LUCAS BOMBANA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Agentes do mercado financeiro receberam de maneira bastante positiva o que chamam de “recado das urnas” no primeiro turno das eleições neste domingo (2).

Além de uma distância menor que a apontada pelas pesquisas entre os dois principais postulantes à presidência, eles festejaram a tendência mais conservadora ou centrista do novo Congresso e dos governos estaduais a partir de 2023.

Para eles, isso indica que o eleitor aponta para um trajeto mais ao centro, o que reforça a perspectiva de continuidade de uma política mais liberal -com mais liberdade de mercado- e favorece uma estabilidade maior na economia.

Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress

“Até para se ter governabilidade, é difícil com essa composição do Congresso imaginar um Executivo sem responsabilidade fiscal ou com pautas populistas de esquerda, que é o que mais preocupa o mercado”, diz Luis Felipe Amaral, sócio fundador e gestor da Equitas.

“O grande destaque da eleição, que explica a reação do mercado, foi a composição do Congresso mais para o centro-direita, que torna improvável a aprovação de pautas econômicas à esquerda, como, por exemplo, revogar a reforma trabalhista. Assim, seja quem for o presidente, não devemos ter uma guinada econômica”, endossa Luiz Fernando Alves, gestor da Versa Fundos de Investimento.

Como reflexo da votação, os mercados apresentam um desempenho bastante positivo nesta segunda-feira (3), com uma queda em torno de 4,1% do dólar por volta das 13h30, e uma valorização de aproximadamente 4,5% do Ibovespa.

CEO da gestora Mauá Capital e ex-diretor do BC (Banco Central), Luiz Fernando Figueiredo diz que os resultados das urnas indicaram que o bolsonarismo ganhou um espaço que as pesquisas de intenção de votos não previam no Congresso (tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado) e nos governos estaduais.

“Isso tem um significado muito importante, quase mais forte até que a diferença de votos entre o Bolsonaro e o Lula muito menor do que o esperado, embora esse seja um segundo elemento também muito importante”, diz Figueiredo.

O resumo da ópera, diz o CEO da Mauá, é que tanto Lula quanto Bolsonaro devem adotar durante a campanha para o segundo turno um discurso mais voltado ao centro, uma vez que foi essa a direção da votação no país.

Além disso, o resultado apertado na disputa pela Presidência pode levar o candidato petista a ser mais claro a respeito da política econômica que pretende adotar em seu governo, afirma Figueiredo.

“Essa perspectiva reduz muito a chance de radicalismo de lado a lado, o que é uma coisa muito boa para o país. E, corretamente, os mercados estão reagindo muito bem”, diz o ex-BC, acrescentando que o desempenho positivo das Bolsas no exterior também contribui para a forte alta das ações no Brasil e para a queda do dólar.

Na mesma linha, o sócio fundador da gestora Adam Capital, André Salgado, diz que o relacionamento de Bolsonaro com o Congresso deve melhorar em caso de reeleição, tendo em vista o tamanho da bancada de direita e centro-direita a partir de 2023.

E, em caso de vitória de Lula, as urnas mostram um conservadorismo persistente, que fará o petista se posicionar mais ao centro, acrescenta Salgado. “Vejo os resultados com otimismo.”

“O Lula chegou à frente de Bolsonaro no primeiro turno, só que a vitória teve um gosto de derrota”, diz André Gordon, sócio fundador e gestor da GTI Administração de Recursos.

Enquanto o partido de Bolsonaro adotou uma bem-sucedida estratégia de formar uma ampla base de apoio no Congresso, o PT trabalhou por liquidar a fatura no primeiro turno e fracassou, avalia Gordon.

“Para mim não foi surpresa. Estava me amparando mais no Paraná Pesquisas, que teve um grau de acerto maior”, afirma o gestor da GTI.

Ele observa também que o número maior de votos para Tarcísio de Freitas, do Progressistas, que superou na reta final o petista Fernando Haddad, fez as ações da Sabesp disparem na Bolsa nesta segunda.

Os papéis da empresa de saneamento avançavam cerca de 15% no início da tarde, com os investidores apostando em um processo de privatização em caso de vitória do candidato apoiado por Bolsonaro no estado.

Segundo Gordon, além de ver com bons olhos um governo mais liberal e com apoio no Congresso, se Bolsonaro for reeleito, a passagem para o segundo turno também melhora as expectativas de um eventual governo petista. “Caso o Lula ganhe, certamente vai precisar ir em direção ao centro, com o mercado cogitando nomes mais pró-mercado na Economia, como o [ex-presidente do Banco Central Henrique] Meirelles.”

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