JÚLIA ZAREMBA

CAIRU, BA (FOLHAPRESS) – Praias vazias, cheiro de óleo no ar, areia coberta por manchas pretas –algumas minúsculas, quase imperceptíveis, outras do tamanho de uma grande poça de água.

O cenário da ilha de Boipeba, destino turístico em Cairu (a 176 km de Salvador), na manhã desta segunda (28) levou turistas que visitavam a região a mudar a programação da viagem, andar com garrafa de água nas mãos para tirar os pedaços de óleo da pele e a não molhar mais do que os pés no mar sob um calor de 30 graus.

A reportagem passou pelas praias Boca da Barra, Tassimirim, Cueira e Moreré entre as 9h e as 14h. Na última delas a situação estava pior –um mutirão de funcionários da prefeitura retirava grandes manchas da areia antes de a maré subir.

O casal Bruna Cuin, 27, e Thiago França, 27, conta que não esperava o cenário em Boipeba. “Foi uma surpresa. Não sabia que a mancha tinha chegado a Moreré”, diz Cuin. “Atrapalha um pouco para a gente, que quer curtir as praias, e para os moradores que vivem do turismo.”

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Passaram antes por Morro de São Paulo, outro lugar atingido pelo vazamento, mas dizem que conseguiram mergulhar após uma operação de limpeza do lugar. “Vamos ver como vai ficar a situação amanhã por aqui. Se não melhorar, voltamos para Morro”, diz ela, que retorna para a capital paulista na próxima quinta (31).

Os dois caminhavam na ilha em busca de um canto em Boipeba, depois de Moreré, mais limpo para tentar dar um mergulho.

Bruna molhava os pés com água doce a cada poucos minutos para tirar os pedaços de óleo grudados. No fim de semana, ela e o namorado pediram óleo de cozinha a locais para retirar fragmentos de óleo dos pés.

As paulistanas Flávia Leite, 28, e Nathália Costa, 27, começaram a planejar a viagem para a ilha meses antes da chegada das manchas de óleo às praias do Nordeste. Chegaram na segunda passada à Bahia.

“Não frustrou as férias, o lugar é lindo de qualquer jeito. Mas é uma bad, uma preocupação a mais. Não dá para saber se o óleo vai se espalhar mais”, diz Flávia.

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Elas foram até uma igreja local oferecer ajuda para retirar o óleo da areia, mas contam que não puderam porque a preferência era por voluntários homens. A justificativa, contam, foi de que mulheres poderiam desenvolver câncer de mama caso entrassem em contato com o material.

Mais desavisados do que os turistas brasileiros, Benjamin Tiby, 26, e Fanny Allard, 24, da Guiana Francesa, contam que ficaram “muito surpresos” com as manchas.

Souberam da notícia por meio do dono da pousada em que estão hospedados. É a primeira vez que visitam o destino. “Estamos tristes e desapontados”, diz Allard.

Continuarão em Boipeba pelos próximos três dias de viagem porque o tempo é curto para mudar a programação, dizem eles, que também sujaram os pés com óleo. “Resta caminhar na praia”, diz Tiby.

Cozinheira em uma barraca na praia de Moreré, Rosinete Xavier, 28, diz que notou uma diminuição no movimento de turistas após a chegada do óleo. Mesmo sendo uma segunda-feira de baixa temporada, diz que a clientela costuma ser maior em dias normais.

“Hoje está vazio. Ninguém quer tomar banho ou entrar em contato com a água. Para nós, é ruim. Muito difícil”, diz ela.

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Outro quiosque perto dali, também em Moreré, com forró ao vivo, estava mais cheio, com turistas que chegaram em lanchas. Mas poucos se arriscavam a dar um mergulho –preferiram dançar ou ficar na sombra comendo frutos do mar e afins.

Na última terça (22), quatro praias na região foram interditadas e, horas depois, liberadas: Cueira (Boipeba), Segunda e Terceira praias (Morro de São Paulo) e Ponta do Quadro (Guarapuá).

Até as 13h da última terça (22), havia sido recolhida 1,5 tonelada de óleo nas quatro praias.

Neste sábado (26), o almirante de esquadra Leonardo Puntel, comandante de Operações Navais da Marinha, disse que a presença de petróleo está diminuindo nas praias do Nordeste.

Ele afirma que não foram detectadas grandes manchas durante o dia, mas apenas pingos, de retirada mais fácil.

Questionado sobre as investigações das causas do derramamento de petróleo, o almirante Puntel disse que 11 países foram notificados para informar sobre eventual acidente que possa ter provocado vazamento em seus navios-tanques.

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