O período de chuvas intensas impactou de maneira negativa nas plantações de pimenta-do-reino e de café no norte do Espírito Santo. É o que constatam produtores rurais ouvidos pela Rede TC de Comunicações. Agora, o trabalho é de criar alternativas para superar essas perdas, como mudança de área de plantio, substituição de culturas e financiamentos da safra.

O presidente do Sindicato Rural de Jaguaré, Jarbas Nicoli Filho, destaca que a produção que mais sofrerá perdas na safra de 2023 é a de pimenta-do-reino. “A produção que vai mais impactar negativamente é a de pimenta. Houve uma grande mortalidade de plantas devido ao encharcamento do solo. O café também terá perdas, porém menores”.

Ele acredita que, para o café, a tendência é de dar um peso melhor, uma boa formação no fruto que ficou no pé. Segundo Jarbas, uma das consequências negativas é o inchamento do grão muito rápido onde a planta acaba expulsando os grãos chochos –aqueles que não conseguiram se desenvolver. “Mesmo com esse volume grande de chuva, está apontando uma produção bem próxima da de 2022. E, naturalmente, temos um crescimento muito bom de copa que vai favorecendo a produção para o próximo ano” – frisa o produtor rural e sindicalista.

PIMENTA

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Produtor agrícola em Jaguaré, com propriedade no Córrego das Abóboras, Wellington Cescon reforça que a mortandade de pés de pimenta-do-reino na região por conta do encharcamento do solo foi grande. “Segundo a Secretaria de Agricultura, a mortandade de pimenta-do-reino está em torno de 20% aqui em Jaguaré. Nós temos no município 2.500 hectares de pimentas plantados” – atesta.

Além de pimenta-do-reino, Wellington Cescom também cultiva café.
Foto : Divulgação

Ele lembra que muitas roças novas de café foram alagadas, o que pode trazer prejuízos na próxima safra e na produção de 2024. “A produção de café foi muito prejudicada pela seca que tivemos de abril até setembro de 2022. Além de muito vento, agora as chuvas. Vai impactar bastante” – enfatiza.

Em São Mateus, alguns produtores também devem ficar no prejuízo na próxima safra. É o caso de Marquiciel Capucho. “Com as fortes chuvas morreram muitos pés de pimenta e a expectativa é colher menos. Na produção, tive perda de pés de pimenta, tanto produzindo quanto novos. Foi um prejuízo de 2.580 pés de pimenta. Estava com seis meses e perdemos tudo. O planejamento para 2023 já foi impactado” – detalha.

As propriedades de Marquiciel ficam no Km 28 e Km 30, na Região dos Quilômetros. Ele ressalta que, em 20 anos, é a primeira vez que acontece alagamento no local. “Muita gente aqui na região ficou no prejuízo. O projeto agora é conseguir financiamento e, no lugar da pimenta que morreu, tentar plantar cacau. É a única solução que estou vendo. As estacas [usadas no plantio de pimenta] vou arrancar e fazer um novo plantio em uma área que não alaga e não dá encharcamento na terra” – ressalta.

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O produtor rural Marquiciel Capucho, de São Mateus, afirma que perdeu 2.580 pés de pimenta-do-reino, e que agora buscará financiamento para formar nova lavoura em local onde não alaga.
Foto: Divulgação

De acordo com os pluviômetros automáticos do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), São Mateus registrou chuvas acima de 1.200 milímetros nos meses de novembro e dezembro, volume maior do que toda a chuva que caiu durante um ano inteiro no Município entre 2014 e 2016.

 

Reservação de água

 

Jarbas Nicoli Filho ressalta que Jaguaré conta com um programa de construção de barragens que fez com que o município tenha um volume de água represado que considera muito bom.

Jarbas Nicoli Filho considera que as barragens do Município fazem com que Jaguaré tenha um volume de água represado muito bom.
Foto: Divulgação

“A segurança hídrica do município é muito grande. Porém, o que nos preocupa é que, o ano passado, com seis meses de pouca chuva, as barragens já ficaram em alerta. Tenho certeza que é preciso fortalecer ainda mais esse programa criando barragens. Não podemos dar colher de chá. A falta de chuva ou de água armazenada causa um prejuízo incalculável” – enfatiza.

 

Fruticultura recebe bem período chuvoso, mas cuidados com pragas devem ser dobrados

 

Para o produtor rural Francisco Assis de Souza Santiago, que tem propriedade com plantação frutífera na comunidade do Girau, em Jaguaré, o impacto das chuvas intensas é positivo. “No geral, num balaço, a chuva tende a ser positiva. Forte igual veio causa alguns prejuízos, mas a gente precisa dela. Neste caso, as plantas se desenvolvem melhor, os reservatórios estão todos cheios e isso deixa a gente mais tranquilo para irrigar no período que for necessário” – frisa.

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Francisco Santiago afirma que a maior dificuldade no período chuvoso foi com a logística para escoar a produção de fruticultura.
Foto: Divulgação

Ele destaca que a maior dificuldade enfrentada no período chuvoso é com a logística devido ao estado das estradas. “Eu tive problemas na logística para escoar a produção de abacaxi. O caminhão para chegar na roça teve dificuldade porque as estradas estavam ruins” – lembra.

“No caso da goiaba, as chuvas aumentam as pragas. Algumas se intensificam com as chuvas então a gente tem que diminuir o intervalo de pulverização para pulverizar mais vezes. A uva, como aumenta a umidade no período de chuvas, ela traz algumas doenças também, mas a logística foi o meu principal problema” – complementa.

 

REUNIÃO

Na manhã desta segunda-feira (16) aconteceu de forma online uma reunião da Federação de Agricultura do Estado do Espírito Santo (Faes) para discutir, entre outros temas, políticas públicas para o produtor rural além da questão da segurança rural.

Conforme detalhou Jarbas Nicoli Filho, participaram da reunião todos os diretores dos sindicatos rurais do Estado, além do presidente da Faes, Júlio Rocha, do secretário estadual da Agricultura, Enio Bergoli, o secretário estadual da Segurança Pública, coronel Alexandre Ramalho, e o deputado federal reeleito Evair de Melo.

“Isso vem neste momento para fortalecer a segurança no campo, as políticas públicas com o produtor e tentativa de alinhar junto ao secretário da Agricultura o melhoramento da agricultura do nosso Estado” – frisa o dirigente sindical.

Foto do destaque: Divulgação

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