SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pelo segundo dia consecutivo, apoiadores de Jair Bolsonaro (sem partido) desafiaram a regra de isolamento social contra o coronavírus recomendadas pela Organização Mundial da Saúde para protestar em carreata neste domingo (19).

Há manifestações em curso em diferentes pontos do país, como Salvador, Manaus e Brasília, além de um início de concentração em São Paulo, onde a carreata está prevista para o início da tarde.

Bolsonaro tem negado a gravidade da pandemia, promovendo passeios e aglomerações em Brasília, ao contrário do que recomenda a OMS. O presidente demitiu seu então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, por discordar de seu posicionamento técnico.

Além da gestão Bolsonaro, outros governos que ignoram a seriedade da doença são Turcomenistão, Nicarágua e Belarus.

Os manifestantes da carreatas pedem a volta ao trabalho e a abertura do comércio. Há discursos em defesa do isolamento vertical, quando só os grupos de risco ficam em isolamento.

Neste domingo, em Brasília, a carreata, além de pedir o fim do isolamento social, ocorre em apoio ao presidente Bolsonaro e pede o fechamento do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal).

O ato convocado por grupos conservadores percorre os principais pontos políticos da capital federal. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é o mais atacado pelos manifestantes. O protesto também teve como alvo as medidas de isolamento adotadas pelo governador Ibanês Rocha (MDB).

“Isolamento vertical”, “Fora, Maia”, “AI-5 já ” e “Globo lixo” estampavam adesivos nos veículos e em camisas dos manifestantes. Com um carro de som e mais de cem motos e carros, a carreata tentou parar em frente ao Palácio do Planalto, mas foi impedida pela Polícia Militar do Distrito Federal.

Além de bandeiras do Brasil e faixas contra os poderes Legislativo e Judiciário, alguns manifestantes carregavam cartazes pedindo intervenção militar e até o “direito de explodir a cabeça de um petista” caso ele invada sua propriedade.

Neste sábado (18), o número de mortes pelo novo coronavírus chegou a 2.347 no Brasil.

Em 24 horas, foram registrados 206 óbitos pela doença. Os dados foram divulgados pelo Ministério da Saúde. Ao todo, são 36.599 casos confirmados da Covid-19.

De acordo com o balanço, o índice de letalidade do novo vírus, em relação ao total de casos, está em 6,4%. No dia anterior eram 33.682 casos e 2.141 mortes.

O ministério, porém, afirma que a tendência é que o número real de casos seja maior, já que apenas pacientes internados em hospitais fazem testes e há casos que ainda esperam confirmação.

São Paulo continua sendo o estado mais afetado pela pandemia. Já são 991 mortes pela doença e 13.894 casos confirmados.

O Rio de Janeiro é o segundo com mais casos e mortes em decorrência da Covid-19. São 387 óbitos e 4.543 com o teste positivo para Sars-CoV-2. Em relação ao número de mortes, aparecem na sequência Pernambuco, com 205, Ceará, com 176 e Amazonas, com 161.

Depois de São Paulo e do Rio de Janeiro, os estados com maior número de casos confirmados são Ceará, com 3034 , Pernambuco, com 2.193, e Amazonas, com 1897.

O apoio à quarentena como forma de evitar a disseminação do novo coronavírus sofreu uma queda nas duas últimas semanas, mas ainda é majoritária entre os brasileiros.

Segundo o Datafolha, são 68% aqueles que dizem acreditar que ficar em casa para conter o vírus é mais importante, ainda que isso prejudique a economia e gere desemprego.

No levantamento anterior do instituto, feito de 1º a 3 de abril, eram 76%. A pesquisa atual ouviu 1.606 pessoas na sexta (17) e tem margem de erro de três pontos percentuais.

Essa queda não se reverteu integralmente em apoio à afirmação contrária, de que vale a pena acabar com isolamento social em nome da reativação econômica. O índice dos que concordam com isso oscilou positivamente de 18% para 22%, enquanto aqueles que não sabem foram de 6% para 10% no período.

O debate, visto por especialistas tanto em economia como em saúde como desfocado e politizado, tem pautado polêmicas envolvendo Jair Bolsonaro (sem partido).

Depois de minimizar a gravidade da Covid-19, a comparando a uma “gripezinha”, o presidente passou a insistir no foco do impacto econômico das quarentenas.

No cálculo, está o temor de que a recessão que provavelmente seguirá a emergência sanitária do Sars-CoV-2 solape seu apoio em cerca de um terço do eleitorado.

Em oposição, governadores como João Doria (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-RJ), assumiram a linha de seguir as recomendações internacionais de saúde, priorizando o isolamento.

O resultado é uma queda de braço que marca a organização do combate à pandemia no Brasil e já deixou vítimas políticas no caminho.

Luiz Henrique Mandetta perdeu o cargo de ministro da Saúde na quinta (16), entre outros motivos, por não concordar com as diretrizes de Bolsonaro sobre o isolamento social.

O Supremo Tribunal Federal interveio e decidiu na quarta (15) que os estados e municípios têm liberdade para impor as restrições que decidirem durante a crise.

Isso contrariou o presidente Bolsonaro, que se queixou de estar de mãos atadas na questão. Ele queria editar decreto obrigando a reabertura do comércio. Manteve o tom na sexta (17), quando sugeriu que as pessoas desobedecessem as ordens locais.

Além disso, a maioria expressiva dos brasileiros, 79%, defende algum tipo de punição para pessoas que violem regras de quarentena devido ao novo coronavírus no país. Desses, contudo, apenas 3% acham que prisão seria uma sanção aceitável. Já multas têm apoio de 33% e advertências verbais, de 43%.

A aplicação de medidas restritivas de circulação de pessoas entrou no debate público na semana retrasada. O governador paulista, João Doria (PSDB), disse que poderia considerar até a detenção como recurso último caso a pandemia se agravasse.

Hoje, não há no país quarentena que impeça pessoas de ir à rua, apenas determinando o fechamento de comércio não essencial.

Doria foi acusado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de arbítrio. O tucano recuou e não falou mais no tema. Na sexta (17), ele estendeu a quarentena paulista até 10 de maio, sem endurecer regras.

Para 18% dos ouvidos pelo Datafolha, os governos não deveriam ter direitos sobre a circulação das pessoas. Outros 3% não souberam responder.

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