A fase crítica que envolve a descoberta e as primeiras reações do tratamento contra o câncer tem um agravante para muitas mulheres: a perda de cabelos. Fato é que nem todas as abordagens medicamentosas têm como efeito colateral a queda dos fios, mas nesse mês da conscientização para a prevenção do câncer de mama é necessário abordar, sob a ótica de um tricologista, o que pode ser feito em favor das mulheres que estão tratando o câncer e de fato perdendo cabelos.

Com mais de duas décadas de experiência lidando com tratamentos capilares, o médico e tricologista Ademir Leite Junior responde questões sobre o que pode ser feito durante as fases de perda e de recuperação dos fios.

 

Ademir Leite Júnior é médico e tricologista, diretor da Academia Brasileira de Tricologia.

O que a paciente não deve fazer assim que começar a perder cabelos durante o tratamento?

Para alguns pacientes a perda de cabelos é inevitável e acontece em alguns dias após o início do tratamento. Isso acontece pelo tipo de medicamento quimioterápico e a dose prescrita pelo oncologista, explicando simplificadamente. Infelizmente, a situação é vista como esperada e natural.

A essa altura, a paciente já deve estar ciente dessa condição, embora não se tenha precisão da intensidade da queda de cabelos desde a perda dos primeiros fios. Muitas optam por um corte estilo curtinho ou por raspar a cabeça, o que não impacta nos resultados do tratamento, diferentemente do que pode ocorrer se a paciente, por conta própria, ingerir fórmulas e substâncias a fim de amenizar o processo. Isso não deve ser feito.

 

Então o que a tricologia pode fazer pela paciente que está perdendo os cabelos durante a quimioterapia?

Por ser uma condição esperada, muitas pacientes nem chegam a procurar acompanhamento profissional e acabam perdendo a oportunidade de contar com orientações ou mesmo algum tratamento possível nessa fase. É importante dizer que os cuidados com pacientes em quimioterapia dentro da ótica tricológica só são possíveis mediante liberação do médico oncologista e devem ser o menos consumptível possível, sem, inclusive, interferir na resposta do paciente aos quimioterápicos ou gerar mais efeitos colaterais do que os já esperados na quimioterapia.

 

O que há de mais avançado e disponível no Brasil em termos de equipamentos para minimizar a queda capilar?

Os capacetes e toucas criogênicas, ou a touca hipotérmica, que têm como função manter baixa a temperatura do couro cabeludo, diminuído pela vasoconstrição o fluxo de sangue no local. A preservação pode chegar a 50%, em casos especiais 70%.

Importante ressaltar que a recomendação da touca depende do crivo do oncologista responsável que avalia também a probabilidade de sucesso no uso e o nível de resistência da paciente.

 

Qual momento certo para o tricologista entrar com tratamento?

A tricologia só deverá participar do tratamento mediante autorização do oncologista e com cuidados cosméticos e pouco invasivos autorizados por este profissional. O uso de cosméticos deve ser respaldado pelo oncologista pois tudo que o paciente não precisa neste momento é agravar sua situação clínica que, apesar do dano emocional da perda capilar, é mais importante para a integridade e para a vida do paciente do que o cabelo em si. E, como já sabemos, ao final da quimioterapia o cabelo tende a voltar naturalmente, e com cuidados tricológicos esse retorno pode ser substancialmente acelerado.

 

O que a paciente oncológica pode fazer em casa e a importância das próteses capilares durante o tratamento?

As próteses devem ser confortáveis e naturais para que a paciente possa ter uma vida social, na medida de sua possibilidade, sem muito comprometimento. Sabemos que elas são transitórias, então o investimento nesse tipo de cobertura do couro cabeludo deve se adequar ao impacto emocional que a queda capilar provoca nas pacientes e na necessidade de que a prótese não seja percebida como um adereço, mas sim como um cabelo normal.

No mais, a paciente que deseja cuidar da saúde em um aspecto amplo pode em casa seguir estritamente a dieta recomendada, o uso dos cosméticos prescritos para cuidar da pele em geral nessa fase, caso tenha sido necessário, e o consumo da suplementação que reponha o que a paciente individualmente venha precisar.

Fale sobre a importância de contar com o tricologista, que é especializado, para prescrever e conduzir esse tratamento de retomada da saúde capilar, sobretudo, para não conflitar com os medicamentos oncológicos.

O tricologista, tendo a compreensão da importância de seu trabalho e decidido a trabalhar em parceria com o oncologista, passa a ser um membro importantíssimo da equipe multidisciplinar que trabalha na recuperação de pacientes que perdem cabelos pela quimioterapia. Mas reforço a necessidade de termos aqui uma avaliação rigorosa de formulações que sejam seguras e ao mesmo tempo eficientes para promover o efeito desejado (recuperação mais rápida dos cabelos), assim como para não promover mais desconforto do que a própria quimioterapia e a recuperação de um quadro oncológico já promove. Em tempo, se houver autorização do oncologista, sessões de terapias capilares com laser de baixa potência e, até mesmo, óleos essenciais podem ser orientados.

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