ISABELA BOLZANI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quem entrou na Bolsa brasileira nos últimos dez anos sentiu muita oscilação, o que é da natureza do mercado de renda variável. No entanto, o investidor que suportou o sobe e desce das cotações conseguiu rentabilidade real, descontada a inflação, superior à obtida nos mercados latino-americanos e, em alguns períodos, até acima dos índices das Bolsas dos EUA.

O desempenho do Ibovespa em comparação ao de indicadores de Bolsas do continente faz parte de um um levantamento da Economatica. O cálculo é feito com base na rentabilidade dos índices, descontada a inflação respectiva de cada país.

O melhor desempenho ocorreu no acumulado dos cinco anos encerrados em 20 de abril. Nesse caso, o Ibovespa teve rentabilidade real (descontada a inflação) de 81,9%, ficando atrás apenas do Nasdaq Composite, da Bolsa de tecnologia de Nova York, que teve rentabilidade de 150,5%.

Os índices americanos S&P 500 e Dow Jones registraram ganhos de 76,8% e 68%, respectivamente.

Segundo o gerente de relação institucional e comercial da Economatica, Einar Rivero, o Ibovespa tem demonstrado bom desempenho ante seus pares latinos nos últimos dez anos.

“Mesmo nas janelas de três e dez anos, quando o Ibovespa perde em rentabilidade para todos os índices americanos, ele ainda supera México, Chile, Colômbia, Peru e Argentina. É relevante mostrar que a Bolsa está indo mal neste ano, convertido em dólar ou não, mas é preciso lembrar que são apenas quatro meses”, afirmou Rivero.

Na comparação de 12 meses até 20 de abril, o Ibovespa acumulou uma rentabilidade real de 43,3%, novamente superando Dow Jones (39,4%) e S&P 500 (42,7%), além de todos os seus pares latinos.

Nos últimos três anos, a rentabilidade real da Bolsa brasileira foi de 22,4% -atrás dos índices americanos, que renderam 30,3% (Dow Jones), 45,9% (S&P 500) e 81,8% (Nasdaq).

O mesmo acontece no período de dez anos, quando o ganho de poder aquisitivo da Bolsa brasileira foi de apenas 3,3%, ante 129,1% do Dow Jones, 162,2% do S&P 500 e 315% do Nasdaq Composite.

A largada neste 2021 já mostra que a nova década vai exigir sangue-frio de quem está disposto ao risco dos mercado.

Nos primeiros quatro meses deste ano, o índice acionário brasileiro registra uma perda real de 1,2%, ante ganhos reais de 8,7% do Dow Jones, 8,3% do S&P 500 e de 5,2% do Nasdaq Composite. No período, o Ibovespa ainda está acima dos índices do Peru (-9,6%), da Argentina (-19%) e da Colômbia (-10,2%), mas também perde para México (7,6%) e Chile (17,2%).

Segundo Rivero, o indicador acionário brasileiro reflete aspectos domésticos e internacionais.

“Sabemos que nos últimos quatro meses tivemos problemas referentes à nova onda do coronavírus no país e na atuação do governo no combate à doença. Mas, mesmo se observarmos nos últimos 12 meses, houve uma recuperação do poder aquisitivo do investidor brasileiro em relação ao fundo do poço que vimos em março do ano passado.”

O fundo do poço ao qual Rivero se refere é 23 de março de 2020, momento em que o Ibovespa atingiu os 63 mil pontos -pior patamar desde julho de 2017. O movimento já seguia a toada das últimas semanas: entre 9 e 13 de março, por exemplo, a B3 chegou a acionar o circuit breaker quatro vezes.

O mecanismo de circuit breaker interrompe as negociações na Bolsa de Valores quando a queda do índice Ibovespa supera 10%. Durante a interrupção, não há possibilidade de fechamento de negócios com ativos, derivativos e títulos de renda fixa privada.

Segundo analistas, os principais fatores domésticos que têm influenciado o Ibovespa principalmente no último mês dizem respeito às incertezas em torno do cenário fiscal, sanitário e político.

O cenário para 2021, permanece instável. Do lado fiscal, os investidores mantinham -e ainda mantêm- o radar na sanção do Orçamento.

Bolsonaro viveu um impasse: ou sancionava o Orçamento e corria risco de uma acusação por crime de responsabilidade ou vetava ao menos parcialmente o trecho e desagrava ao Congresso.

A decisão veio apenas na quinta (22), quando Bolsonaro sancionou o projeto aprovado pelo Congresso. Do lado sanitário, ainda preocupa a lentidão do programa de vacinação brasileiro, essencial para a retomada. No âmbito político, os investidores se preparam para acompanhar desenrolar da CPI da Covid.

A curto prazo, o cenário ainda é de incerteza e instabilidade para os investidores que estão na Bolsa brasileira, que fechou esta sexta (23) em alta de 0,97%, aos 120.530 pontos.

Foto: Pexels por Pixabay

 

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