ALEX SABINO
DOHA, QATAR (FOLHAPRESS) – No Qatar há dois dias para o Mundial de Clubes, o Liverpool tem uma preocupação a mais, além da questão esportiva. Apoiado pelo técnico alemão Jurgen Klopp, o clube inglês quer evitar a todo custo que sua presença no país seja usada de forma política pelo regime qatari.

Foto: Liverpool/Divulgação.

Para os torcedores locais, a principal atração do torneio é o atacante egípcio Mohammed Salah, camisa 11 do Liverpool. Há 300 mil pessoas nascidas no Egito vivendo em Doha.
O Mundial faz parte de uma ofensiva de relações públicas do Qatar para melhorar sua imagem e atrair mais turistas, diversificando uma economia que hoje depende de petróleo e gás natural. O ápice da estratégia será na Copa do Mundo de 2022.
O país vive embargo econômico de seus vizinhos por supostamente apoiar grupos terroristas, o que a família real nega. A nação também é acusada de violar direitos humanos de trabalhadores imigrantes de Índia, Bangladesh e Paquistão, entre outros países.
Por esse motivo, o Liverpool decidiu que o elenco ficaria hospedado no hotel Sheraton de Doha. A primeira oferta do comitê organizador era o ainda mais luxuoso Marsa Malaz Kempinski, localizado em ilha na baía de Doha e apelidado de “pérola”.
Os dirigentes do clube inglês enviaram carta à Fifa e ao Qatar declinando da oferta e solicitando alternativa de hospedagem.
O Marsa Malaz Kempinski é acusado de pagar menos do que o salário mínimo vigente aos seus trabalhadores imigrantes. Seguranças contratados ganhariam cerca de R$ 40 por dia para turnos de 12 horas em temperaturas superiores a 45ºC.
A direção do hotel nega qualquer infração às leis trabalhistas vigentes no Qatar, mas o comitê organizador atendeu ao pedido do Liverpool para agradar aos ingleses.
“Eu tenho opinião sobre futebol e sobre outras coisas também. Eu tenho de ser influente no futebol, mas outras pessoas têm de ser influentes na política. Eu gosto de ser perguntado sobre isso, mas sou a pessoa errada para responder”, disse Klopp, quando questionado nesta terça (17) sobre a presença da equipe no Qatar e os direitos humanos no país.
O clube manifestou à Fifa suas preocupações a respeito da politização da participação no Mundial. Ouviu que isso não aconteceria.
Os cartazes anunciando a competição nas ruas de Doha têm como protagonista Salah, mas também há imagens de jogadores de todas as demais equipes do torneio.
Uma das questões levantadas por dirigentes e motivo de protestos de ativistas é a situação da população LGBT no Qatar. Pelas leis da nação árabe, a homossexualidade é ilegal e motivo para prisão. Essa é uma das questões culturais e de costumes que preocupam também para a Copa do Mundo de 2022.
Para melhorar a percepção a respeito do Qatar no Reino Unido, o comitê organizador do Mundial de Clubes convidou o fundador do grupo de torcedores LGBT do Liverpool, Paul Amann, para visitar Doha.
“Meu marido não queria ir, mas discuti com as autoridades a questão dos direitos de homossexuais e fui bem recebido. Voltaria sem problema algum”, disse ele.
Os pedidos do Liverpool aconteceram pelo medo de ser visto como avalizador do governo do Qatar, um emirado absolutista e hereditário.
“Todos nós fomos muito bem recebidos e é tudo muito bem organizado. Mas estamos aqui para representar o Liverpool antes de tudo. Fomos convidados. As decisões têm de ser questionadas antes. A minha opinião é que todas as pessoas deveriam ser tratadas iguais”, finalizou Klopp.

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