Em dois anos de pandemia parece que vivemos cinco. Novos hábitos, necessidades, famílias em luto e muitos medos no cenário do caos. A pandemia acentuou as incertezas em uma sociedade já doentia, na qual o ponteiro do relógio bate no compasso das mentes aceleradas e ansiosas. A pandemia também impôs distanciamento social, saudades, perdas de empregos, de renda e nossa válvula de escape recorrentemente são as redes sociais. Conseguimos ter mente sã e corpo são nessa conjuntura?

As discussões sobre saúde mental têm sido ampliadas na contemporaneidade. As décadas de 1970 e 1980 marcaram o entendimento sobre o que é saúde no Brasil, período em que o país viveu os movimentos pelas reformas sanitária e psiquiátrica. A partir desse marco, ampliou-se o conceito de saúde, entendendo-a como resultado de determinantes sociais e para além da ausência de doença, contextualizando também o adoecimento mental. Assim, compreende-se que as relações sociais e as condições de vida da população, cada vez mais precárias, refletem em sua saúde mental.

A atual pandemia intensificou e acelerou tendências mundiais. No Brasil, o período é marcado pelo aumento exponencial da pobreza e da fome. O trabalho informal atingiu a marca de mais de 40% da população em 2021, segundo IBGE.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Esse dado torna-se devastador em um país com seguridade social híbrida, nos termos de Ivanete Boschetti, uma das principais pesquisadoras do tema no Brasil. Quero dizer, é um país no qual o acesso a políticas de proteção social são condicionadas majoritariamente pela lógica contributiva, o que implica vínculo empregatício formal. Para os que vivem na informalidade resta tentar se enquadrar nas cada vez mais seletivas medidas compensatórias da assistência social.

Essa realidade sustenta dados como o Brasil ter o maior índice de pessoas com ansiedade no mundo, sendo a incidência ainda maior entre mulheres (OMS). Uma pesquisa do Ministério da Saúde revelou que mais de 80% da população brasileira relata viver com ansiedade generalizada, sendo essa a terceira causa principal de pedidos de afastamento do trabalho no país. São dados que atestam que a saúde mental é um problema de saúde pública.

Com a pandemia, a internet cristalizou-se como espaço de trabalho, estudo e lazer. Diante do isolamento social, a alternativa foi a intensificação da sociabilidade digital. Com ela, podem-se amenizar de forma imediata as necessidades de interação social. Entretanto, um estudo de uma Universidade de Juiz de Fora revelou que o uso intenso da internet tem potencializado a ansiedade, sobretudo por aumento da exposição social, do medo, da necessidade de aceitação pelos outros e de padronização, bem como da agilidade em que respostas precisam ser dadas. O tempo e a entonação da internet são distintos do tempo real. Em outras palavras, o estudo defende que há uma correlação entre o sofrimento psíquico e uma maior exposição às mídias sociais.

Há mudanças e traumas se instalando que precisam ser cuidados. O mês de Janeiro de 2022, por exemplo, foi o mês mais mortal desde 2003. Há consequências individuais e coletivas com tantas perdas.

O desânimo constante, a falta de esperança em dias melhores, a perda do prazer em viver, a insegurança e o medo, os pensamentos catastróficos, a apatia, o rolamento quase automático do Instagram durante a procrastinação, a inércia física e a falta de perspectivas são desoladoras e muitas vezes precisam de acompanhamento profissional.

Diante das dificuldades, o “Não vá se perder por aí”, relembrando música dos Mutantes, nos dá o tom para não desistirmos. Um estudo recente mostrou que mais da metade da população que teve coronavírus relatou também depressão. Por isso lhe pergunto como anda sua saúde mental na pandemia. Essa é uma pergunta retórica. Fique bem e não hesite em procurar ajuda! Dias melhores virão e eu espero que “bata outra vez com esperança” o seu coração…

(*Viviane Vaz Castro é bacharela em Serviço Social pela Ufes  e mestre em Serviço Social e Direitos Sociais pela UERN.)

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