A SEXTA FEIRA SANTA é o único dia, ao longo do ano, em que a Igreja celebra a “adoração da Cruz”. O evangelista João foi quem melhor compreendeu este mistério da nossa salvação: apresenta, no seu Evangelho, a Cruz, como um trono, sobre o qual Cristo reina e a nova árvore da vida; sinal supremo do amor de Deus pelo homem e resposta superabundante à nossa sede de amar e sermos amados. Para os Romanos, a crucificação era um suplício para os escravos; para os judeus, uma maldição divina. Jesus abraça a cruz para revelar seu amor gratuito e incondicional por nós.

Adoração? Veneração? Imagens? Porque a Igreja usa esta expressão, “adoração”, que parece, escandalosamente, imprópria? Não é um lenho, que se adora, mas, Aquele que nele está pregado, Jesus Cristo, o Verbo humanado. As imagens têm o mesmo sentido: não se homenageia a imagem, mas, o que ela representa. Como as nossas famílias amam recordar, nos retratos, os momentos felizes, vividos juntos; como, os povos prestam homenagem, com estátuas, aos vultos mais significativos de sua história, assim, a Igreja é uma família, que ama recordar os seus campeões da fé e os mártires da caridade e apresentá-los à nossa imitação e intercessão.

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Os cristãos ortodoxos vão além: consideram as imagens sagradas como uma transparência do divino, que transmitem –numa espécie de “encarnação” e “osmose”– uma energia espiritual benéfica. Uma crise iconoclástica deflagou, na Igreja, nos séculos VIII e IX: alguns eram a favor; outros, contra (os iconoclasta): estes últimos influenciados pelo islamismo. O Concílio de Niceia II (787) aprovou o culto das imagens, distinguindo claramente entre “latria” (adoração) e “dulia” (veneração). As imagens sagradas estão na linha da veneração: “Cristo, Imagem visível do Deus invisível aprovou a confecção e o uso das imagens” – finalizou.

Mateus e Marcos sublinham, de fato: Cristo “não falava a não ser por imagens”. “Quando vires Aquele, que não tem corpo, tornar-se homem por teu amor, então, poderás representar seu aspecto humano. Pinta e expõe à vista de todos Aquele, que te amou e por ti se fez homem” (São João Damasceno, 675-749). No Antigo Testamento, Deus ordenou fazer imagens; proibiu, apenas, as das divindades pagãs (os ídolos): “Não terás outros ídolos (deuses – “pessel, em hebraico), perante Mim; não farás imagens e esculturas deles” (Êx 20,3-4). As imagens são um trampolim, que nos elevam até Deus e às realidades celestes: “Faça dois querubins de ouro maciço, para pô-los em cada lado da arca da aliança” (Êx 25,18).

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O Salmo canta: “Deus está sentado sobre querubins”.  “Querubins de madeira preciosa estavam à guarda da arca da aliança” e “as paredes do Templo estavam revestidas das imagens de querubins” (1Rs 6,23-28). Também, a grande cortina da arca da aliança estava enfeitada com querubins.  Uma serpente de bronze, içada numa haste, no meio do acampamento, salvou o povo da destruição. São Paulo declara: “a avareza” é um ídolo (Ef 5,5). As imagens não são divindades, mas, escadas, que elevam a mente o coração a Deus e ao seu mistério salvífico.

(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano e vigário cooperador da Paróquia São José, Serra-ES.)

Foto do destaque: TC Digital

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