ALEX SABINO E CAIO CARRIERI
DOHA, QATAR, E LIVERPOOL, REINO UNIDO (FOLHAPRESS) – Por trás do sorriso muito branco depois do clareamento artificial, do cabelo tingido com luzes e das roupas extravagantes, Roberto Firmino é uma pessoa tímida. Idolatrado no Liverpool e adorado pelo técnico Jürgen Klopp, o atacante passa longe do mesmo reconhecimento no seu próprio país.

Foto: Reprodução.

Na quarta-feira (18), em Doha, ele mais uma vez pagou a fé do treinador com gol. “Eu fiquei mais do que feliz com o que ele fez”, disse Klopp.
A frase veio depois da vitória do time inglês por 2 a 1 sobre o Monterrey (MEX), na semifinal do Mundial de Clubes, no Qatar. O gol da vitória foi de Firmino e marcado aos 46 min do segundo tempo. Ele havia saído do banco seis minutos antes.
A explosão de Klopp, que pulou na área técnica e abraçou reservas, não foi apenas pelo resultado que garantiu o confronto com o Flamengo, neste sábado (21), na final. Firmino evitou a disputa da prorrogação para um time que está desgastado fisicamente.
O alemão escalou time quase todo reserva. Dos titulares, apenas o goleiro Alisson, o lateral Robertson e o atacante Salah começaram em campo.
No sábado, Firmino (ou “Bobby” como Klopp o chama) pode voltar a formar um dos tridentes mais letais do futebol mundial, ao lado do senegalês Sadio Mané e do egípcio Mohamed Salah.
Maior artilheiro brasileiro na Premier League, com 52 gols em 154 jogos, o maceioense de 28 anos é muito admirado no Liverpool.
Firmino tem a sua música-homenagem como uma das mais populares no estádio de Anfield, e o cântico pode ecoar pelo Khalifa International Stadium durante a decisão. Deverá ser cantado não apenas pelos ingleses, mas também pelos qataris, que preferem o Liverpool ao Flamengo.
Em tradução do inglês, os versos da canção dedicada ao brasileiro seriam “Existe algo que a Kop [setor da torcida] quer que você saiba/ O melhor do mundo, o nome dele é Bobby Firmino/ Nosso número nove/ Dê a bola para ele e ele vai marcar gol sempre/ Si Señor/ Dê a bola para Firmino e ele vai marcar gols”.
O trecho em espanhol tem explicação. Os torcedores criaram a música após um pedido público de Klopp.
“Existe uma música para o Bobby Firmino? É só ‘Bobby Firmino’, certo? Isso não é uma música. Acho que ele realmente merece uma. Por isso quero encomendar uma música para o Bobby…”, disse o treinador em 2018.
Quando os torcedores decidiram atender ao apelo, os problemas de violência na final da Libertadores daquele ano, entre Boca Juniors e River Plate, eram assunto na Inglaterra. Com a exposição do caso, os torcedores adaptaram o ritmo das arquibancadas argentinas “”e mantiveram parte do idioma”” no tributo.
O canto tem a melodia da música “Y dale alegría a mi corazón”, de argentino Fito Páez.
Em jogos no Brasil, Firmino é quase ignorado pela torcida. Não há cantos para ele. Foi assim no título da Copa América, disputado no país neste ano. O atacante marcou dois gols, um deles na vitória contra a Argentina, na semifinal.
Atual titular no ataque de Tite, ficou relegado à reserva na Copa do Mundo na Rússia, apesar das fracas atuações de Gabriel Jesus, então seu concorrente direto por uma vaga. Mesmo na condição suplente, Firmino marcou um gol. Jesus passou o torneio em branco.
“Ele não fala sobre essa falta de reconhecimento”, diz o ex-jogador Luciano Lopes, mais conhecido como Bilu, conterrâneo de Maceió que ajudou Firmino a conseguir testes no início da carreira. “Ele é muito frio, caladão, tranquilo e não se abala com isso.”
O amigo diz que a trajetória de Firmino explica essa diferença de prestígio na Inglaterra e no Brasil. “Talvez isso seria diferente se ele tivesse jogado em um clube do Sudeste.”
Na Inglaterra, o fato de o atacante não ser titular de Tite também assusta.
“Bobby seria titular absoluto da seleção inglesa”, disse à reportagem Michael Owen, ex-atacante do Liverpool (1996 a 2004) e da Inglaterra (1998 a 2008).
Firmino até tentou jogar no São Paulo, mas não foi aceito. Em 2008, estava de saída da base do CRB, e um DVD com seus lances chegou nas mãos de Bilu. De acordo com o mentor, a avaliação no clube paulista foi malfeita, após apenas um treino com bola. Dali, Bilu bateu na porta de um ex-clube seu para apresentar o projeto de jogador: o Figueirense.
Um dos destaques na campanha que promoveu o clube à Série A do Brasileiro em 2010, Firmino foi vendido ao Hoffenheim sem atuar na elite do país. Em junho de 2015, os alemães negociaram o ainda meia com o Liverpool por 41 milhões de euros (R$ 184,5 milhões em valores atuais), recorde na Bundesliga na época.
No Liverpool, virou xodó da fanática torcida. “Nós adoramos quem se dedica muito, tem qualidade e carisma”, avalia Matt Ladson, editor do “This is Anfield”, site independente dedicado aos Reds.
“O Bobby tem tudo isso. O enorme empenho dele pode passar despercebido pela TV. Posso dizer que não o trocaríamos por nenhum jogador.”
Nem Jurgen Klopp.

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