Por
Yuri Scardini
Jornal Tempo Novo
Com a crise sanitária causada pelo novo coronavírus e as políticas de distanciamento social orientadas pelos organismos mundiais de saúde, os pequenos negócios são os primeiros a sentir o baque da desaceleração econômica. Nessa entrevista o superintendente do Sebrae-ES, Pedro Rigo, detalha as medidas que o órgão está tomando para dar suporte ao setor durante e após a crise. De acordo com ele, o subproduto econômico mais perene da pandemia é a demissão, que deve ocorrer em massa pelos próximos meses, uma vez que os pequenos negócios são responsáveis por mais de 400 mil postos de trabalho com carteira assinada no Espírito Santo.
Como o Sebrae do Espírito Santo está acompanhando as consequências da pandemia do coronavírus nas micro e pequenas empresas do Estado?
R: Temos acompanhado de muito perto esta crise que afeta de forma brutal os pequenos negócios. Este setor é o que mais sofre com esta pandemia. Foi intensificada a abordagem de atendimento remoto e criada a plataforma de apoio do portal ‘Por Onde Começar’ (http://sebrae-porondecomecar.com.br). A plataforma tem como objetivo apoiar empresários de micro e pequenas empresas e toda a sociedade a enfrentar este momento com união e soluções: conteúdo, cursos e soluções gratuitamente.
Pedro Rigo é o superintendente do Sebrae no Estado do Espírito Santo. -Foto: Divulgação
Os estudos incluem também os microempreendedores individuais?
R: O MEI hoje é dos principais públicos atendidos pelo Sebrae. Podemos dizer que é a parte que mais rápido foi atingida por esta pandemia. O Espírito Santo tem hoje um total de 414.053 empresas ativas, sendo 250.442 microempreendedores individuais (MEI) e 163.611 micro e pequenos empreendedores (ME/EPP), que em março tinha um total de 405.874 empregos de carteira assinada.
Quais as conclusões que foram tiradas até o momento? Perda de vendas? De receitas? De postos de trabalho? Falta de insumos? Perda do capital de giro?
R: O Sebrae tem estudado muito os impactos que esta crise tem provocado em todos os segmentos dos pequenos negócios. Nosso observatório tem identificado que os impactos têm diferentes intensidades nos diversos setores da economia, mas a redução do faturamento é comum a todas as empresas. Como disse, uns têm sido atingidos mais fortemente que outros, que ainda conseguem manter um nível de faturamento, precário, mas importante neste momento, como há alguns poucos setores que conseguem se posicionar nesta crise com oportunidades de negócios pela atividade que exerce. O desemprego na microempresa ainda não foi medido, os dados de março ainda não foram divulgados pelo Caged/Rais, mas há sim uma expectativa de demissões realizadas neste período, muito causado pelas incertezas e falta de capital de giro, que é comum a este setor mesmo em tempos normais.
É possível estimar o percentual que o setor representava no PIB do Estado?
R: 27% do PIB capixaba.
O que você calcula que irá acontecer com as empresas do setor até o fim da pandemia?
R: Ainda teremos um período de baixa forte na economia. Mesmo que o isolamento seja reduzido nos próximos dias, o comportamento do consumidor é ainda uma grande incógnita, ninguém é capaz de dizer como o mercado irá se comportar. O que o Sebrae tem feito é apoiar empresas que desejam se reposicionar para ter outras alternativas de negócios e vendas. Novos modelos de negócios irão surgir.
E depois, quando a pandemia for controlada?
R: Estas empresas sairão desta crise muito enfraquecidas e irão precisar muito de apoio e incentivo.
O Sebrae está capacitado para dar suporte técnico e orientação aos empresários do setor quando a pandemia acabar? Ou o próprio Sebrae também terá se se reinventar?
R: O próprio Sebrae está revendo seu modelo de atuação, e de certa forma já estamos fazendo esta construção desde o ano passado. Aproveitamos este momento de crise e estamos avançando internamente na construção desta reinvenção, mas já conseguimos apresentar ao mercado nesta crise um Sebrae com mais conteúdo digital.
Os postos de trabalho voltam na quantidade que foi perdida, ou muitos ficarão perdidos mesmos?
R: Na minha avaliação, os postos de trabalho já vinham perdendo sua característica tradicional. Há muito tempo o trabalho de carteira assinada vem sendo substituído pela ocupação, uma nova leitura de trabalhadores informais, ou mesmo formal, com a política do MEI, que completou 10 anos no Brasil. Penso que parte desses empregos que se perderam durante a crise não volta com carteira assinada, e aí que entra o Sebrae como apoio a este grande número de pessoas que precisarão de muito apoio.
Quais os ramos de atividades que estão sofrendo mais?
R: Setor do comércio varejista de forma geral, setor de estética e beleza, artesanato e produtos de artefatos em geral, promotores de vendas em geral, setor do turismo e promoção de eventos, agências de viagens, bares e restaurantes, fabricação caseira de doces e salgados, vendas realizadas por ambulantes em geral, autopeças e oficinas mecânicas, indústrias em geral, ou seja, são muitas as atividades que estão sendo impactadas por esta crise.
Os levantamentos de vocês contemplam todos os municípios do Estado ou concentrado em alguma região?
R: O Sebrae atua em todo o território capixaba e nosso monitoramento é geral.
As ajudas governamentais têm chegado a esse público, ou está só no campo das palavras?
R: Este é o grande problema que enfrentamos hoje, são muitas as medidas anunciadas, mas que demoram muito a chegar nas empresas que tanto precisam.

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