FLÁVIA MANTOVANI
VIÇOSA, MG (FOLHAPRESS) – No momento da explosão que destruiu mais da metade de Beirute, o médico libanês Faysal Tabbara, 26, estava em seu dia de folga, em casa. O chão tremeu, uma grande massa de ar entrou pelas janelas, que haviam se quebrado, e ele ouviu um barulho ensurdecedor.
Correu para o porão, junto com a família, mas mal teve tempo de se recuperar do susto: em seguida já chegou uma mensagem do hospital onde ele trabalha avisando que o plano para desastres havia sido ativado. Pegou seu carro e, em dez minutos, estava entrando no pronto-atendimento, onde é médico residente na área de medicina de emergências.
Esse hospital, ligado à American University, é o segundo mais perto do porto, onde ocorreu a explosão. O mais próximo foi totalmente destruído e não estava atendendo pacientes. Ao menos 145 pessoas morreram e 5.000 ficaram feridas.
Faysal viu alguns desses feridos tendo que caminhar, cobertos de sangue, para procurar atendimento. A seu setor de emergência, chegaram mais de 400 pacientes no espaço de duas horas. Cerca de cinco horas após o ocorrido, todos os leitos e andares do hospital estavam ocupados. Novos casos só eram admitidos no pronto-socorro, e os que precisavam de internação foram transferidos para outros centros médicos.
Os ferimentos de quem chegava eram variados: sangramento intracraniano ou intra-abdominais, lacerações no fígado, fraturas, contusões, lacerações no crânio ou na pele causadas pelos vidros quebrados. Muitos chegavam e em seguida eram declarados mortos, outros morreram durante o atendimento.
Faysal está há três dias intubando pessoas, fazendo ressuscitações cardíacas, estabilizando os pacientes críticos que precisam de cirurgias urgentes, fazendo suturas, diagnosticando sangramentos internos.
Na entrevista, ele é rápido para explicar a parte técnica dos atendimentos, mas sua voz embarga ao falar do que aquilo significou para ele -algo que “poucas palavras conseguiriam descrever”.
“Foi de partir o coração ver centenas e centenas de pacientes cobertos de sangue, os feridos graves chorando de dor na porta do nosso setor de emergência, corpos no chão do hospital. Mães em agonia por terem perdido seus filhos, pais chorando por terem perdido entes queridos”, afirma.
“Cada profissional que estava trabalhando ali naquele momento ficou dominado pelo impacto psicológico e emocional. Foi uma tragédia gigante, que sempre estará impregnada no coração dos libaneses.”