O comércio mateense tem enfrentado dificuldades quando o assunto é troco. As moedas metálicas, como são chamadas pelo Banco Central, estão cada vez mais escassas nas lojas, supermercados e demais segmentos. Quem nunca leu a frase “tem moeda para ajudar no troco”, não é mesmo?

De um lado o comerciante e do outro o consumidor. Ambos com problemas relacionados às moedas que muitas vezes estão guardadas, e por isso deixam de circular. Uma prática corriqueira são os cofrinhos, que apesar de não serem proibidos, acabam desviando da moeda a sua principal finalidade, que é a de facilitar o troco.

À Reportagem, a assessoria do Banco do Brasil explicou: “A função das moedas é a sua utilização como meio de pagamento de mercadorias e no recebimento de troco”.

“No entanto, a prática recorrente de juntar moedas metálicas nos famosos cofrinhos como meio de poupança inibe a circulação das moedas existentes. Ensinar às crianças o valor do dinheiro e a cultura de poupar é hábito saudável, mas essa prática de educação financeira fica mais completa com a devolução das moedas ao sistema bancário e circulação na economia” – complementa.

Segundo a assessoria, o Banco do Brasil é a instituição responsável por distribuir as moedas novas emitidas pelo Banco Central, “atuando no suprimento ao Meio Circulante à Ordem do BC”.

“O BB realiza a distribuição de todo tipo de numerário, inclusive moedas, para todas as instituições financeiras. Além do suprimento de troco –moedas e cédulas de baixa denominação– diretamente à população em algumas de suas agências” – complementa a assessoria do Banco.

 

Não é tão simples assim

Alguns comerciantes relataram à Reportagem que não é tão simples fazer a troca de moedas, nem nas agências bancárias e tampouco com clientes. Natália Botelho Bergamaschi é auxiliar administrativa em uma loja no centro de São Mateus. Ela relatou que a empresa solicita aos clientes que levem moedas para facilitar o troco.

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“A maioria das pessoas, para trocar, pede uma moeda de troca, um brinde, algo assim. Não é por livre e espontânea vontade não. Notas de dois, cinco e dez reais a gente consegue no banco que a loja tem conta. Mas, moedas, só pedindo aos clientes mesmo” – detalha.

Segundo Natália, os clientes, no geral, não têm dinheiro trocado e nem moedas. “A maioria guarda as moedas em casa sempre com objetivos como fazer um aniversário, uma viagem. É o que eles contam quando decidem trocar” – relata.

Ela observa que, antes da pandemia, a circulação de moedas era maior e as trocas, com valores menores, mais recorrentes. “Antes a gente conseguia trocar mais facilmente. Hoje, as pessoas estão acumulando muito. Só trocam com valores mais altos. Deveria haver uma conscientização que guardar faz o dinheiro ficar parado e acaba atrapalhando o comércio em geral” – enfatiza.

Lana de Souza é caixa em uma casa lotérica e também relata situações semelhantes. “Os clientes trazem boletos [para pagar] com nota grande. A gente pede moeda e a maioria não tem. Eles dizem não ter troco, moeda, e a gente se vira como pode. Às vezes passamos o troco a mais ou falta um pouquinho e combinamos com a pessoa para entregarmos o troco depois. Alguns batem o pé e exigem o troco, outros não. Os clientes mais conhecidos, às vezes, trazem moedas para trocar, mas ultimamente está bem difícil” – afirma Lana.

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Ela acredita que o problema não é falta de moedas e sim que as moedas não estão circulando. “A maioria dos clientes que trazem moedas para trocar relata que elas estavam guardadas. No geral em cofrinhos. A minoria tem consciência e chega com o valor do boleto certinho para facilitar o troco. Alguns clientes querem facilidade, mas não facilitam. A gente se desdobra como pode. O banco oferta moedas, mas nem sempre. A gente solicita e quando eles têm trazem ou a gente busca, mas nem sempre têm” – reforça.

 

SEM TROCO

Lana relatou ainda uma situação inusitada, mas que, segundo ela, tem se tornado corriqueira. “Uma senhora exigiu o troco de dois centavos e nós não tínhamos. Passamos cinco centavos para ela, ou seja, ela ainda ficou com três centavos a mais de troco. Uma outra ficou mais de uma hora esperando quinze centavos de troco. Não tínhamos e não entrou em nenhum caixa. Depois de quase duas horas, como não teve circulação de moedas, ela foi embora. Entendo que é direito do cliente, mas quando não temos moedas eles também precisam entender” – relata.

 

ARREDONDAMENTO

Outro segmento que também vem enfrentando problemas com o troco são os postos de gasolina. Dependendo da quantidade de litros de combustível, ao abastecer os veículos, os valores ficam fracionados e é aí que nasce o problema para o frentista e para o consumidor. Uma leitora relatou à Reportagem que sempre que abastece o carro o frentista pede para arredondar o valor por não ter troco.

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Outra situação de arredondamento no valor ocorreu em um supermercado. A cliente deveria receber R$ 9,70 de troco, no entanto, como o caixa não tinha moedas, com o arredondamento, recebeu R$ 10,00. Ou seja, um prejuízo de 30 centavos para o supermercado, que, parece pouco à primeira vista, mas somado no final do mês, deve multiplicar-se exponencialmente.

 

Banco Central afirma não identificar falta de moeda em nível nacional

 

Em resposta à Reportagem, a assessoria do Banco Central afirmou não ter identificado problema específico no atendimento à demanda de moedas em nível nacional e que a instituição tem moedas em estoque suficiente para o atendimento da demanda dos bancos. No entanto, ressalta que podem ocorrer situações transitórias e localizadas de escassez.

“É papel do Banco Central fornecer moedas aos bancos que as provêm à população e ao comércio. O atendimento aos bancos é feito por meio do Banco do Brasil, custodiante do Banco Central que, como medida complementar de fornecimento de moedas e de troco, em alguns municípios, mantém guichês de fornecimento de troco – moedas e notas de dois e cinco reais – à população. No Estado do Espírito Santo há guichês em Vitória, Cachoeiro do Itapemirim e Linhares” – detalha.

Para os comerciantes que estão com dificuldades em obter troco nos bancos, o BC faz a seguinte orientação: “Registrar pedido na gerência da agência do banco onde mantém conta; entrar em contato com o Serviço de Atendimento aos Clientes (SAC) do banco com quem tem relacionamento, caso não tenha sido atendido; e entrar em contato com a associação de classe da qual você faz parte. As associações poderão comunicar ao Banco Central as dificuldades enfrentadas para que ele avalie soluções”.

O BC ressalta ainda que não é a única fonte possível de moedas metálicas, uma vez que os bancos e o comércio também podem captar moedas junto aos seus clientes, que poderão então ser disponibilizadas para recirculação. “O estímulo à recirculação de moedas melhora a oferta de troco e contribui para a economia do gasto público com a produção de novas moedas e notas desgastadas pelo uso” – frisa.

 

Foto do destaque: TC Digital

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