NATÁLIA CANCIAN E DANIEL CARVALHO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em meio à politização da vacinação contra a Covid-19 e com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) capitaneando discurso antivacina, o Ministério da Saúde anunciou nesta quarta-feira (16) a inclusão da Coronavac, do Butantan, em uma lista chamada de “adesão do Brasil às vacinas”.

A lista cita a vacina de Oxford, a da Pfizer, Bharat Biotech, Moderna e Janssen, além do consórcio da Covax Facility, da OMS.O anúncio se deu no Palácio do Planalto durante cerimônia para apresentação de uma nova versão do plano nacional de imunização.

Apesar da inclusão, o governo não informou se há um acordo fechado com o Butantan. Na apresentação, o secretário de vigilância, Arnaldo Medeiros, citou que a lista envolve acordos e memorandos de intenção para possível compra futura.
“Dependendo da eficácia e segurança, o país, sim, vai comprar vacinas”, disse Medeiros.

O ministério também disse lançar nessa quarta a primeira fase de uma campanha de comunicação para vacinação. O objetivo é esclarecer sobre a segurança e eficácia das vacinas.

Em uma segunda fase, Medeiros disse que a campanha vai dizer que “a vacinação contra Covid-19 é o Brasil em ação pela sua proteção”, mensagem que vai na direção oposta ao discurso de Bolsonaro, que afirmou nesta semana que não iria se vacinar e que quer incluir a obrigatoriedade num termo de responsabilidade para quem optar por tomar o imunizante.
“Iremos convocar os grupos a serem vacinados a ir aos postos de vacinação”, afirmou o secretário.

O governo anunciou também um montante maior investido na aquisição de 300 milhões de agulhas e seringas. Agora são R$ 80,5 milhões. Antes eram R$ 62 milhões.

O lançamento da nova versão do plano de imunização ocorre em meio a críticas de especialistas sobre atrasos na organização da estratégia pelo governo federal.

A cerimônia desta quarta-feira teve como mote “Brasil imunizado – somos uma só nação”. Essa é a segunda versão do documento. Um plano preliminar já havia sido enviado no sábado (12) ao Supremo Tribunal Federal, sem, contudo, apontar datas nem previsões mais exatas para o início da vacinação.

O documento estimava em cerca de 108 milhões as doses necessárias para a vacinação de trabalhadores da saúde, idosos e pessoas com doenças associadas –tidos como grupo prioritário de vacinação. A previsão da pasta é que as doses para a população prioritária cubram 51 milhões de brasileiros –menos de um quarto da população, hoje em 212 milhões de habitantes.

O ministério também chegou a dizer nessa versão anterior do documento ter a “intenção” de ofertar a vacina para toda a população sem, contudo, dar mais informações de quando poderia ocorrer e de que maneira isso seria organizado.

A falta de informações levou o ministro Ricardo Lewandowski a dar 48h para a pasta informar a previsão de início e fim da vacinação.

Nesta terça, o Ministério da Saúde informou ao STF que pretendia vacinar toda a população em até 16 meses, sendo quatro meses para grupos prioritários e 12 meses para o restante da população.

A pasta, porém, não deu previsão de início da campanha. Disse apenas que pretendia distribuir a vacina aos estados em até cinco dias após o produto ser autorizado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e adquirido pela pasta.

Em anúncios anteriores, o governo havia falado de vacinação de março a junho. O ministro também chegou a dizer que poderia iniciar em dezembro ou janeiro -a primeira data é tida como improvável por membros do Ministério.

A pasta tem defendido que a data depende do registro de uma vacina na Anvisa e de sua liberação. Até o momento, a agência não recebeu pedidos para registro ou uso emergencial.

O anúncio também ocorre em um momento em que o governo ainda busca doses de vacinas.

Na versão anterior do documento, o ministério disse que “o Brasil já garantiu 300 milhões de doses de vacinas Covid-19 por meio dos acordos”, mas, nessa mesma conta, havia uma ressalva de que parte ainda está em negociação.

“Fiocruz/AstraZeneca: 100,4 milhões de doses, até julho de 2020, mais 30 milhões de doses/mês no segundo semestre; Covax Facility: 42,5 milhões de doses; Pfizer: 70 milhões de doses (em negociação)”.

O presidente Jair Bolsonaro trava um embate com o governo paulista sobre a compra da Coronavac, vacina em desenvolvimento pelo Instituto Butantan. O governador João Doria (PSDB-SP) é virtual oponente de Bolsonaro em 2022 e, além disso, há o entrave ideológico, já que a atual gestão brasileira se opõe à China, produtora do imunizante.

Mesmo assim, a Coronavac foi mencionada já no início do evento, quando um vídeo institucional do Ministério da Saúde exibiu imagens da produção e da marca de imunizantes, inclusive da Coronavac.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, já afirmou ser necessário cerca de R$ 20 bilhões para a vacinação em massa da população. A previsão é que o governo envie uma medida provisória ao Congresso para garantir os recursos.

O presidente Jair Bolsonaro defendeu que a medida traga a cobrança de um termo de responsabilidade para quem quiser tomar a vacina. Também disse que não iria tomar o imunizante. As declarações do presidente preocupam pelo potencial antivacinação.

De acordo com pesquisa do Datafolha divulgada no sábado (12), a parcela da população brasileira que não pretende se imunizar contra o novo coronavírus cresceu e chegou em 22%.

No evento de lançamento do plano, governadores usavam máscara de proteção, destoando de Bolsonaro e seus ministros -inclusive o da Saúde- que desde o início da apresentação estavam sem proteção.

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