MARIANA GRAZINI E AMANDA LEMOS

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Setores exportadores se preocupam com as relações entre Jair Bolsonaro (PSL) e o presidente recém-eleito na Argentina, Alberto Fernández.

Na avaliação de um grande industrial, se Bolsonaro entrar em colisão com Fernández, pode perder oportunidade de negociar com um país que está fragilizado, porque, neste momento, a Argentina precisa muito mais do Brasil do que o contrário. Um sinal de apoio brasileiro poderia estimular o vizinho a se manter em uma agenda mais moderada.

O que preocupa empresários é que as primeiras interações foram conflituosas. Para um representante de um dos maiores setores exportadores, embora o argentino tenha provocado Bolsonaro ao fazer gesto de “Lula Livre” com as mãos, o presidente brasileiro poderia ter relevado, sem reagir no mesmo tom.

No domingo (27), Fernández publicou nas redes sociais uma foto fazendo sinal de “L” com os dedos, em sinal de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao que Bolsonaro respondeu dizendo ser uma afronta à democracia brasileira.

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Entidades de grandes setores exportadores ainda avaliam o resultado da eleição. Procurada pela reportagem, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) afirmou que não irá comentar o assunto.

A AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil) alerta que se o Brasil criar dificuldades, pode perder um comprador importante. “Não podemos abrir mão da Argentina porque a China pode ficar muito feliz com qualquer prejuízo na relação”, afirmou ele.

Segundo Castro, a Argentina deve ainda adotar barreiras à importação brasileira, e o setor automobilístico deve ser o mais afetado. A relação entre os dois países, de acordo com ele, é importante para favorecer negócios entre o Mercosul e a União Europeia.

“O melhor é deixar a poeira assentar e não fazermos comentários contra a Argentina”, disse Augusto de Castro.

Após o resultado da eleição, no domingo, Synésio Batista, presidente da Abrinq (Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos), disse ter recebido telefonema de seus colegas representantes da indústria argentina questionando sobre como continuariam os negócios.

Batista afirmou ter assegurado que as relações com os vizinhos não mudam em nada com a nova gestão. “Se ficarmos com implicância, vamos perder. Os argentinos continuam sendo nossos parceiros, sem essa história de ideologia. Temos um acordo de complementação industrial e vamos continuar. Eles fornecem partes e peças e nós terminamos aqui no Brasil”, diz Batista.

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Em nota, a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) disse que a eleição de Fernández “traz novamente o fantasma de possíveis barreiras aos calçados brasileiros exportados para a Argentina”.

“É natural que exista o receio [da volta do protecionismo]. Durante boa parte de governo de Cristina Kirchner, hoje vice-presidente na chapa eleita, tivemos problemas com a liberação de licenças, com prejuízos que chegaram a mais de US$ 200 milhões”, afirmou Haroldo Ferreira, presidente da entidade, em comunicado.

A Argentina, de acordo com a entidade, é o segundo destino internacional do calçado brasileiro, importou 7 milhões de pares pelos quais foram pagos US$ 77 milhões, quedas de 25,5% em volume e de 33% em receita na comparação com 2018.

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