O maior evento, que dividiu em duas a história humana; o maior paradoxo da fé cristã; o mistério mais gozoso da Divina Revelação; a pedra de tropeço, que torna poeira todos os raciocínios humanos; o evento, que marcou uma viragem substancial, na evolução da raça humana, é o Natal do Senhor: “o Verbo, que se fez carne”. Ao assumir nossa condição humana, o Filho de Deus devolveu ao homem o que ele tinha perdido, no início dos tempos: a filiação divina e a herança eterna. O Imenso, o Eterno, o Criador do “cosmos” torna-se uma criança desvalida, chorona, faminta, sedenta do leite materno, necessitada da proteção paterna, para comungar conosco as alegrias e os sofrimentos de nossa vida humana.

Historicamente, o Natal é o primeiro ato da Paixão do Senhor: ao nascer, lhe foi recusado uma pousada; teve, como abrigo, uma gruta húmida e insalubre e, como berço, uma manjedoura improvisada. Ele –Força, Poder e Glória infinita– optou por entrar a fazer parte da categoria dos oprimidos e marginalizados, considerados, “raça maldita e escória da humanidade”. Sofreu a fuga e o exílio.  “Em tudo foi igual a nós – diz Paulo – exceto o pecado”.

Desde o início, o magistério da Igreja condenou as doutrinas do arianismo e macedonismo por negarem a divindade deste Menino e do nestorianismo, monofisismo, docetismo e agnosticismo, por contestarem sua humanidade. No Natal do Senhor se realizam dois eventos admiráveis: Deus desce sobre a terra e o homem sobe aos céus.  Nas narrações mitológicas, os deuses desciam sobre a terra por um breve período, sem, porém, misturar-se com os homens, para não perder sua dignidade e felicidade; depois voltavam para o Olimpo. No cristianismo, ao invés, Deus desce sobre a terra para ficar para sempre conosco: quis partilhar nossa aventura humana e nos revelar o segredo da verdadeira felicidade, já agora.

Aos seus discípulos, o Divino Mestre recomendou: “Ao organizar uma festa, não convite parentes, amigos e vizinhos ricos, que poderiam retribui-los, mas os pobres, os cegos e os aleijados”, pois o segredo da verdadeira felicidade é o amor gratuito e generoso para com o próximo e a recompensa eterna. O Natal do Senhor pretende nos treinar em vencer o egoísmo que, desde o nosso nascimento, nos possui e nos reeducar ao dom gratuito de nós mesmos aos outros, como, também, dar-nos a chave para sair da crise, em que nos encontramos: amar ao próximo como Jesus nos amou.

Celebrar o Natal é acolher o Filho de Deus em nossa vida e aderir aos valores, que Ele veio testemunhar. Mais do que presentes, ele nos oferece o presente de sua presença: Ele não vem; já está! Amar a todos, por primeiro e sempre, e amar os que não são amados nos faz semelhantes a Ele. No Brasil, haverá pão, casa, saúde, instrução, trabalho para todos, na medida em que renunciamos aos nossos privilégios e partilhamos o pão com os mais necessitados. Faremos, então, uma experiência sem igual e teremos, já nesta vida, um momento de felicidade. Seja feliz neste Natal!

(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano e vigário cooperador da Paróquia São José, Serra-ES.)

Foto do destaque: TC Digital

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