MARCELO ROCHA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal enviou nesta quarta-feira (2) um relatório ao STF (Supremo Tribunal Federal) no qual há uma troca de mensagem inédita entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça Sergio Moro.

No diálogo, o presidente afirmou que aqueles auxiliares que o contrariam deveriam pedir demissão, sugerindo a Moro que este poderia ser o seu caso.

Foram analisadas no relatório da PF, datado do dia 23 de junho, mensagens trocadas entre Bolsonaro e Moro no período entre 12 a 23 de abril.

No dia 12 de abril, o presidente enviou ao então ministro uma matéria do jornal Valor Econômico na qual Moro opinava sobre eventual ordem de prisão contra pessoas que descumprissem o distanciamento social, uma das medidas de combate à pandemia do coronavírus.

“Se esta matéria for verdadeira: Todos os ministros, caso queira contrariar o PR, pode fazê-lo, mas tenha dignidade para se demitir. Aberto para a imprensa”, afirmou Bolsonaro.

Moro, então, respondeu: “O que existe é o artigo 268 do Código Penal. Não falei com imprensa”.

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O relatório da PF faz parte do inquérito que apura se houve interferência de Bolsonaro no comando da corporação. A polícia pediu nesta terça-feira mais 30 dias para concluir as investigações.

Outra troca de mensagens incluída pela PF no relatório é do dia 22 de abril, em que Bolsonaro encaminha a Moro reportagem publicada pelo site O Antagonista, com o título “PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas”.

Assim descreveu a PF sobre o conteúdo da mensagem: “A reportagem afirma que ´o primeiro inquérito [Fake News] já tem uma relação de 10 a 12 deputados bolsonaristas’, ‘com o novo inquérito, dificilmente vai dar para parar a investigação’, ‘deve ser por isso que

Jair Bolsonaro quer trocar o diretor-geral da PF’ e ‘grupo palaciano, coordenado pelo vereador Carlos Bolsonaro’.”

“Destaca-se, portanto, suposto receio do PR em haver ‘deputados bolsonaristas’ sendo investigados pela PF no inquérito de Fake News”, frisou a polícia.

Embora em estágio avançado, as investigações pouco andaram nas últimas semanas porque segue pendente de decisão uma outra solicitação feita pela PF.

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Antes do recesso de julho, os investigadores pediram ao STF para cumprir uma série de diligências, incluindo o depoimento do presidente da República.

Na ocasião, o relator do caso, ministro Celso de Mello, não o despachou. Voltou das férias e pouco depois saiu de licença médica sem se manifestar a respeito.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, concordou com a diligência e defendeu ao STF que Bolsonaro seja questionado sobre como prefere depor.

A pedido de Aras, o inquérito foi aberto em abril com base nas declarações que o ex-ministro da Justiça Sergio Moro fez contra o chefe do Executivo.

Moro deixou o ministério alegando que Bolsonaro tentou interferir no comando da PF e na Superintendência do Rio de Janeiro da corporação para proteger familiares e aliados de investigações. O jornal Folha de S.Paulo antecipou que o ministro deixaria o cargo.
Bolsonaro nega as acusações.

Até o momento, a PF já colheu depoimentos de Moro, delegados, ministros e políticos para embasar o relatório final.

Os elementos colhidos até agora no inquérito que apura as acusações de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal reforçam a narrativa do ex-ministro sobretudo em relação ao Rio de Janeiro.

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Oito depoimentos prestados confirmaram a versão de Moro de que o presidente, desde agosto do ano passado, queria trocar o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo. E sete acrescentaram o desejo dele de mexer no comando da Superintendência do Rio.

O inquérito foi aberto pelo ministro Celso de Mello a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, a quem caberá decidir sobre denúncia ou arquivamento.

Se Bolsonaro for denunciado, a Câmara aprovar o prosseguimento e o STF aceitar a abertura de ação penal, ele é afastado do cargo automaticamente por 180 dias.

Os crimes investigados são: falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, obstrução de Justiça, corrupção passiva privilegiada, prevaricação, denunciação caluniosa e crime contra a honra.

De acordo com interlocutores do PGR, Moro pode ser enquadrado nos três últimos, e Bolsonaro, nos seis primeiros.

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