MATEUS VARGAS E RAQUEL LOPES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O anúncio da aplicação da segunda dose e a dose de reforço da vacina da Janssen para a Covid-19 feito pelo Ministério da Saúde nesta terça-feira (16) pegou gestores de saúde, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e até o laboratório produtor da vacina de surpresa.

Segundo anúncio da pasta, o imunizante, que vinha sendo usado em dose única, agora passará para o regime de duas aplicações, como já acontece com as injeções da Pfizer, AstraZeneca e Coronavac.

A segunda dose deve ser aplicada dois meses após a primeira na população adulta. Já a dose de reforço deve ser usada após cinco meses do esquema primário completo. A recomendação é que seja com imunizante diferente, preferencialmente da Pfizer.

Apesar de ainda não existir um pedido formal à Anvisa do laboratório sobre aplicar a segunda dose e a dose de reforço, o Ministério da Saúde pode fazer esse tipo de definição.
Isso porque a legislação deixa margem para o ministro “determinar a realização de ações previstas nas competências” da Anvisa, como decidir sobre a aplicação das vacinas.

Mas o ministro só pode tomar este tipo de iniciativa em casos “que impliquem risco à saúde da população” ou em cenários de inação da Anvisa, ainda de acordo com as regras vigentes.
Na leitura de técnicos da agência, o ministério deveria formalizar que agiu no lugar do órgão regulador, em publicação no Diário Oficial da União, por exemplo, além de explicar as razões para essa iniciativa.

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Técnicos da Anvisa também foram pegos de surpresa pela decisão de estender a dose de reforço para todos os adultos. Antes a aplicação estava restrita a pessoas com mais de 60 anos ou de grupos de risco.
Os membros da agência haviam se manifestado nas primeiras discussões sobre a dose de reforço. Eles estranharam que não foram chamados agora.

Apesar do mal-estar, a Anvisa não quer entrar em conflito com o ministério. O temor é de que os questionamentos alimentem discursos antivacina.
Ainda não há estratégia fechada entre os membros da agência, mas a ideia preliminar é cobrar do ministério os dados que embasaram a decisão sobre a Janssen, além daqueles sobre a ampliar o grupo apto a receber dose de reforço.

Um ponto que preocupa a Anvisa é sobre como organizar o monitoramento das reações adversas das vacinas. Na leitura da agência, este é um dos temas que deveria ter sido previamente debatido com o ministério.

Os anúncios desta terça também pegaram de surpresa parte da equipe do ministro Marcelo Queiroga. As decisões sobre a Covid-19 têm sido tomadas em grupos restritos e o PNI (Programa Nacional de Imunizações) está sem comando desde o fim de junho.
O argumento de auxiliares de Queiroga é de que tanto a mudança sobre a aplicação da dose da Janssen e a ampliação do público da vacina de reforço seguem experiências internacionais.

Em nota, porém, a Anvisa disse que iniciativas deste tipo foram previamente discutidas com as agências reguladoras em diversos países.
“Antes de incorporar a dose de reforço das vacinas, países como Estados Unidos, Canadá, Indonésia, Grã-Bretanha, Israel, membros da Comunidade Europeia e outros submeteram a estratégia à avaliação prévia das suas autoridades reguladoras. Primariamente, a terceira ou dose de reforço foi indicada para pessoas com sistema imunológico enfraquecido, idosos e profissionais de saúde”, disse a agência brasileira.

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No mesmo texto, a Anvisa afirma que é importante diferenciar o esquema vacinal previsto em bula e estratégia de vacinação e reforço.
O esquema previsto em bula e aprovado pela Anvisa, quantidade de doses e intervalos, indica a forma de uso da vacina que, segundo os estudos, produzem os melhores resultados de imunização.

Já a estratégia de vacinação e reforço é uma decisão da autoridade de saúde sobre como determinado imunizante será aplicado na população de forma a se obter a melhor cobertura vacinal, e as estratégias de monitoramento das reações adversas.
A agência reguladora disse ainda que a decisão sobre dose de reforço deve considerar o cenário epidemiológico, os estudos de efetividades, a circulação das cepas variantes e a segurança das vacinas, bem como uma efetiva estratégia de monitoramento das reações adversas e captação de sinais de interesse para a farmacovigilância.

Segundo a Anvisa, a previsão é que até a próxima semana a Janssen entregue os estudos para Anvisa sobre a eficácia e segurança da dose reforço da sua vacina.
Segundo o Ministério da Saúde, a orientação segue tendência mundial. No entanto, a decisão da agência reguladora americana considerou a segunda dose como reforço. Todos os adultos que receberam a Janssen, de dose única, há mais de dois meses são elegíveis para o reforço.

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“Quem tomou a Janssen completará o esquema vacinal. Embora seja de dose única, compete a nós [Ministério da Saúde] as definições. A pessoa tomará duas doses, em um intervalo de dois meses”, disse a Secretária Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, Rosana Leite de Melo.

O anúncio foi feito em entrevista coletiva do Ministério da Saúde nesta terça, quando a pasta informou que a dose de reforço contra Covid estava liberada para toda a população adulta do país.
Após o questionamento de quando as pessoas poderão procurar os postos de saúde, Melo disse que o Ministério da Saúde deve liberar as vacinas a partir de sexta (19) para estados e municípios.

“Nós distribuímos ordinariamente duas pautas [por semana]. Essa da Janssen é a partir de sexta-feira se forem todas liberadas. Elas chegaram ontem e vão ser distribuídas com todas as informações”, disse.

A Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson, declarou que uma segunda dose de sua vacina contra Covid-19, aplicada cerca de dois meses depois da primeira, aumentou a eficácia para 94% nos Estados Unidos contra formas moderadas ou graves da doença.

A proteção com uma dose única da vacina, que é usada em diversos países, inclusive no Brasil, é de 70%.

A farmacêutica acrescentou que a segunda dose aumentou os níveis de anticorpos de quatro a seis vezes. Quando dada seis meses depois da primeira, os níveis de anticorpos aumentaram 12 vezes.

 

Foto do destaque: Kevin David/A7 Press/Folhapress

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