A Igreja deseja ser a Igreja de todos, de modo especial, a Igreja dos pobres” – disse o Papa João 23 um mês antes da inauguração do Concílio Vaticano 2º, em 11 de setembro de 1962. Essas palavras encontraram um eco profundo nas Igrejas latino-americanas: apesar de suas imensas riquezas naturais, os povos deste continente sofrem, de fato, penúria e opressão.

O coração da Igreja, assim, ficou repleto de amor pelas classes mais pobres e emarginadas e se comprometeu a lutar por sua libertação integral. Sem buscar objetivos políticos – candidatos ou partidos – a Igreja reafirmou sua missão específica: modelar as consciências a partir do Evangelho e do testemunho de seus filhos.

Ao convocar, em 2016, o Ano Santo da Misericórdia, Papa Francisco disse: “Contemplar, neste período, a misericórdia divina, que ultrapassa qualquer limite humano”. Fruto mais belo do Ano Santo da Misericórdia foi a instituição do “Dia Mundial dos pobres”, que neste ano ocorrerá domingo próximo, 14 de novembro.  Obedientes à ordem do Senhor: “Dai-lhes vós mesmos de comer” e recordando que um dia seremos julgados (Hb 9,27) sobre o amor ao próximo mais necessitado (Mt 25, 45), somos chamados a ser solidários com os irmãos, que padecem fome e privações.

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A pandemia da Covid 19 agravou ainda mais as desigualdades sociais e os sofrimentos dos mais fragilizados, principalmente das mulheres e das crianças, torturados dia e noite pela fome. No mundo se contam mais de 811 milhões de pessoas que passam fome: deste total, mais de 118 milhões começaram a passar fome com a pandemia; em 2020, houve um agravamento dramático da fome no mundo e do número dos refugiados – segundo as agências da ONU.

No Brasil, 19 milhões vivem na miséria absoluta; 14 milhões no desemprego; 20 milhões de trabalhos precários e a maior parte da população, pela alta dos preços e pela inflação, comem pouco ou mal para manter-se em saúde. Hoje, um dos maiores desafios da humanidade é: derrotar a fome crescente no mundo; vencer a insegurança alimentar; assegurar uma alimentação básica para todos; garantir a sustentabilidade do ambiente e produzir uma comida em benefício de todos. Grande paradoxo: enquanto 3 bilhões de pessoas, hoje, não comem o suficiente, 2 bilhões sofrem por obesidade e por sedentarismo.

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No dia 23 de outubro, em Brasília, houve a Sexta Semana Social Brasileira. Na “carta aberta” publicada, foram abordados três temas: “Trabalho, Terra, Teto”. Foi sugerido: reduzir a jornada de trabalho –trabalhar menos para trabalhar todos–; instituir uma renda básica universal para os mais vulneráveis; apoiar as Cooperativas de produção de renda e de agricultura familiar; implementar a reforma agrária popular; demarcar as terras indígenas e quilombolas; lutar contra a grilagem de terras e a privatização das águas; valorizar os partidos e os sindicados.

Não queremos morrer nem de fome –finalizou a carta– nem de balas e nem de vírus. Queremos viver!”. Que a vida seja priorizada, o bem comum promovido, o clamor dos pobres e da natureza atendido e que a justiça e fraternidade prevaleçam sobre os mecanismos de morte.

 

(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano e vigário cooperador da paróquia São José, Serra-ES.)

 

Foto: Arquivo TC Digital

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