Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire, pernambucano, é um dos pedagogistas e educadores mais renomados do mundo. No passado 19 de setembro, foi o centenário de seu nascimento: dedicou toda a sua vida à educação das populações mais empobrecidas. Ele próprio, na adolescência, sofreu os estímulos da fome e da precariedade alimentar. A originalidade de seu método pedagógico consiste em “ensina a ler o mundo para transformá-lo”. Propôs um novo método de ensinar – cujo centro é o educando e o contesto social em que ele vive – para os empobrecidos participarem de modo consciente e ativo na vida social e política de seu país.

Dedicou sua obra-prima: “Pedagogia do Oprimido” aos “esfarrapados do mundo”. “Não se pode falar de educação sem amor” – ele dizia. Gostava de ser recordado como alguém que amou profundamente a humanidade, sobretudo, as classes humildes e descartadas. Apesar de ser um dos pensadores mais referenciados nos trabalhos acadêmicos e ser o autor mais citado nas ciências sociais em todo o planeta, no Brasil é um ilustre desconhecido e sua obra, emarginada e desprezada. A “Pedagogia do Oprimido” foi traduzida em mais de 40 línguas; o próprio autor foi agraciado com o título prestigioso “Doutor honoris causa” por 41 universidades do mundo inteiro e mais de 500 escolas se orgulham de trazer o seu nome.

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Um autêntico educador ensina não somente a ler e a escrever, mas conduz o educando a ter uma consciência da categoria social, a que ele pertence, e do sistema social, que rege o seu país: a educação se não for libertadora – salientava Paulo Freire – o oprimido vira opressor. A consciência crítica das injustiças, que permeiam a nossa sociedade, nunca vai ser dada pelas classes dominantes”. O atual sistema neoliberal manipula a vida do nosso povo, alienando-o e oprimindo-o.

O regime militar, apercebendo-se do perigo que este método de conscientização representava para a elite financeira, o encarcerou, e depois o expulsou do país: se refugiou, antes, na Bolívia e depois no Chile. Neste tempo, ensinou nas mais prestigiosas universidades dos Estados Unidos, europeias e no próprio Chile. Em 1980, foi chamado a presidir o “Departamento da Educação do Conselho Mundial das Igrejas”, em Genebra (Suíça). Por dois anos, foi secretário do “Departamento da Educação”, no governo da Erundina, em São Paulo. “A finalidade da educação – ele ensinava – é libertar o homem fundamentalmente da ignorância e da exploração”.

Paulo Freire, de formação católica, descobriu que, pelo pecado do primeiro homem, a humanidade ficou dividida em dois grupos contrapostos, oprimidos e opressores, representados por Caim e Abel. Esta luta se prolonga no nosso sistema neoliberal, que busca o desmonte dos Direitos Humanos, o empobrecimento crescente das classes humildes e o enriquecimento cada vez maior das elites financeiras, nacionais e internacionais. A “opção preferencial pelos pobres” significa, hoje: amar estar ao lado dos “perdedores”, na esperança de que os oprimidos, tomando consciência de sua condição social, sentirem a necessidade de se unir e lutar para afirmar sua dignidade e seus direitos. Morreu, em 2 de maio de1997.

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(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano e vigário cooperador da paróquia São José, Serra-ES.)

 

Foto do destaque: Arquivo TC Digital

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