LUCIANO TRINDADE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Alessandro Barcellos, presidente do Internacional, sentiu medo na última vez que o clube foi campeão brasileiro, em 1979. Ele tinha oito anos na época, estava no Beira-Rio na decisão com o Vasco, mas pouco se lembra do jogo vencido pelos gaúchos por 2 a 1. Foi a comemoração de um tio que ficou gravada em sua memória.

Fotos : Ricardo Duarte/Internacional.

“No momento em que a gente ganhou o título, meu tio me colocou na garupa dele e pulava muito. Eu fiquei emocionado com a vitória e ao mesmo tempo com medo de cair lá de cima. A arquibancada era muito alta e eu ainda em cima de outra pessoa”, recorda-se o mandatário, em entrevista à reportagem.

Essa é a lembrança esportiva mais antiga de Barcellos. Ele a mantém viva até hoje, sobretudo pelos laços que estabeleceu com ídolos daquela conquista, como o ponta direita Valdomiro. “Ele estava de aniversário ontem [quarta-feira, 17], eu liguei para os mandar os parabéns.”

Quatro décadas depois, o dirigente espera ter uma participação importante na tentativa de o Inter voltar a vencer o Nacional e sair do jejum de 41 anos na competição. Ele se orgulha de dizer que ajudou a montar o elenco que poderá ser campeão neste domingo (21), em caso de vitória sobre o Flamengo, no Maracanã.

Eleito no dia 15 de dezembro, Barcellos atuou como vice-presidente de futebol de dezembro de 2019 a outubro de 2020, quando se lançou candidato. Ao assumir, passou a ter de lidar com as dívidas do clube, de cerca de R$ 800 milhões, segundo o relatório Análises Financeiras dos Clubes Brasileiros de 2019, feito pela empresa de consultoria EY.

“Nós assumimos o clube com quase R$ 400 milhões em dívidas de curto prazo. Nosso desafio era buscar novas receitas”, afirma. Ele também cita corte de gastos em despesas recorrentes, como consumo de água, luz e telefone, viagens, logísticas e salários.

Isso já foi feito pelo clube recentemente, em maio do ano passado, quando cerca de 30% dos gastos foram cortados. De acordo com Barcellos, mesmo em caso de conquista do título brasileiro, outro corte será necessário. “Nós precisamos começar a gerar superávit, porque hoje trabalhamos no déficit. E esse superávit vai gerar caixa para que, a partir daí, a gente possa amortizar essa dívida de R$ 400 milhões.”

Em março, a gestão dele apresentará ao conselho deliberativo uma nova previsão orçamentária. Até lá, os cofres colorados poderão ter sido abastecidos com cerca de R$ 25 milhões, valor alcançado pela soma das premiações que poderão ser pagas ao clube com as cotas de TV aberta e fechada.

O Inter, como os demais 19 clubes da Série A do Nacional, assinou acordo com a Globo para transmissões em TV aberta até 2024. Pelo contrato, a empresa paga R$ 600 milhões por temporada, divididos da seguinte forma: 40% (R$ 240 milhões) distribuídos de maneira igualitária entre os clubes, 30% (R$ 180 milhões) de acordo com a classificação no campeonato e outros 30% segundo o número de jogos transmitidos.

Na TV fechada, o time gaúcho tem contrato com Turner, que divide R$ 150 milhões entre os oito clubes com os quais possui acordo na Série A deste ano, seguindo modelo semelhante: 50% igualmente, 25% conforme a audiência dos jogos e 25% de acordo com colocação na tabela.

Athletico, Bahia, Ceará, Coritiba, Fortaleza, Palmeiras e Santos também têm contrato com o grupo americano, e nenhum deles têm mais chance de terminar o torneio à frente do Inter, que receberá a maior cota.

O montante com o qual o presidente espera contar é maior do que a previsão inicial. Ao assumir o clube, ele tinha como meta conquistar uma vaga na Copa Libertadores –na segunda semana de dezembro, passadas 25 rodadas, o Inter era o quinto colocado, nove pontos atrás do então líder São Paulo.

“Sem dúvida nenhuma, a premiação será importante. Compensará financeiramente as desclassificações que nós tivemos na Libertadores e na Copa do Brasil, talvez mais cedo do que imaginávamos. E tem uma valorização que é intangível, dos ativos do clube, da marca, dos jogadores”, afirma.

Além desses reflexos, o presidente espera que a conquista ajude a aumentar a base de sócios-torcedores, que conta atualmente, segundo o dirigente, com cerca de 130 mil associados.

Barcellos trata essa área com atenção especial, sobretudo para suprir a falta de receita proveniente das bilheterias dos jogos, uma vez que a pandemia do coronavírus tirou as torcidas dos estádios. Segundo o cartola, entre 6% e 7% do faturamento do clube vêm dos jogos.

O presidente espera que os estádios brasileiros voltem a ter torcida neste ano e sabe que isso depende de uma aceleração do plano de vacinação para conter a Covid-19.

Neste domingo, ele ainda será um dos poucos colorados que poderão torcer pelo clube dentro do Maracanã. A preocupação é evitar qualquer assunto polêmico que possa desestabilizar o elenco, como o recente entrevero entre ele e o vice de futebol do Flamengo, Marco Braz, a respeito da arbitragem do duelo entre Inter e Vasco.

Após o jogo vencido pelos gaúchos por 2 a 0 no último domingo (14), Barcellos criticou a arbitragem pela marcação de um pênalti para os vascaínos, desperdiçado por Cano. Braz, então, ironizou a postura do dirigente colorado. “Não está acostumado com finais”, disse o rubro-negro. “Está tentando botar pressão para um jogo futuro.”

Barcellos preferiu elogiar o time carioca. “Vamos enfrentar um grande clube, com um grande técnico. Respeitamos demais a torcida do Flamengo”, disse.

O cartola se esquivou, ainda, de cravar qual será o futuro do técnico Abel Braga após o fim do Brasileiro, quando termina o seu contrato, e também sobre a possibilidade da chegada do espanhol Miguel Ángel Ramírez. “Trabalhamos para que ele [Abel] conclua a temporada para que, no dia 26, 27, a gente possa sentar e buscar um planejamento para o próximo período.”

PERFIL – Alessandro Barcellos, 49

Formado em administração, tem especialização em gestão e inovação pela Unicamp. Atuou como chefe de gabinete de três deputados estaduais. É conselheiro do Internacional desde 2014 e ocupou os cargos de vice-presidente de administração e finanças e vice-presidente de futebol antes de assumir a presidência, em dezembro.

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