“Um passo à frente e você já não está mais no mesmo lugar”. O trecho da música de Chico Science e Nação Zumbi resume bem o momento histórico que vivemos de crescimento do futebol feminino no Brasil. Das proibições em praticar a modalidade, que duraram cerca de 30 anos e estiveram expressas em forma de lei, até o crescimento constante que vem ganhando mercados, muita gente ficou pelo caminho.

No país do futebol as mulheres ficam à margem do esporte desde crianças. Por aqui é comum ver campos de futebol, sejam eles com muita ou nenhuma estrutura. Basta ter um espacinho pra chutar uma bola! Mas a “brincadeira de menino” segmenta e discrimina as meninas. A paixão e o incentivo pelo futebol têm freio para as mulheres.

Como desenvolver o futebol feminino em meio ao preconceito? Tem menina que joga escondido da família. Qual futuro planejamos para quem quer ser jogadora de futebol? Temos quantas escolinhas, clubes, jogos amadores, profissionais e categorias de base para desenvolvê-las? Se alguns meninos de 16 anos já valem milhões de reais, recebem para jogar e são “joias” de clubes, muitas mulheres campeãs com 25 ou 30 anos não chegam nem perto das cifras do adolescente do futebol masculino.

Ou seja, a desigualdade entre homens e mulheres na sociedade reflete no futebol, assim como em todos os aspectos da nossa vida. Aliás, isso já foi tema de questão no Enem, quando a prova abordou a diferença salarial entre Neymar e Marta, os principais jogadores das seleções de futebol do país.

No Brasil, domingo e futebol é uma clássica combinação! E mesmo que tardiamente essa tradição tem se expandido para o futebol feminino, principalmente a partir de 2019, quando a modalidade passou a ser exibida na programação aberta de televisão.

Esse crescimento do futebol feminino teve marcos muito importantes. Refiro-me, por exemplo, à inclusão da discussão de gênero pela FIFA no ano de 2016, a qual teve consequências nos clubes. Sobre isso, Caroline Almeida, pesquisadora da UFSC, explica que “mais de 30 anos se passaram até que a FIFA introduzisse a paridade de gênero na regulamentação do futebol mundial.

Para adequar-se à novidade, a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) também aprovou em 2016, no estatuto, mudanças para promover a igualdade de gênero. Os clubes de Futebol Masculino que quiserem obter a licença da confederação para disputar a Copa Sul-Americana ou a Libertadores da América deveriam criar equipe de mulheres até 2019 – ou se associar a outro clube que possuísse essa categoria atuante em campeonatos oficiais”.

Nesse movimento, a temporada de 2022 começou com tudo com a Supercopa do Brasil na última sexta-feira (4). E com ela mais uma página especial nessa história começou a ser escrita. É a primeira agenda de 2022 e todos os jogos terão transmissão – alguns em TV aberta e outros por assinatura. O Brasileirão Feminino também terá novidades, como a criação da terceira divisão do campeonato.

O sucesso de audiência desde 2019, potencializada pela Copa do Mundo feminina, tem aberto novos espaços para a modalidade crescer. Mas é certo que muito ainda precisamos avançar para chegar a um estágio de igualdade com o futebol masculino.

Superar o preconceito machista, aumentar o investimento na formação de atletas, valorização profissional e salarial, estruturação de campeonatos oficiais, aumento de patrocínio, organização da modalidade nas Confederações de Futebol e na FIFA e maior visibilidade seguem como desafios ainda em pauta.

Seguimos reivindicando até que o futebol feminino alcance o patamar que merece e tome conta dos corações brasileiros apaixonados por futebol. Saibamos valorizar as conquistas atuais e contemplar a habilidade das brasileiras com a bola, o que, modéstia à parte, sabemos fazer com maestria. É assim que a gente entoa o “abram alas que as mulheres vão jogar”…

 

____

(*Viviane Vaz Castro é bacharela em Serviço Social pela Ufes e mestre em Serviço Social e Direitos Sociais pela UERN.)

 

Foto do destaque: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here