TALITA FERNANDES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Se para a classe artística a entrevista da secretária Especial de Cultura, Regina Duarte, à CNN Brasil foi alvo de críticas, no governo de Jair Bolsonaro (sem partido) a repercussão foi positiva para a atriz.

De acordo com relatos ouvidos pela reportagem, as falas de Regina na noite desta quinta-feira (7) foram bem vistas por integrantes do Palácio do Planalto e do primeiro escalão da Esplanada.

Ela chegou a ser cumprimentada pela postura em frente às câmeras.

Com isso, a secretária ganha uma sobrevida. Ela vem passando por um processo de fritura da ala ideológica do governo com respaldo de Bolsonaro.

Incomodou o presidente o fato de dentro de dois meses no cargo a atriz ter se mantido no campo da neutralidade, quando o esperado pelo Palácio do Planalto é que a Secretaria de

Cultura mantenha o clima de “guerra cultural”, com críticas à esquerda, por exemplo.
Na visão de aliados de Bolsonaro, ela que estava “em cima do muro” se posicionou mais próxima a pautas defendidas pela militância governista.

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Foi visto com bons olhos por ministros e auxiliares do presidente o fato de ela ter minimizado mortes e torturas durante a ditadura militar, elogiado e defendido o presidente publicamente e, por fim, encerrado a entrevista criticando jornalistas.

Regina, que se mantinha em silêncio desde o fim de março, quando concedeu uma entrevista à TV Globo que irritou o presidente, falou à CNN nesta quinta.

Ela demonstrou irritação com os jornalistas da emissora após a exibição de um vídeo em que a atriz Maitê Proença critica sua gestão.

“O que você ganha com isso? Quem é você que está desenterrando uma fala da Maitê [Proença] de dois meses atrás? Eu não quero ouvir, ela tem o meu telefone. Eu tinha tanta coisa para falar, vocês estão desenterrando mortos”, disse Regina, colocando fim à entrevista.

Ela também minimizou a ditadura militar, a tortura e as mortes pelo novo coronavírus, que já ultrapassam 9.000 casos no Brasil.

Na TV, a atriz cantarolou a música “Pra Frente Brasil”, que marcou a comemoração da vitória da seleção brasileira no México, em 1970, mas que foi usada politicamente pelo general Emilio Garrastazu Médici, que presidia no país naquele momento, dois anos após a edição do AI-5, que impôs uma série de restrições à democracia brasileira.

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“Cara, desculpa, na humanidade não para de morrer gente. Se você falar de vida do lado tem morte”, afirmou, indagada sobre tortura no regime militar.

Nomes ligados a Bolsonaro, como o ex-comandante do Exército general Eduardo Villas Bôas, elogiaram a postura da atriz.

“Fiquei encantado com a Regina pela demonstração de humanismo, grandeza, perspicácia, inteligência, humildade, segurança, doçura e autoconfiança que nos transmitiu”, escreveu Villas Bôas no Twitter, nesta sexta-feira (8).

“Admirei também a habilidade com que desvencilhou das armadilhas que os entrevistadores tentaram colocar a ela, que visivelmente havia se preparado para, numa atitude totalmente desarmada, abordar temas relativos a sua pasta. Apreciei a firmeza com que reagiu à desleal tentativa de confrontá-la com a igualmente artista Maitê Proença”, afirmou, parabenizando a secretária.

Villas Bôas é um importante conselheiro de Bolsonaro e ainda é visto como uma forte líder pelo meio militar.

Outro elogio feito a Regina veio do escritor e principal ideólogo do bolsonarismo, Olavo de Carvalho.

“Maitê, a Regina não tem obrigação nenhuma para com uma classe que sempre viveu de dinheiro público. Ela tem para com os milhões de brasileiros que pagam o salário dela e de toda essa maldita classe de vampiros”, escreveu Olavo em suas redes sociais na quinta.

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A mensagem foi replicada pela militância bolsonarista, que passou a elogiar a atuação de Regina depois de uma série de críticas a ela.

Nesta sexta, porém, o escritor adotou outra opinião e criticou a secretária.

“Defendi a Regina Duarte contra a Maitê Proença, mas, uma como a outra, essas véia embonecada metida a inteliquituar [sic] não há saco que aguente.”

A sinalização de Olavo, que costuma antecipar o humor da militância bolsonarista e do próprio presidente sobre determinado assunto, é vista como um fator de que, apesar da sobrevida, Regina poderá enfrentar novos processos de desgaste no governo Bolsonaro.

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