CLAYTON CASTELANI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em um dia de altos e baixos nos indicadores do mercado provocados por pressões internas e externas, as negociações desta terça-feira (6) terminaram com alta da Bolsa, queda dos juros futuros e ligeira valorização do real.

Entre os assuntos que mais mexeram com os ânimos de investidores, o que recebeu maior destaque nos comentários de analistas foi o avanço no Senado do texto da PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição.

O dólar comercial fechou o pregão em queda de 0,24%, a R$ 5,2690, resistindo a uma sessão de ligeira alta da moeda americana frente às principais divisas estrangeiras.
O índice Ibovespa, parâmetro para as ações negociadas na Bolsa de Valores, subiu 0,72% aos 110.188 pontos.

No mercado de juros futuros, as taxas de curto prazo caíram ligeiramente. Os contratos DI (depósitos interbancários) com vencimento em 2024 cederam de 13,98%, na véspera, para 13,92%. Os juros DI, negociados entre bancos e que servem de referência para todo o setor de crédito, tendem a perder terreno quando agentes desse segmento avaliam que a inflação pode subir menos do que o esperado.

“Em dia de agenda doméstica vazia, o mercado segue precificando o risco fiscal de olho na PEC da Transição, que avança no Senado”, comentou Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora.

Em Brasília, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado aprovou a PEC da Transição pelo prazo de dois anos com impacto fiscal de R$ 145 bilhões para o pagamento do Bolsa Família -R$ 30 bilhões a menos que o apresentado pelo relator.
A PEC também prevê mais R$ 23 bilhões para investimentos fora do teto de gastos em caso de arrecadação de receitas extraordinárias. Na prática, a proposta eleva o gasto extrateto para R$ 168 bilhões.

“A licença para ampliação de gastos em dois anos agrada mais o mercado e, na minha visão, acabou passando uma imagem de que os gastos não ficarão descontrolados por tanto tempo”, disse Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital.
“A expectativa em relação a uma PEC com menos gastos do que o previsto inicialmente também ajudou o real a se valorizar diante do dólar hoje”, completou Labarthe.

No exterior, os mercados de ações fecharam predominantemente negativos. O índice S&P 500, que é parâmetro para a Bolsa de Nova York, caiu 1,44%. O indicador Nasdaq, que reúne empresas de médio porte do ramo de tecnologia e é mais sensível à expectativa de persistência da inflação e de alta dos juros, perdeu 2%.

A preocupação quanto ao efeito da alta dos juros sobre a economia americana era apontada por analistas como um a das razões para que, pela primeira desde janeiro, a cotação do barril do petróleo Brent recuasse para menos de US$ 80. O preço estava em US$ 79,59, com queda de 3,74% nesta tarde.

O valor do petróleo Brent é referência para os preços praticados pela Petrobras, que anunciou nesta terça que reduzirá a partir desta quarta-feira (7) os preços da gasolina e do diesel vendidos por suas refinarias. A gasolina cairá 6,1% para o menor valor desde o fim de setembro de 2021. O preço do diesel será reduzido em 8,2%.

As ações preferenciais da companhia, as mais negociadas da empresa na Bolsa, passaram a cair após o anúncio, mas voltaram a subir com o mercado mais otimista após a aprovação da PEC e terminaram a sessão com alta de 0,08%.

Ed Morse, chefe global de pesquisas de commodities do Citigroup disse à Bloomberg que, diante da perspectiva de desvalorização, especuladores estão liquidando contratos futuros dessa mercadoria para receber lucros obtidos com a forte alta da mercadoria nos últimos meses. “Estamos chegando ao final do ano e quem ganho dinheiro não quer perder”, disse Morse.

Há ainda outro motivo que pode estar pressionando para baixo o preço do petróleo. Em nova rodada de sanções econômicas contra a Rússia, a União Europeia, apoiada pelo G7 e pela Austrália, fixou um limite de US$ 60 por barril para que os navios transportadores de petróleo russo pudessem contratar seguros e outros serviços das empresas do bloco europeu. O produto russo tem sido exportado por cerca US$ 65.

Cresceu nos últimos dias a percepção entre investidores de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) manterá a taxa de juros de referência para o país em patamar considerado elevado (acima de 4% ao ano) e isso vem alimentando temores de que haverá recessão.

A explicação para isso pode ser interpretada como contraditória, mas é justamente a força da economia americana que provoca essa ameaça de recessão no futuro.

O Fed vem subindo juros desde o início do ano para frear uma inflação histórica e os efeitos esperados dessa medida são a redução do consumo e da oferta de empregos (fazendo com que os salários parem de subir). Mas isso está ocorrendo de forma lenta e, por isso, o aperto à oferta de crédito deverá ser mantido por mais tempo.

“A economia continua mostrando um grau de força que eu acho que não era esperado”, disse David Donabedian, diretor de investimentos da CIBC Private Wealth US, ao The Wall Street Journal. “O consumidor está aguentando muito bem, empregos continuam sendo adicionados, o crescimento salarial é significativo e os consumidores ainda estão gastando.”

Foto do destaque: Reprodução

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