Um aumento recente de casos de esporotricose em São Mateus foi observado desde outubro do ano passado por autoridades sanitárias. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, os casos eram esporádicos em felinos, sem casos humanos relatados. No entanto, recentemente, a Vigilância Ambiental já notificou em torno de 60 casos suspeitos no Município, entre animais e humanos.
O Ministério da Saúde explica que a esporotricose, também conhecida como doença do jardineiro e doença da roseira, é causada por um fungo do gênero sporothrix, que acomete animais e seres humanos.
A Secretaria Estadual de Saúde informa que, somente neste ano, foram realizadas 1.053 notificações de esporotricose em humanos no Espírito Santo com 578 casos confirmados. “No município de São Mateus foram realizadas 25 notificações em humanos e, destes, 5 casos foram confirmados”, aponta.
ANIMAIS
Em relação aos animais, principalmente gatos, o secretário municipal de Saúde, Henrique Follador, afirma que a metade das notificações –que são feitas por profissionais, ongs ou abrigos de animais– são relacionadas aos de vida livre, “que não são encontrados durante as buscas”. Ele ressalta que em torno de 30% dos casos são conhecidos pela Secretaria, que representa a parcela dos animais domiciliados ou que receberam algum tipo de auxílio e obtiveram cura.
De acordo com Henrique, cabe à Vigilância Ambiental em Saúde realizar as atividades relacionadas aos fatores ambientais que podem propiciar a propagação da doença, como a notificação –que é obrigatória no Espírito Santo–, o monitoramento e a orientação da população.
“Quanto ao tratamento dos animais, se ele possui tutor, será de responsabilidade do mesmo. Entendendo que nem todos os tutores têm condições de ofertar o tratamento ao animal, está tramitando na Secretaria de Saúde um processo para contratação do serviço a ser ofertado às famílias de baixa renda e também às ONG’s de proteção animal e protetores independentes” – frisa o secretário.
“Neste processo, serão contemplados com exames específicos para detecção da esporotricose no animal suspeito, a entrega da medicação específica e a posterior castração obrigatória do animal” – pontua.
Segundo Henrique, neste ano já foram realizadas ações orientativas nos bairros Guriri e Pedra D’água, junto com a Superintendência Regional de Saúde e mais de 200 agentes de saúde e de combate a endemias, que inclusive passaram por treinamento específico.
Evolução da doença
Henrique ressalta que a esporotricose não é considerada grave em humanos e que, se tratada precocemente, tem cura total, sem maiores consequências. “No entanto, como qualquer doença, ela é perigosa para pessoas e animais imunocomprometidos, cujas defesas naturais do organismo estão prejudicadas”, alerta.
O secretário orienta tutores de animais contaminados a observarem a presença de feridas com as seguintes características: úmidas, ulceradas e que não cicatrizam.
“Ao identificar esses sinais é necessário procurar atendimento veterinário para que o diagnóstico seja realizado e o tratamento realizado por completo. É muito importante que o animal receba a medicação todos os dias, sem falhar, junto ao alimento ou logo após uma refeição” – enfatiza.
Segundo Henrique, manter o animal dentro das residências, impedido que ele tenha acesso à rua é muito importante para a prevenção. “O contato íntimo entre animais propicia o contágio, que se dá através de arranhaduras e mordeduras quando os animais brincam ou brigam uns com os outros”.
Apresentação da doença tem formas variadas, aponta especialista em felinos
O veterinário clínico especialista em felinos, Marlom de Souza, que atua em São Mateus, diz que observou aumento na quantidade de gatos contaminados, e até alguns cachorros, nos últimos meses no Município. Em entrevista à Rede TC de Comunicações, disse que colegas veterinários também compartilham a mesma percepção.
Marlom explica que a esporotricose é uma doença causada por fungo. “As formas de apresentação da doença mais comuns são as lesões cutâneas. Essas lesões podem começar avermelhadas, com um nódulo, e em alguns animais já aparecem feridas abertas, que sangram e normalmente não cicatrizam, mesmo que o tutor cuide com pomadas. Ou seja, ela se apresenta de diversas formas porque não tem uma característica única” – afirma.
De cordo com Marlom, em casos mais graves, a esporotricose pode ser sistêmica. “Ela infecta o pulmão e outros órgãos internos, testículos e articulações”, aponta. A dica do especialista é para o tutor ficar atento e procurar ajuda, tanto para os animais quanto para os humanos que tenham sido infectados.
Ele detalha que, em humanos, a transmissão pode ocorrer através dos animais contaminados ou por meio de contato direto com o solo onde o fungo vive e se prolifera. “Pessoas que moram ou trabalham na zona rural, com jardinagem, que tenham contato com matéria orgânica, devem usar proteção constante, como luvas, roupas de manga longa e higienizar a pele após as atividades”, orienta.
“Em relação aos animais, é preciso evitar o contato direto com os que tenham feridas. E para que eles não se contaminem é preciso evitar que tenham acesso livre à rua. Mesmo dentro de casa, é preciso evitar o acúmulo de matéria orgânica, como folhagens, e sempre cuidar do solo” – indica.
TRATAMENTO
O veterinário explica que, após o diagnóstico, o tutor deverá isolar o pet do convívio com outros animais e do contato com humanos, de preferência colocá-lo em espaço que seja fácil de higienizar. “Sempre desinfetar para evitar que o fungo continue se prolongando. Quando for medicar o animal, usar luvas. O tratamento é contínuo, de 30 a 60 dias, após o desaparecimento das lesões, dependendo de onde o animal foi acometido” – enfatiza.
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