Não deixe cair a profecia: nossa missão é transmitir ressurreição” (Pedro Casaldáliga). Pe Ignácio Ellacuria disse do bispo mártir, Oscar Romero: “Na pessoa dele, Deus passou por El Salvador”. O estilo de Deus é, de fato, permanecer em incógnito, não presencialmente, mas às escondidas, no meio de seu povo. Pessoas como Oscar Romero e Pedro Casaldáliga devem ter contrariados a Deus, pois não deixaram Ele se esconder. No jeito de ser deles, transpareceu a presença divina, como uma luz amorosa, que encanta a alma e chama à conversão e à renovação espiritual.

No dia de sua consagração a bispo, ao ser perguntado qual seria a sua prioridade pastoral na sua vasta Prelazia de São Félix do Araguaia (Mato Grosso), Dom Pedro respondeu: “Inserir-me na vida dos mais pobres e ser presença solidária na luta por sua libertação”. Seu ideal missionário era uma Igreja, testemunha do amor divino, no serviço solidário a todos, de modo especial, aos mais marginalizados. Esmerou, também, na organização interna da Igreja:  junto com a solidariedade para com os mais pequenos, zelava por sua formação bíblica, litúrgica, teológica e história da Igreja. Já nos anos ‘70, publicou “Cartilhas de catequese” e o livro “Orações da caminhada”.

Leia também:   PADRE ERNESTO ASCIONE Creio no Espírito Santo

Nasceu na Catalunha (Espanha) em 1928: lutou por 50 anos pelos direitos dos Índios e dos posseiros. Na década de ‘80, em todo Brasil o regime militar multiplicou os assassinados de “irmãos e irmãs da caminhada”: na Paraíba, Margarida Alves; em Goiás, Nativo da Natividade; em Rondônia, pe Ezequiel Ramin; em Eldorado de Carajás, a irmã Adelaide Molinari e irmã Creuza; no Estado do Espírito Santo, pe Gabriel Maire; no Pará, Dorothy Stang; no Maranhão, pe Josimo Tavares; em São Paulo, Santo Dias. Disse um dia: “Queremos nossos mártires vivos, não mortos: o martírio não é apenas uma forma de morrer; é, hoje, a maneira normal de viver a nossa fé cristã”.

Um chefe indígena repetiu o que ele disse, em Bogotá, ao Papa Paulo 6º, em 1968: “Os cristãos vieram aqui para nos dar a Bíblia, mas tiraram nossas terras; agora, nós devolvemos a Bíblia e queremos de volta nossas terras!”. Dom Pedro respondeu com humildade: “Compromisso da Igreja é hoje a inculturação: descolonizar a fé e a missão cristã!”.  Alguém observou: “Dom Pedro, a Igreja não é, nem pode ser democracia!”. Ele respondeu: “Democracia para a Igreja é pouco: o novo jeito de ser Igreja é comunhão, colegialidade”, que Papa Francisco chama de: “sinodalidade”.

Profeta e Pai dos pobres, Dom Pedro fez acontecer a ressurreição, onde reinava a morte. Uma sua canção diz: “Somos combatentes, derrotados de uma causa invencível”. Morreu com 92 anos de idade, em 2010: quis ser sepultado no cemitério dos Índios. Testemunhou com a sua própria vida o ideal evangélico de justiça e solidariedade. Seu exemplo inspire a nossa caminhada de renovação eclesial, que ele assumiu com tão grande generosidade: “Eu morrerei de pé como as árvores. Me matarão de pé. O sol, como testemunha maior, porá seu lacre sobre meu corpo, duplamente ungido” – escreveu.

Leia também:   Reconciliação das Diferenças

_____

(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano e vigário cooperador da paróquia São José, Serra-ES.)

 

Foto do destaque: Foto: Arquivo TC Digital

COMPARTILHAR

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here