Cristóvão Colombo, em 1492, relatou ao rei e à rainha da Espanha o resultado de sua expedição: havia descoberto um “novo mundo”! Deveriam tê-lo chamado de “Colômbia” por ter sido descoberto por Cristóvão Colombo e não de “América”:  nome, que lhe foi dado por um cartógrafo que, erroneamente, atribuiu a descoberta à Américo Vespúcio, outro grande navegador italiano. Desde então, os povos da Europa passaram a olhar para o Sul do mundo com vivo interesse e renovada esperança, pois viam, nestas novas terras, a possiblidade de um mundo diferente, mais humano e solidário, respeitoso da liberdade e da dignidade humana.

Desde o início da colonização, os missionários questionaram o tipo de presença, adotado pela Igreja junto aos povos das terras descobertas, pois imitava o poder colonial, prepotente e excludente. Bartolomeu de Las Casas, Antônio de Montesinos, Gabriel Malagrida, Antônio Viera, Frei Caneca, Antônio Conselheiro, José Ibiapina, Dom Vital enfrentaram o poder colonial, defendendo o povo oprimido, à semelhança dos Padres da Igreja do primeiro milênio do cristianismo, como Santo Ambrósio, São Gregório de Nissa, São Gregório Magno, Santo Agostinho, Santo Jerôlamo, São João Crisóstomo e São Basílio Magno, defensores dos pobres perante a arrogância do Império.

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No dia 11 de setembro de 1962, um mês antes da abertura do Concílio Vaticano IIº, Papa São João 23º surpreendeu a todos, ao afirmar: “A Igreja é de todos, de modo especial, dos pobres”. Graças a estas palavras proféticas, irrompeu no Concílio a ideia de uma Igreja não pelos pobres – como era antigamente – mas à Igreja dos pobres. Nas catacumbas de Santa Priscilla, em Roma, um numeroso grupo de bispos assinaram o “Pacto das Catacumbas”, em que se comprometiam a viver a pobreza afetiva e efetiva, renunciando a todo privilégio e mundanidade. Em 1968, em Medellín (Colômbia), os bispos latino-americanos fizeram sua a “Opção preferencial pelos pobres”.

Os pobres são aqueles para os quais a vida se tornou um fardo pesado e humilhante. Os pobres – biblicamente falando – são aqueles que a sociedade sacral-teocrática-judaica considerava “impuros e malditos”. A nossa civilização ocidental, fundada sobre o sistema econômico capitalista-neoliberal, não é menos excludente e desumana: atribui, de fato, a causa da pobreza a um destino cego e cruel e à preguiça das classes marginalizadas, não a um mal, fruto do egoísmo humano, que privilegia uma elite financeira em detrimento de todo um povo.

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A opção da Igreja pelos pobres é cristológica, não ideológica, ou sociológica: apesar de amar a todos por igual, Jesus amou, de modo preferencial, os pobres, fazendo deles o sacramento de sua presença. Os cristãos são chamados a trabalhar para tornar a vida, em nosso continente, mais digna de ser vivida e feliz para todos. A história demonstra que a fé cristã foi sempre fermento de um modo novo de viver, onde a dignidade humana e a solidariedade eram promovidas e priorizadas. A Teologia da Libertação nasce, neste contesto: crê firmemente que a Encarnação do Filho de Deus veio elevar todo ser humano à dignidade de filho de Deus e herdeiro de seu Reino.

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(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano e vigário cooperador da Paróquia São José, Serra-ES.)

 

Foto do destaque: TC Digital

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