SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As primeiras reivindicações do movimento feminista, ainda na virada do século 19, deram a ele uma cara muito branca: as mulheres queriam trabalhar fora de casa e ter direito ao voto.

Aprisionadas pelo ideal de feminilidade frágil, as feministas brancas buscavam se libertar da noção de que eram menos capazes do que os homens.
Essa visão, porém, não contemplava as mulheres negras, que eram vistas como fortes e já trabalhavam, inclusive em sistemas de escravidão. Surgiu, graças a esse cenário, o questionamento: afinal, quem são essas mulheres para quem fala o movimento feminista?

Essa pergunta gerou o que se convencionou chamar de feminismo negro, ou seja, o conjunto de teorias e práticas do movimento feminista feito pensando tanto as questões raciais, quanto as de gênero.

A corrente ganha força junto com a luta por direitos civis nos Estados Unidos na década de 1960, mas não se restringe às americanas.
Veja abaixo quais autoras você deve ler para conhecer e se aprofundar nesta corrente de pensamento.

ANGELA DAVIS

Nascida em Birmingham, no estado americano do Alabama, Davis presenciou ataques e bombardeios, além agressões racistas da Ku Klux Klan, no bairro onde vivia, uma área de negros de classe média. Era o período pré-direitos civis nos Estados Unidos, quando negros e brancos frequentavam espaços racialmente segregados, e Davis cursou o ensino médio em Nova York, onde existiam escolas integradas.

Leia também:   Jovens quilombolas se unem para realizar filme no norte do Espírito Santo

Depois, ela passou a vida universitária na Alemanha e retornou ao país natal no fim dos anos 1960 para se juntar aos Panteras Negras, um partido socialista americano que foi considerado uma das maiores ameaças pelo FBI. A autora chegou a ser presa e ganhou fama com a campanha “Libertem Angela Davis”. Depois de um ano e meio no cárcere, ela foi inocentada.

Davis ficou famosa durante seu período como ativista e na campanha pela sua libertação —até os Rolling Stones e o casal John Lennon e Yoko Ono dedicaram músicas e ela. Além de ser uma figura marcante, a ativista uniu o feminismo negro ao marxismo e à questão de classe, além de protagonizar a luta pelo abolicionismo penal e o fim das cadeias.

BELL HOOKS
Gloria Watkins, apelidada bell hooks, nasceu no estado americano do Kentucky, no sul do país. O nome em minúsculas entrega bastante dos ideais da autora: ela queria ser reconhecida pela sua escrita, não pela sua pessoa. Como Davis, bell hooks cresceu em escolas segregadas e passou parte da vida escolar em uma escola integrada.

Ela seguiu formação acadêmica em literatura e publicou uma série de poemas, mas foi com seu livro “E Eu Não Sou Uma Mulher?”, de 1981, que ela alcançou notoriedade na área dos estudos de gênero. A obra “Tudo Sobre o Amor” coroa a trajetória da estudiosa com pensamentos sobre a importância do afeto na luta política.

Leia também:   Jovens quilombolas se unem para realizar filme no norte do Espírito Santo

PATRICIA HILL COLLINS

Hill Collins é creditada como uma das precursoras do termo interseccionalidade, que propõe que a opressão sofrida pelas mulheres negras seja entendida tanto à luz do machismo, quanto à luz do racismo.

Ela nasceu na Filadélfia, nos EUA, e fez toda sua carreira acadêmica no país. Em 1990, publicou “Pensamento Feminista Negro”, sua obra de maior impacto, em que ela destrincha a ideia a interseccionalidade. O termo foi usado pela primeira vez por Kimberlé Crenshaw que, junto de Davis e Audre Lorde, inspiraram Hill Collins.

LÉLIA GONZALEZ

Uma das pioneiras do feminismo negro brasileiro, Lélia Gonzalez nasceu em Belo Horizonte em 1935. Assim como as colegas americanas, Gonzalez ficou conhecida por articular a noção de que mulheres negras vivenciam sobreposições de machismo e racismo. Ela questionou a ideia de democracia racial pregada por Gilberto Freyre e empregou a ideia de amefricanidade, a miscigenação latinoamericana e africana.

Gonzalez viveu no Rio de Janeiro com a família —seu irmão se tornou jogador do Flamengo— e se formou no Colégio Pedro 2º, depois na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Após lecionar no ensino básico, ela seguiu a vida acadêmica e virou professora universitária.

A pesquisadora usava o sobrenome espanhol adotado de seu marido, que se matou pouco depois do casamento —a família europeia não aceitava a união com uma mulher negra e pressionava-o.

Leia também:   Jovens quilombolas se unem para realizar filme no norte do Espírito Santo

SUELI CARNEIRO

A paulistana nascida em 1950 é conhecida tanto por sua atuação prática na defesa dos direitos da população negra, quanto por sua trajetória acadêmica, também dedicada à causa racial. Ela fundou o Instituto Geledés, uma organização dedicada às mulheres negras.

Doutora em filosofia pela USP (Universidade de São Paulo), a intelectual usou o conceito de dispositivo de poder cunhado por Michel Foucault para discutir a questão racial e o epistemicídio. Assim, Carneiro entende que o racismo se firma por um conjunto de elementos como instituições, leis, discursos, de modo que se torna socialmente aceito a partir da ideia de que o branco é o padrão e o negro, portanto, está fora da norma.

DJAMILA RIBEIRO

A filósofa e colunista desta Folha é uma das grandes responsáveis por popularizar o feminismo negro no Brasil. Com forte presença nas redes sociais, ela levou o feminismo negro para públicos amplos, seja na mídia ou em redes sociais, e alcançou posições de reconhecimento, caso da secretaria de Direitos Humanos e Cidadania em São Paulo, onde foi secretária-adjunta.

Ela é autora de livros de sucesso como “O que É Lugar de Fala?”, “Pequeno Manual Antirracista” e “Quem Tem Medo do Feminismo Negro”.

Foto do destaque: Wikipédia/Divulgação

COMPARTILHAR

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here