No dia 22 de maio celebramos o Dia Internacional da Biodiversidade, data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992 para conscientizar a humanidade a respeito da importância da diversidade biológica em todos os ecossistemas.

Mas, o que significa biodiversidade, qual o seu valor, a sua importância e o que ela representa para nós que vivemos no norte do Espírito Santo?

Como o próprio nome indica, o termo trata da diversidade de vida em todos os ecossistemas existentes, seja no mais profundo oceano, no topo das mais altas montanhas ou até no meio da cidade de São Mateus. Ela é usada em referência, não apenas ao número de organismos existentes, como também à variedade genética, de formas e de funções ecológicas desempenhadas pelas diferentes espécies.

Dinizia jueirana-facao. Árvore endêmica do norte capixaba, encontrada somente em Jaguaré e Sooretama.
Foto: Geovane Siqueira/Divulgação

Além de um valor intrínseco, afinal, o planeta não é habitado apenas pela espécie humana, a biodiversidade possui valor econômico, o qual é muito pequeno se virmos somente a extração direta dos produtos ou recursos da natureza, mas é bastante significativo se interpretarmos todas as cadeias econômicas que dependem das espécies e dos ecossistemas. Por exemplo, a medicina em muitos de seus processos terapêuticos depende de descobertas de espécies usadas em fármacos e também em cosméticos.

Só para exemplificar, a cada 150 medicamentos prescritos comercialmente nos Estados Unidos, 118 são compostos por elementos naturais, encontrados em plantas, fungos, bactérias e animais.  Se incluirmos os serviços prestados pelos ecossistemas o valor econômico abarca grande parte da economia.   A conservação de ecossistemas florestais, por exemplo, evitaria emissões de gases que contribuem para o aquecimento global, que hoje gira em torno de um quarto a um terço.

Se pensarmos em água, qual é a produção industrial ou do setor primário que não depende desse recurso? Todos eles dependem de água o tempo inteiro, e a água de qualidade depende de ecossistemas em bom estado de conservação. Para também manter a água que abastece as cidades com menor tratamento possível é necessário que as nascentes estejam protegidas por florestas. Neste caso, a biodiversidade – a floresta – está prestando um serviço que vai além do recurso água, que é a manutenção da qualidade dessa água.

O Brasil ocupa quase metade da América do Sul e é o país com a maior biodiversidade do mundo.  São mais de 116.000 espécies animais e mais de 50.000 espécies vegetais conhecidas no País, espalhadas pelos seis biomas terrestres e três grandes ecossistemas marinhos. Nesta imensidão, o bioma Mata Atlântica tem sido apontado como o mais rico e o mais diverso de todo o mundo. Mas poucos de nós sabemos disso e ainda, pouco sabemos valorar os recursos da biodiversidade e utilizá-los sustentavelmente.  Os usos que fazemos da biodiversidade, em geral, são deletérios, especialmente quando promovemos a fragmentação dos habitats naturais.

A perda da biodiversidade constitui um problema que vem ocorrendo em todo o mundo, em especial nas regiões tropicais do globo. A diminuição da variedade de vida no planeta pode trazer consequências graves. Quando uma espécie entra em extinção coloca em risco várias outras, impactando toda a cadeia ecológica de onde ela faz parte. Essas consequências são mais drásticas nas regiões onde se concentram espécies endêmicas, ou seja, que só vivem em um determinado local e em nenhum outro lugar do mundo. Em relação a flora brasileira, 55% das espécies de plantas são endêmicas do nosso país.

Quando olhamos para o Espírito Santo, totalmente inserido na Mata Atlântica, vale destacar que entre o norte capixaba e o sul da Bahia encontramos a maior diversidade de árvores do planeta! São mais de 450 espécies de árvores em um só hectare! Muitas dessas espécies só ocorrem em áreas muito restritas (endêmicas), como é o caso da Jueirana-facão (Dinizia jueirana-facao G.P.Lewis & G.S.Siqueira), árvore que pode alcançar mais de 30 m de altura e com pouco mais de 30 indivíduos mapeados na natureza, na região de Jaguaré e Sooretama.

Esta relíquia da Mata Atlântica capixaba é uma espécie criticamente ameaçada de extinção. É possível imaginar o que acontecerá com essa espécie se não protegermos os fragmentos de florestas onde ela ocorre? Será que conseguimos dimensionar os impactos do sumiço deste gigante que vive nas florestas de nossa região? A nossa Jueirana-facão não é a única planta endêmica que vive exclusivamente entre o norte do Espírito Santo e o sul da Bahia. São mais de 30 plantas, as quais se juntam animais como sapos, rãs e pererecas, aves, cobras, peixes e insetos que também são endêmicos dessa região. Infelizmente toda essa diversidade e endemismo está associada a uma grande degradação ambiental e, em consequência, computamos hoje, só no Espírito Santo, 950 espécies que correm risco de extinção, sendo 753 espécies vegetais e 197 espécies de animais.

O mais preocupante e também inquietante é que nem toda a biodiversidade dessa região peculiar a Mata Atlântica é conhecida. Preocupante porque ainda não entendemos os valores intrínsecos de mantermos a floresta em pé, as perdas de cobertura florestal ainda são alarmantes e ainda porque corre-se o risco de espécies serem extintas mesmo antes de serem conhecidas por nós. Inquietante porque pesquisadores do Ceunes/Ufes, em parceria com pesquisadores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a cada dia revelam uma particularidade nova dessa interessante biodiversidade regional, ora descrevendo para a Ciência novas espécies de bichos e plantas, ora desvendando e conhecendo aspectos peculiares à biologia de outras espécies.

Que o dia Internacional da Biodiversidade reforce o nosso objetivo de aliar conhecimento científico e popular e difundir a compreensão sobre a biodiversidade de forma transversal, onde todos possam conhecê-la e compreendê-la para preservá-la.

Sempre importante lembrar:

“A biodiversidade, que está intimamente ligada à saúde humana, está se deteriorando de maneira significativa. No entanto, ela é a apólice de seguro de vida da humanidade. Existe apenas um planeta, não um planeta para a natureza e outro para os seres humanos.” (Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco, 2021).

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(*Luis Fernando Tavares de Menezese**Guilherme de Medeiros Antarsão professores do Centro Universitário Norte do Espírito Santo –Ceunes.***Marli Pires Morimé pesquisadora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.)

Foto do destaque: Geovane Siqueira/Divulgação

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