A sessão solene para homenagear os professores, realizada quinta-feira (2) a pedido do presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, deputado Bruno Lamas (PSB), foi usada pela oradora, a professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e reconhecida epidemiologista Ethel Maciel, para mandar um recado direto ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em seu discurso, Ethel – que falou em nome dos 28 homenageados da noite – frisou com orgulho o fato de ter sido recém-eleita reitora da universidade, porém, lamentou que até o momento ainda não tenha sido empossada pelo Presidente, apesar de ter sido escolhida pela comunidade acadêmica.

Ethel Maciel também aproveitou a ocasião para criticar os recém-anunciados cortes de verbas em áreas importantes, por parte do governo federal.

“Estamos vivendo um momento simbólico, estamos fazendo essa sessão dias depois que nós fomos surpreendidos por um corte de R$ 5 bilhões na nossa educação, ciência, tecnologia e saúde, nesse país, enquanto vivemos ainda uma pandemia, apesar do nosso governo federal tentar dizer o contrário”, lamentou ela, que em nenhum momento retirou a máscara de proteção.

E continuou: “Só estamos sentados nessa sessão graças à ciência, só estamos aqui hoje porque fomos vacinados, porque muitos cientistas se dedicaram pra que tivéssemos aqui a nossa vacina e pudéssemos estar novamente em convívio. E diante disso tudo, de tudo que passamos, o governo federal ainda se sentiu na posição de cortar o dinheiro da educação”, desabafou a homenageada.

Em sua fala, a professora citou a liberdade defendida por Paulo Freire, patrono da educação brasileira e que deu nome à medalha entregue por Bruno na noite de ontem aos profissionais que se destacam na luta por uma escola de qualidade.

“A liberdade (de) que Paulo Freire fala, infelizmente, muitas das nossas crianças não têm. As nossas crianças não podem fazer esse percurso que eu e o deputado Bruno (Lamas) fizemos, que vários de vocês fizeram aqui. Então, eu gostaria de dizer o quanto este momento é simbólico”, pontuou ela, sob aplausos da plateia.

Ethel confessou que sonha com dias melhores e agradeceu ao trabalho que Bruno tem feito à frente da Comissão, na Assembleia Legislativa, em prol da educação capixaba.

“Eu quero sonhar, como Paulo Freire nos ensinou, eu quero viver num mundo onde um pedagogo não precise ter dois empregos. Eu quero viver num mundo, onde essa não precise ser uma conquista, porque a gente não precisará disso, porque o nosso pedagogo terá um salário digno”, disse a convidada, ao se referir a uma emenda à Constituição Estadual de autoria de Bruno que garante aos pedagogos ter duas cadeiras no serviço público, uma bandeira histórica da categoria e que, enfim, saiu do papel.

Bruno, por sua vez, evitou polemizar e destacou a importância e simbolismo da sessão, que contou com a participação da mãe dele, a professora e ex-vice-prefeita da Serra Márcia Lamas e o pai, o advogado Humberto Aires, além de pessoas que seguem à risca os ensinamentos de Paulo Freire, considerado um dos mais notáveis pensadores da pedagogia mundial.

Ele fez questão, no discurso, de destacar os feitos dos homenageados, justificando a escolha dos seus nomes para receber a homenagem.

“Entre os livros escritos por ele (Paulo Freire), gosto de ‘Pedagogia da Autonomia’, que propõe que cada professor seja autor da sua própria prática, buscando assim novos caminhos para ensinar aos nossos alunos”, destacou o parlamentar.

Bruno disse acreditar no legado deixado pelo educador, e falou como os ensinamentos dele são aplicados nas escolas atualmente:

“Paulo Freire foi o primeiro a pensar num projeto que funciona até os dias de hoje, que é a escola aberta: quando abria as escolas aos finais de semana para refeições e atividades recreativas dos alunos. Hoje, esse projeto funciona com atividades esportivas e culturais em algumas escolas públicas do Espírito Santo”, afirmou Bruno.

 

Foto de destaque: Ana Salles

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