Um jornal do Rio de Janeiro trouxe, ultimamente, a notícia de um comerciante, que foi preso por ter feito da bandeira do Brasil um pano para limpar o balcão de sua loja. O pano da bandeira tinha adquirido um novo significado: ser o símbolo da Pátria. Como nas fotografias lembramos pessoas, que amamos, assim, nas imagens dos Santos, recordamos os amigos de Deus, os campeões da fé, os mártires da caridade, nossos modelos na fé: “Morreram, mas, ainda falam. Lembrai-vos dos que vos pregaram a Palavra de Deus, considerando o fim de sua vida, imitai-lhes a fé” – diz São Paulo aos Hebreus.

As imagens sempre estiveram ligadas ao culto, pois podemos falar do mistério de Deus, apenas por meio de símbolos. “Imagem” (em grego, “eikôn”, daqui o termo, ícone) –na Bíblia– recorda: “Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou: homem e mulher os criou”. Isto significa: todo ser humano é “ícone” de Deus; pertence totalmente a ele; sua vida é vivida em plenitude, na medida de sua comunhão com Deus.

A imagem é, assim, um trampolim, que recorda pessoas especiais em nossa vida; o ídolo (em hebraico, “pessel”), ao invés, representa o termo final da representação: a imagem é relativa e transparente; o ídolo, absoluto e cego. Deus, no livro do Êxodo, não proíbe o “eikôn” –fazer, venerar imagens– mas, adorar os “pessel” – os ídolos: no Templo, manda fazer imagens, porque Ele está a favor delas. Proibiu fazer imagens dos “pessel” (deuses-ídolos pagãos), pois, enquanto Ele dá plenitude de vida e esperança, o ídolo, além de ter uma existência precária, engana e mata. Na Igreja Católica, não existe idolatria: a honra e glória é dada só a Deus. No “Glória” da Missa, o povo canta: “Só Vós sois o Santo; só vós, o Senhor; só vós, o Altíssimo”.

É significativo, na Bíblia, de como ela apresenta a Deus: oleiro, médico, visitante, pastor, rocha, vinhateiro, esposo, pai, amigo, aliado. O Novo Testamento ressalta, de modo especial, a figura de Cristo: “Imagem visível do Deus invisível”. O Verbo Eterno do Pai, encarnando-se, fez cair por terra a proibição das imagens – se, por acaso, estivessem proibidas. Mateus e Marcos sublinham: Cristo “não ensinava a não ser por imagens”. A proibição das imagens tornaria Cristo um fantasma: negando sua Encarnação, anula-se nossa redenção. Paulo declara: “a cobiça é uma idolatria”; nunca as imagens.

Não foi a tradição veterotestamentária, que proíbiu as imagens, mas, o islamismo. O 7º Concílio da Igreja, o IIº Concílio de Niceia (787), declarou a proibição das imagens “a maior de todas as heresias”. O uso delas, na evangelização, marcou um enorme progresso humano e espiritual dos povos, mormente, dos povos latino-americanos, que sempre tiveram sua religiosidade, ligada às imagens. O analfabetismo no campo, inclusive, na cidade, tornou quase imprescindível recorrer a elas para elevar as camadas mais pobres da população. A purificação da religiosidade popular e um melhor conhecimento bíblico são um desafio, que a pastoral latino-americana, hoje, é chamada a enfrentar, para uma autêntica evangelização.

(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano.)

 

Foto do destaque: TC Digital

 

 

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