LOLA FERREIRA
RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – A Ouvidoria da Defensoria Pública do Rio de Janeiro afirma que ao menos 20 pessoas morreram nesta quinta-feira (21) durante operação policial no Complexo do Alemão, zona norte do Rio. A operação foi feita com equipes do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar e da Core (Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais) da Polícia Civil. Até as 17h20, a Polícia Militar confirmava apenas cinco dessas mortes.

Guilherme Pimentel, ouvidor da Defensoria Pública, afirma que levantou o número junto ao diretor da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Alemão -onde chegaram 15 corpos- e da equipe de assistência social do Hospital Estadual Getúlio Vargas -onde chegaram 5 corpos, incluindo de um policial militar. Ao longo da tarde desta quinta, moradores levaram corpos às unidades de saúde.

Duas das vítimas têm identidade conhecida: Letícia Salles, 50, atingida por um tiro em um carro, e o cabo da PM Bruno de Paula Costa. De acordo com a PM, o cabo Costa foi atingido durante um ataque à base da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) por criminosos.

Entre os cinco mortos confirmados pela PM, a corporação diz que três eram criminosos, mas não divulgou a identificação deles para a informação ser checada de forma independente. A Polícia Militar convocou uma coletiva de imprensa para as 18h desta quinta.

FAMÍLIA ACUSA PMS POR MORTE DE MULHER

Familiares de Letícia denunciam que policiais militares atiraram contra o carro em que ela estava e a atingiram no peito durante a operação. Letícia foi levada para uma unidade de saúde local, mas morreu.

Os familiares de Letícia afirmam que não havia tiroteio na Estrada do Itararé, de acesso à comunidade, quando os PMs dispararam contra o carro em que Letícia estava com o namorado e um primo. Os PMs não socorreram a mulher.
Procurada, a PM não respondeu sobre a responsabilização da morte de Letícia. Em nota, a corporação afirmou que “acompanha e colabora integralmente com todos os procedimentos”.

Segundo a PM, quatro homens em fuga foram detidos na Favela da Galinha, perto do Alemão. A corporação também informou a apreensão de uma metralhadora .50 (capaz de derrubar helicóptero), quatro fuzis e duas pistolas.

Após a confirmação das mortes, uma manifestação de mototaxistas foi organizada nos acessos às comunidades. No Twitter, a Polícia Militar afirmou que o ato “é para garantir oportunidade de fuga de criminosos cercados na operação”, sem maiores explicações.
Ainda em nota, a corporação informou que a operação de hoje ocorre após investigações sobre roubos de veículos em bairros da zona norte e roubos a bancos em Niterói, na Baixada Fluminense e também no município de Quatis. A PM afirma também que o grupo alvo da operação desta quinta atua em roubos de carga e de óleo diesel – para derramar o combustível em acessos a comunidades e dificultar operações policiais.

A corporação não informou se havia mandados de prisão ou de busca e apreensão a serem cumpridos na operação desta quinta.
Nas redes sociais, moradores do Complexo relatam um cenário de guerra em meio à operação, com “rajadas de tiros” e moradores sendo acordados pelo barulho das balas.

“Já estamos no local mais seguro de nossa casa, já vai para quase 1 hora. Os tiros ecoam em nossos ouvidos. É desesperador demais. A nossa realidade não é perfeita igual muita gente pinta”, desabafou Renata Trajano.

“Meu barraco treme a cada rasante desse helicóptero, isso não é normal, banalização das nossas vidas não é normal”, completou a cofundadora do Coletivo Papo Reto.
“Muitas rajadas de tiros nesse momento. O cenário é de guerra. Tiroteio intenso nessa manhã aqui no Complexo do Alemão”, relatou Rene Silva, fundador do Voz da Comunidade.

“Eu acabei de acordar com um tiro de fuzil entrando pelo teto da minha casa e acertando a barriga do meu marido, por causa da operação que está acontecendo no Alemão. E detalhe, eu moro a quilômetros do Alemão”, publicou Jully Azevedo, detalhando que o companheiro foi atingido de raspão após o disparo ser amortecido primeiro por uma parede.

“Daqui dá pra ficar ouvindo o barulho da bala passando pertinho”, afirmou um outro morador do Complexo, na madrugada desta quinta.

 

Foto do destaque: Eduardo Anizelli/Folhapress

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