Um estudo sobre o uso de terapias celulares – procedimento que consiste na reposição de células saudáveis no organismo para restaurar ou alterar determinados conjuntos celulares – no tratamento de pacientes com covid-19 apresentou como resultado a redução do risco de morte. O coautor do estudo e doutorando em bioinformática pela USP, Dennyson Leandro da Fonseca, comenta que o método é mais utilizado em tratamentos de câncer, mas que a expectativa é de expandir a terapia celular para o combate de outras doenças.

Papel das células-tronco

Dennyson Leandro Fonseca – Foto: Currículo Lattes

O coordenador da pesquisa e professor de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da USP, Otávio Cabral-Marques, explica que, com o avanço da pandemia do coronavírus, diversas pesquisas acerca do papel das células-tronco mesenquimais foram realizadas para entender o mecanismo fisiopatológico de como a doença acontece. “A partir de uma analogia, a covid-19 é como um acelerador do resto da resposta imunológica, que induz a uma reação exacerbada, e esse carro, que é o nosso corpo, controlado pelo sistema imunológico, acelera muito”, analisa Cabral-Marques.

Dentro da analogia estabelecida pelo professor, as células-tronco ajudam a controlar a aceleração do carro, ou seja, modulam a resposta imunológica diante do coronavírus. Essa nova forma de combate à patologia é muito positiva, na medida em que a ação imune exacerbada impacta também os próprios órgãos do indivíduo doente.

“Então, as células-tronco são moduladoras, como se entrassem no mecanismo de imunorregulação, que traz o sistema de volta à homeostase e evita que ele se autodestrua”, pontua Cabral-Marques. Além da função imunomoduladora, as células contribuem para processos de regeneração de tecidos em degenerescência também.

Impacto do estudo

Otávio Cabral-Marques – Foto: ResearchGate

Para a realização do estudo, foram utilizados cerca de 195 ensaios clínicos – que são depositados em bancos de dados públicos do mundo todo –, a partir dos quais, com métodos estatísticos, como a probabilidade, chegou-se a uma redução da mortalidade na faixa de 70%. “Tem metodologias que fazem o que a gente chama de metanálise, uma análise para poder obter uma robustez estatística para dizer qual foi a porcentagem do chamado de metassignificância, isto é, sua relevância estatística”, ressalta o professor.

Esse novo procedimento evidencia uma esperança, na visão de Otávio Cabral-Marques, de modular o indivíduo de forma menos tóxica, uma vez que, muitas vezes, o uso de medicamentos, como anti-inflamatórios, desacelera a resposta imunológica geral do indivíduo. A partir do uso da terapia celular, há um preparo do organismo para responder pontualmente ao vírus sem causar uma reação exacerbada e geral ou inibi-la completamente.

A partir da terapia gênica, o professor esclarece que os cientistas são capazes de manipular as células, especialmente as pluripotentes, com capacidade de originar qualquer outro tipo de tecido e de devolvê-las ao paciente para desenvolver uma resposta fisiológica. “Ao invés de usar terapias inespecíficas, que, muitas vezes, são tóxicas ou com um efeito iatrogênico, melhorar um aspecto e suprir outro”, aponta Cabral-Marques. Já Fonseca destaca a possibilidade de explorar o tratamento para outras doenças, além do câncer e da covid-19, no sentido de apresentar uma visão diferente e uma perspectiva de vida maior.

Fonte:JORNAL DA USP

Foto de destaque:  Domínio Público via Pixabay

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