A mais profunda aspiração do coração humano é viver uma vida em plenitude e para sempre. Pelo corre-corre da vida e seus atropelos, arriscamos viver uma vida vazia e sem sentido. O espírito de Babel –a pretensão do homem de bastar a si mesmo, construindo, sozinho, a sua própria vida à revelia de Deus– nos espreita continuamente. “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os construtores” – adverte o Salmo 127.  “A satisfação ilimitada do ter, poder, saber e prazer não gera felicidade, nem sequer saúde psíquica, ou mental, mas, tirania” – afirma Sigmund Freud.

Poucas são as oportunidades, que, hoje, nos são oferecidas para uma vida espiritual, madura e sadia.  Sem uma adequada espiritualidade, grande é o perigo de cairmos na armadilha de uma vida, de aparências e acessórios, esquecidos daquilo, que é o mais importante e essencial: abraçar, na vida, um ideal e valores, que a poeira da história não destrói.  O Evangelho nos revela o segredo de uma vida, vivida em plenitude: “Eu sou a videira –diz Jesus– e vocês são os ramos; fiquem unidos a mim e eu ficarei unido a vocês”. Afirmação sugestiva, que responde às inquietações mais profundas do coração humano: só uma vida, vivida em comunhão com Jesus –Ele é Deus, que não se engana, nem engana– é uma vida, digna de ser vivida.

A imagem da videira a encontramos, também, no Antigo Testamento, em que o povo de Israel era comparado com uma videira: prefiguração da videira “verdadeira”, o novo Israel, Cristo e a sua Igreja, prolongamento dele no tempo e no espaço. Cristo é a videira de que a Igreja é um ramo, que veio substituir o antigo povo de Deus, que produziu uvas amargas de rebeldia. “A Igreja –diz Paulo– é o Corpo, cuja cabeça é Cristo; é a esposa, de que Cristo é o Esposo”. “O Reino de Deus –diz Jesus na parábola dos vinhateiros homicidas, referindo-se aos judeus– vai ser retirado de vocês e dado a um povo, que produzirá frutos”.

“Aut vitis, aut ignis” (videira, ou fogo) – adverte Santo Agostinho. Sem a seiva, os ramos ficam secos: somente seguindo Jesus, teremos uma vida, vivida em profundidade, animados pela “força interior” de seu Espírito, poderemos realizar nossa missão no mundo: ser “sal da terra, luz do mundo e fermento de uma nova humanidade”.  Jesus, ao falar de “dar frutos”, alude ao “grão de trigo”, que morre para viver centuplicado.

Flávio Josefo, escritor judaico do primeiro século, diz que, no Templo de Jerusalém, um dos adornos mais admiráveis era uma enorme videira de ouro, símbolo de Israel, com cachos de uvas grandes, quanto um homem. Cristo é a fonte; a Igreja, o rio: por ela, as águas vivas da salvação de Cristo chegam até nós. Fortalecidos por esta “força interior”, poderemos produzir obras de vida eterna, pois “tudo o que não é eterno de nada vale” (São João Bosco). Doce é a certeza, que nos advém deste Evangelho: Ele nos ama e jamais nos abandonará, pois Ele é “Emanuel”, Deus conosco.

(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano.)

 

Foto do destaque: TC Digital/Arquivo

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