RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O porteiro do condomínio Vivendas da Barra que citou o nome do presidente Jair Bolsonaro no inquérito sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes mora numa área controlada por milícia.
Alberto Jorge Ferreira Mateus mora na Gardênia Azul, zona oeste do Rio de Janeiro. A Polícia Civil esteve no local no início da tarde desta sexta-feira (8) para intimá-lo a depor.
Familiares afirmaram que ele não estava no momento. Relataram também aos agentes que o funcionário estava assustado após a divulgação de sua identidade. O nome do porteiro e o local onde ele mora foram revelados pela revista Veja e confirmados pela Folha de S.Paulo.
Em nota, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou nesta sexta que assumiu a assistência jurídica do porteiro. “Neste momento, não vamos nos manifestar sobre o caso”, informou, na mesma nota.
Foi Beto, como é conhecido no bairro, quem atribuiu a “seu Jair” da casa 58, de Bolsonaro, a autorização para a entrada do ex-policial militar Élcio de Queiroz, acusado de dirigir o carro usado do assassinato de Marielle e Anderson.
Na planilha manuscrita de controle de entrada consta a unidade 58 como quem autorizou a entrada -a coluna para o nome da pessoa, contudo, está em branco.
Élcio, contudo, teve como destino a casa de um vizinho do presidente, o policial militar aposentado Ronnie Lessa, acusado de ter disparado os tiros contra as vítimas.
Em dois depoimentos à Polícia Civil, Alberto disse que foi “seu Jair” quem autorizou a entrada de Élcio. Declarou também que, ao notar que o ex-PM se dirigira à casa de Lessa, a 65/66, voltou a ligar para a unidade 58. Recebeu como resposta do mesmo interlocutor de que sabia para onde o visitante estava ainda.
A citação ao nome do presidente levou Ministério Público do Rio de Janeiro a consultar o STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a possibilidade de seguir com a investigação no Rio de Janeiro, em razão do foro especial. A Procuradoria-Geral da República afirmou que não havia indícios de envolvimento de Bolsonaro em razão dos fatos que contradiziam o depoimento.
Bolsonaro, deputado federal à época, estava na Câmara no dia do crime. Além disso uma gravação do interfone da portaria aponta que foi Lessa quem autorizou a entrada do ex-PM, afirma perícia do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Essa análise foi usada pela Promotoria para contradizer o depoimento de um porteiro que apontou “seu Jair” da casa 58, de Bolsonaro, como o responsável por liberar a entrada do acusado.
A Folha de S.Paulo revelou, contudo, que a perícia do Ministério Público não avaliou a possibilidade de algum arquivo ter sido apagado ou renomeado antes de ser entregue às autoridades. Ela tinha como único objetivo instruir a ação penal contra os acusados de matar Marielle e Anderson, provando o encontro dos dois réus.
Essa mídia com a gravação foi entregue à Polícia Civil no último dia 7 de outubro pelo síndico do condomínio. Nela constavam arquivos referentes aos meses de janeiro, fevereiro e março de 2018.
A entrega ocorreu dois dias depois de policiais terem feito busca e apreensão na portaria do Vivendas da Barra em busca da planilha de controle de entrada de visitantes.
No mesmo dia 7, o porteiro foi ouvido -ele foi reinterrogado dois dias depois, reafirmando o relato inicial, envolvendo Bolsonaro.
O único objetivo da análise nos arquivos entregues pelo síndico foi confirmar se é de Ronnie Lessa a voz que autoriza a entrada do ex-policial militar Élcio de Queiroz.
Os peritos usaram como base de comparação o interrogatório do PM aposentado dado à Justiça no caso Marielle no dia 4 de outubro.
Os questionamentos das promotoras aos peritos não incluem perguntas sobre a possibilidade de algum arquivo ter sido apagado ou renomeado.
O nome do arquivo é que indica qual casa recebeu a ligação da portaria –o arquivo que apresenta o anúncio de Élcio a Lessa tem o trecho B65, indicando ter como destino a casa 65.
O documento também indica que os técnicos não tiveram acesso ao computador de onde os dados foram retirados.
O presidente da Associação Brasileira de Criminalística, Leandro Cerqueira, afirmou que, sem acesso à máquina em que os arquivos foram gravados, não é possível identificar se um arquivo foi apagado ou renomeado.
“A edição pura e simples, se cortou alguma coisa, dá pra fazer [apenas com a cópia]. O arquivo pode não estar editado, mas pode ter sido trocado. Tem ‘n’ coisas que aí não é a perícia no áudio, é a perícia da informática. Para ver se não foi alterada a data ou qualquer outra coisa nesse sentido, tem que ter acesso ao equipamento original. A perícia vai lá, faz um espelho, e pericia o espelho, para garantir a idoneidade da prova”, afirmou.
O computador da administração do condomínio, com o sistema de gravação, só foi apreendido nesta quinta-feira (7).
Peritos vão analisar se houve alguma alteração no sistema de gravação de chamadas entre a portaria e as casas do local. O objetivo é esclarecer todo o contexto sobre a autorização de entrada do ex-policial militar Élcio de Queiroz, também acusado no crime, no condomínio horas antes do homicídio.

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