CARLOS PETROCILO

Foto do Instagram de Kaká.

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Recém-formado no curso de gestão de esportes da Fundação Getúlio Vargas, o ex-jogador Kaká, 37, fez sua estreia em uma nova carreira nesta semana. Durante palestra em São Paulo na noite de terça-feira (22), sorriu ao encarar os presentes e dizer “vocês são minhas cobaias”, enquanto iniciava a apresentação de slides.

Na plateia da Casa do Saber, além de familiares do ex-atleta, havia cerca de 40 pessoas, a maioria empresários e gestores, além de “coaches” que trabalham com atletas em final de carreira. O evento era fechado para participantes de um curso da instituição.

Durante a fala de aproximadamente 1 hora e 20 minutos, o ex-meia de São Paulo, Milan, Real Madrid, Orlando City e seleção brasileira evocou suas conquistas e derrotas em campo para traçar paralelos com planos de carreira, gestão de pessoas e espiritualidade.

“Tive uma lição de como a preparação, quando não é bem feita, prejudica e muito”, afirmou ao apontar para o telão, que exibia a capa da revista Placar de maio de 2006, com ele à frente de Adriano, Ronaldinho e Ronaldo. A chamada dizia: “Eles não podem jogar juntos”.

O “quadrado mágico”, como ficou conhecido o quarteto, era a grande aposta da seleção brasileira na Copa do Mundo daquele ano, disputada na Alemanha, mas não jogou bem e sucumbiu diante da França nas quartas de final.

A equipe treinada por Carlos Alberto Parreira acabou marcada de forma negativa, principalmente pelas críticas à má forma física de Ronaldo.

“Essa foi uma das seleções mais fortes em relação a talento que o Brasil já teve. Todos eram os melhores da posição”, disse. “Mas não nos preparamos e, com isso, não aumentamos a nossa chance de vitória. Talento não é suficiente.”

Foto do Instagram do Kaká.

Antes daquela Copa, Kaká já havia enfrentado uma outra derrota traumática. Em maio de 2005, na Turquia, pela final da Champions League, o Milan vencia o Liverpool por 3 a 0 na etapa inicial, mas sofreu três gols em seis minutos no segundo tempo. Nos pênaltis, os ingleses levantaram a taça.

“Infelizmente eu estava nesse jogo, mas felizmente eu estava nesse jogo. O que posso fazer se o resultado não está no meu controle? Esse time [do Milan] tinha uma das melhores zagas do mundo e sofreu três gols em seis minutos”, afirmou.

As quedas para Liverpool, em 2005, e França, em 2006, são apontadas por ele como as lições mais importantes para alcançar o auge da sua carreira na temporada de 2007.

De volta ao Milan após o Mundial na Alemanha, ele iniciou o que chamou de “batalha” para aprimorar aspectos físicos, psicológicos e espirituais.

Kaká então pergunta para o público: “sabe o que acontece quando você se prepara?” e dá início ao vídeo da decisão da Champions de 2007. Dessa vez, os italianos venceram o Liverpool por 2 a 1.

No telão, o capítulo sobre preparação termina com fotos dos troféus da Champions, Supercopa da Uefa e do Mundial de Clubes da Fifa, seguido do vídeo da premiação de melhor do mundo em 2007, em que ele superou Messi e Cristiano Ronaldo. “Meu 2007 foi mágico, não?”, indagou.

Kaká se define como um “frango” na adolescência, por seu físico franzino. Na época, ele foi diagnosticado com atraso de dois anos no desenvolvimento ósseo. “A determinação é o motorzinho do sonho. Esse momento me ensinou a ter determinação, porque eu competia dois anos abaixo dos demais”, recordou.

Ele teve que fazer aulas de natação três vezes por semana, as quais considerava entediantes, e por conta da fragilidade perdia oportunidades nas categorias de base.
“As coisas não dependiam de mim, aprendi a gostar dessa palavra [paciência], que significa esperar fazendo o bem. Com 16 anos veio o estirão e não parei de crescer”, contou.

No período em que ele vivia a expectativa de ser promovido ao time profissional do São Paulo, com 18 anos, sofreu um acidente que quase pôs fim ao sonho de ser atleta profissional, em outubro de 2000.

Durante um passeio de final de semana em Caldas Novas (GO), ele colidiu com o irmão, Digão, após mergulhar na piscina. Fraturou duas vértebras na região do pescoço. Sem saber da gravidade, ainda treinou por dois dias depois do choque.

“O médico disse que, nesse caso, o cara nem anda mais. Embora tenha nascido num lar cristão, é muito importante termos as nossas experiências, e eu tive minha experiência com Deus nesse dia”, disse.

Evangélico, Kaká frequentou assiduamente a igreja Renascer em Cristo até agosto de 2010. Em um dos templos em São Paulo, ele casou com Carol Celico, em 2005 [a união terminou em 2016], e expôs a taça de melhor do mundo de 2007. Atualmente é noivo da modelo Carol Dias.

Recuperado depois de quatro meses usando um colete cervical, o meia despontou para o futebol brasileiro no dia 7 de março de 2001, ao marcar os dois gols do São Paulo na vitória sobre o Botafogo por 2 a 1 e conquistar o torneio Rio-São Paulo.

À época, o nome dele era Cacá. Numa ação de marketing em meio ao assédio da imprensa pelo título, o pai alterou o nome para Kaká, um aceno para sua única patrocinadora na época, a marca de chuteira Kelme.

O relacionamento do atleta com o São Paulo chegou ao final em meados de 2003. O estopim foi o dia em o time acabou eliminado pelo Goiás na Copa do Brasil, e Kaká deixou o campo sob vaias.

Na mira de clubes do exterior, ele pediu para o pai aceitar a proposta do Milan de US$ 8 milhões (R$ 32 milhões em valores atuais), contrariando a diretoria tricolor, que buscava uma oferta maior. Determinado a sair, o atleta abriu mão da sua participação de 15% no valor da venda.

A concorrência com o brasileiro Rivaldo e o português Rui Costa era dura, mas, em poucos meses de Milan, Kaká caiu nas graças do técnico italiano Carlo Ancelotti -a parceria entre eles durou seis anos.

“[A vaia] foi um dos dias mais difíceis da minha carreira, porque [o São Paulo] foi onde cresci e estava sendo humilhado pela situação. Quinze dias depois, veio a proposta do Milan. Entendi que aquela reação, por mais que fosse ruim, foi uma ajuda para eu realizar meu sonho de jogar num clube europeu”, afirmou.

Um outro exemplo de ter escapado do pior dado por Kaká durante a palestra foi o fato de ter não participado da Copa do Mundo de 2014, e consequentemente da derrota do Brasil por 7 a 1 para Alemanha nas semifinais.

Depois de quatro anos turbulentos no Real Madrid, em parte prejudicado por lesões, ele pediu para voltar para o Milan, em 2013, na expectativa de fazer boas atuações e ser convocado para aquela Copa. Luiz Felipe Scolari o deixou de fora.

Amigos e familiares tentaram consolar Kaká, que acompanhou o Mundial no Brasil das arquibancadas após participar das três edições anteriores.

“Cinquenta dias depois [entre a convocação e o 7 a 1], os mesmos amigos ligam e falam que eu tive a sorte de não jogar aquela Copa”, contou aos risos. “Temos que pesar na balança. Há coisas que queremos muito, mas alguém nos resguarda de algo pior.”

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