NATHALIA GARCIA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Expandir o Pix para a América Latina é a prioridade do Banco Central na internacionalização do sistema de pagamentos instantâneos do Brasil, disse Roberto Campos Neto, presidente da autoridade monetária, nesta sexta-feira (30).

Segundo o chefe do BC, Colômbia, Uruguai e Peru mostraram interesse em desenvolver uma ferramenta nos mesmos moldes do Pix, tendo um baixo custo -foram R$ 5 milhões investidos no projeto- e um “time to market” (tempo de lançamento no mercado) em linha com a experiência brasileira.

“A gente teve nessa semana uma reunião com presidentes dos bancos centrais da Colômbia [Leonardo Villar], do Uruguai [Diego Labat] e do Peru [Julio Velarde Flores]. Eles falaram: ‘A gente quer fazer um Pix'”, disse Campos Neto, em evento organizado pela startup DrumWave, em São Paulo.

Pix é o pagamento instantâneo brasileiro. O meio de pagamento criado pelo Banco Central (BC) em que os recursos são transferidos entre contas em poucos segundos, a qualquer hora ou dia. É prático, rápido e seguro. – Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

“A gente abriu, então, uma sessão em novembro, com seis dias, em que a gente vai mostrar tudo o que fez no Pix para quem quiser. Nossa prioridade agora é a América Latina, mas tem chance de expandir bastante”, acrescentou.

Em agosto, Campos Neto contou que vinha conversando bastante com o banqueiro central da Colômbia sobre o tema. Na ocasião, disse que o Canadá também está interessado no Pix por ser “muito barato”.

O presidente disse ainda que o Pix “está só no começo” e que “tem muita coisa pela frente”.

CRÍTICA AO USO ELEITORAL DO PIX
Um dia antes, em coletiva sobre o relatório trimestral de inflação, Campos Neto rebateu o uso político do Pix pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em sua campanha de reeleição, dizendo que o sistema de pagamentos instantâneos é uma conquista dos funcionários do BC, que trabalharam “dia e noite” durante a pandemia para lançar a ferramenta em novembro de 2020.

“O Pix é uma conquista do Banco Central, dos funcionários do Banco Central”, afirmou. “O Pix vai continuar existindo inclusive quando eu não estiver mais aqui, o Pix não foi um projeto meu.”

Quanto ao desenvolvimento do real digital, Campos Neto afirmou nesta sexta que o BC pretende ampliar esforços na criação da CBDC (Central Bank Digital Currency) brasileira.
“A gente tem o tema da prova de conceito que está desenvolvendo. Deveria ter um piloto da CBDC pronto no ano que vem, espero que no começo do segundo semestre [de 2023]”, disse.

Devido à greve dos servidores do BC, a execução dos projetos selecionados para o laboratório de inovação Lift Challenge sobre real digital sofreu atraso no cronograma. Os trabalhos, que deveriam ocorrer entre março e julho, tiveram início apenas em setembro e vão agora até janeiro do próximo ano.

“Esse é o projeto que dou mais atenção hoje, o projeto que a gente precisa acelerar mais, a gente tem reuniões semanais. A gente inclusive está fazendo um movimento interno no BC para suportar mais esse projeto”, acrescentou.

Campos Neto também falou sobre a regulação de criptoativos no evento em São Paulo. “O BC nunca esteve trabalhando tão próximo da CVM (Comissão de Valores Imobiliários) como está nesse momento. A gente acha que não tem muito tempo a perder nesse tema de criptoativos”, afirmou.

O PL (projeto de lei) que impõe regras ao mercado de criptoativos foi aprovado em abril de maneira simbólica no Senado e aguarda análise na Câmara dos Deputados, antes de ir à sanção do presidente Bolsonaro.

“O projeto não tinha segregação de contas, a gente achou que precisava incluir, é um período meio complexo agora para fazer muitas mudanças em projetos porque a gente está muito perto das eleições, mas a gente vai voltar nisso”, afirmou.

O presidente do BC disse em eventos anteriores que o PL representa um primeiro passo na regulamentação do mercado e há um entendimento de que o tema da segregação patrimonial volte ao texto em tramitação. Para Campos Neto, os parlamentares estão abertos ao diálogo.

A proposta vem sendo chamada por alguns parlamentares como “marco regulatório das criptomoedas”, por estabelecer diretrizes para operações financeiras realizadas com criptoativos em território nacional.

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