Não. De certo não é qualquer um que pode afirmar conhecer São Mateus. Isso aqui é grande com força. De uma ponta a outra, de Uruçuquara a Nova Verona, o sujeito roda cento e trinta km facinho. Tem mais um mundão de estrada, de Paulista, num limite com Jaguaré, até a divisa quilombola, lá pros lados de Boa Esperança.

São sete divisas, fazendo a volta, de Conceição da Barra até Linhares, e ainda tem lugar de três vizinhos, quase ao mesmo tempo, como em São José da Barra Seca, onde se encontram Vila Valério, Jaguaré e São Gabriel da Palha.

E o povo, então? São Mateus é o oitavo mais velho município do País. Aqui era cheio de índios quando vieram os portugueses. Na época dos navios negreiros, aqui era porto, com mercado e tudo, o que não é motivo de orgulho, mas é uma parte muito importante da história: hoje é o município com o maior número de afrodescendentes do Espírito Santo.

E as pessoas foram chegando, miscigenando e se espalhando: o Cricaré era a porta para explorar o interior. Lá pelo final do século XIX entrariam por ali os italianos para ocupar Nova Venécia, que é desmembramento de São Mateus: os territórios originais incluíam Conceição da Barra, Barra de São Francisco, Boa Esperança, Ecoporanga, Água Doce do Norte, Mantenópolis e mais alguns.

Hoje, em 2021, toda essa gente é que dá a São Mateus um ar meio cosmopolita, onde se encontra de tudo um pouco.

Quem chega em Guriri, especialmente em período de festas ou feriadões, pensa em tudo, menos que está num balneário de cidade do interior. São milhares de pessoas, parte concentrada na área central, num espaço de cinco ou seis quadras, e o restante espalhadas numa área gigante, com 35 quilômetros de comprimento por quase cinco de largura em alguns pontos, onde tem de boate a boteco, de supermercado a butique, de posto de gasolina a pousada escondida, e uma praia sem comparação, uma das mais compridas da Região Sudeste, com águas cálidas, como diria uma amiga, mateense de Minas: “Um luxo!”

 

 

Lugar acolhedor por natureza, há aqui uma metade de nativos, mas a outra é de gente que veio para cá. Aliás, essa última leva é a que me inclui: mudei-me para cá em janeiro desse ano e de repente cai-me no colo a tarefa de escrever sobre essa cidade, que completa 447 anos, e nas palavras de um altorrionovense que aqui está há 20 anos, “é uma balzaquiana de biquini e minissaia”.

Uma das melhores definições que já ouvi sobre esse lugar, para o qual é preciso ter bastante tempo para conhecer. Para gostar, é daqui para ali. Palavra de um mateense recente, que não hesitou em deixar a capital.

Como diz um dito popular por aqui: “Quem bebe água da Biquinha e come moqueca de judeu nunca mais sai de São Mateus”.

 

Aguilar Alves

Músico e publicitário

São Mateus-ES

 

NOTA DO EDITOR: Na verdade, prezado Aguilar, a expressão “São Mateus é uma balzaquiana de biquini e minissaia” é repetida por muitos, mas sua origem é a entrevista que o saudoso Teotônio Pastorini concedeu ao jornalista Antonio de Castro em 1984. A expressão caiu no gosto popular e é natural que todos os neo-mateenses a pronunciem.

 

Foto do destaque: Divulgação

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