso graças à absorção da água pelas raízes —uma árvore adulta pode absorver até 250 litros de água por dia— ou a fixação do solo exercida por essas mesmas raízes. Esse efeito anti-erosivo é fundamental para a manutenção dos nutrientes no solo, que seriam lixiviados pela ação das chuvas, além de diminuir o efeito de assoreamento dos rios, daí a grande importância da manutenção das matas ciliares. Funcionam também como barreiras para o vento, enfraquecendo as tempestades e, consequentemente, os estragos causados por elas.

Uma única árvore é capaz de sustentar grande variedade de vida, desde seres unicelulares a seres mais complexos que fazem dela moradia ou área para caça, como aranhas, insetos, e animais de diversos tamanhos, desde anfíbios e répteis, até mamíferos, como macacos, morcegos e até felinos. Uma única árvore da Mata Atlântica pode abrigar mais de 20 diferentes tipos de plantas, a maioria vivendo como epífitas, como bromélias, orquídeas e cactus.

As árvores possuem papel de destaque não só pela sombra proporcionada por sua copa, mas por funcionarem como barreiras para as ondas de som. Os bosques e florestas urbanas ajudam a diminuir a poluição sonora. Além disso, árvores deixam a cidade ou uma região mais bonita e, consequentemente, mais valorizada. Além de frutos para o consumo humano, elas trazem sensação de bem-estar para todos os moradores.

Além dessa relação estética, as árvores podem envolver relações humanas que caracterizam uma comunidade. É frequente árvores nas cidades que agregam valor histórico, marcando um período importante da cidade, um fato, ou ainda, a relação com seus moradores, especialmente aqueles que a plantaram.

Um bom exemplo disso é a frondosa árvore existente no centro do balneário de Guriri, plantada na década de 1990 para compor o paisagismo da então cascata de Guriri. Tal árvore é conhecida como árvore-da-chuva ou chorona, e tem como nome científico Samanea saman. É nativa da flora brasileira e encontrada com maior frequência no pantanal mato-grossense, no nordeste mineiro e na Amazônia Ocidental.

As rochas de granito e a árvore foram instaladas por Dario Martin, orquidófilo de São Mateus que ajudou a cunhar a nossa região como circuito das orquídeas, atraindo especialistas, visitantes e apaixonados por essas plantas para o norte do Espírito Santo. A fundação do Núcleo de Orquidófilia do Vale do Cricaré teve em Dario Martin o principal incentivador para congregar os cultivadores de orquídeas e também na figura dele encontramos um dos maiores entusiastas com o desenvolvimento da agricultura e com a defesa do meio ambiente em nossa região.

A árvore-da-chuva no centro de Guriri tornou-se um elemento agregador de pessoas e da fauna. Sob sua copa frondosa, moradores de Guriri e visitantes podem desfrutar de sua sombra generosa. Ali conversam, falam da vida, descansam e veem o tempo passar. Nela também, os bandos de maritacas se recolhem ao final da tarde, buscando abrigo segura para passarem a noite. Coisas típicas de cidade pequena, acolhedora e aconchegante que o Sr. Dario Martin com sua humildade ajudou a construir para que nós, hoje, desfrutemos dos benefícios de uma única árvore!

A construção da cascata de Guriri e a plantação da árvore-da-chuva
foi pessoalmente acompanhada por Dario Martin – Foto: Acervo da Família Martin/Divulgação

Preservar, cuidar e manter uma árvore não é apenas comungar com todos os benefícios ambientais, econômicos e sociais que ela possa nos proporcionar. É também manter viva, as memórias de pessoas que ajudaram a construir a histórias de nossa cidade.

Luis Fernando Tavares de Meneses e Marcos da Cunha Teixeira
Professores do Centro Universitário Norte do Espírito Santo (Ceunes)
e Ariane Luna Peixoto
Pesquisadora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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1 COMENTÁRIO

  1. Acrescento que na casa de Dario Martin está plantado o Saman gigante que foi pai deste aqui!
    E há alguns exemplares de baobás crescendo na igreja em frente, aí pelo km 40 da S Mateus x N Venécia!!

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